Fim de expediente

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Entre uma ilustração e outra, me vejo angustiada com o tempo que não passa, era sexta feira e eu já não aguentava mais estar dentro daquela editora, ilustrando livros infantis com histórias romanticas, que só servem pra iludir e mascarar a sociedade triste em que vivemos, respiro fundo, confesso que (às vezes) sou um pouco melancólica e pessimista e talvez insuportável, mas acredito que todo grupo precisa de alguém assim, com o tempo vocês se acostumam.
Enfim acabou meu expediente e com ele vem o famoso happy hour  de sexta, mas eu já estava muito cansada e sem paciência pra beber em um bar com som alto e cheiro de fritura, é aí que eu decido comprar um vinho e escolher um livro pra ser meu companheiro da madrugada; no caminho tenho a brilhante idéia de comprar o vinho na loja de um amigo, que sabe muito bem do meu gosto e provavelmente me indicaria um livro bom também; acertei na mosca, ele me vendeu uma garrafa de vinho do Porto, tinto e suave, e ainda me indicou uma livraria, que estava dando alguns livros, afinal com todas essas tecnologias, o mundo não lê mais como antes e nesse momento as livrarias, editoras, escritores e por aí vai, estão indo a falência;
Na livraria, vejo a estante que abriga os livros gratuitos, me surpreendo ao ver autores como Eça de Queiroz. Levo um susto ao fitar dentre os livros um serzinho mui peculiar, de asas douradas e cara fechada, imaginei que era fruto da minha imaginação, o problema é que esse serzinho queria entrar em um livro, e eu que não era muito legal e muito menos gentil, me tornei dona deste mesmo livro, agora é só tocar direito pra casa e descobrir o que realmente aconteceu.

Já em casa abro o vinho escolho a taça e me deito na poltrona, abro meu companheiro misterioso e me deparo com uma bela caligrafia, parece ser um livro muito antigo, vou adentrando na história e me vejo sonhando com Paris em uma visão meio futurista com um olhar do passado, uma sensação indescritível toma meu corpo e adormeço ao fim da garrafa de vinho...
Acordo em um cenário citado no livro, Paris 2050, o problema é que avisto apenas uma parte da bela Notre Dame, alguns fragmentos de fogo e o céu todo nublado, corro para mais próximo do rio Sena e não avisto água ou algo parecido, ninguém pra me orientar, saio sem rumo e tento a todo custo me acordar. Era tudo um sonho? acho que não, até que vejo alguém ao longe correndo em minha direção, com muito medo tenho o reflexo de segurar meu escapulário e rezar para todos os santos possíveis, e de alguma forma acho que funciona, a pessoa que vem em minha direção me cumprimenta e em um ato de desespero peço explicações, ele me explica de forma breve, me conta que estamos em 2050 e que era normal pessoas chegarem alí assim como eu, sem norte nem sul, me explica que em 2048 Paris foi tomada por uma sociedade de bruxas que durante séculos planejaram esse ataque, afinal elas foram massacradas principalmente por católicos, e num ato de vingança, todos os católicos também são queimados em fogueiras, junto com bíblias e tudo que se refere ao catolicismo; entro em pânico e lhe pergunto se ele me entregaria para a fogueira também e ele se demonstra uma pessoa a quem devo confiar, confia a mim que também é católico e que não contaria a ninguém, mas que precisava tirar o meu escapulário, como forma de proteção também não deveria fazer o sinal da cruz ou algo parecido, lhe entrego e me vejo sozinha novamente, quando me dou por conta, estou caminhando, ainda sem rumo, apenas para ver um pouco da real situação da nova Paris.
Em algumas palavras, ela estava no mínimo sangrenta e em ruínas, poucos habitantes, cheiros estranhos, coisas estranhas para todo lado, não havia tecnologia alguma ali, pessoas bonitas passavam por mim o tempo todo, recebo olhares tortos até que avisto meu conhecido, ele estava me convidando a entrar em uma das casas, eu sem nem pensar, entro, mas me deparo com muitas pessoas, meu escapulário encima da mesa e logo atrás de mim sinto ele segurando e amarrando minhas mãos atrás do corpo, começo a me debater e em um flash já estou em um julgamento, a caminho da forca, desvio o olhar e vejo o serzinho de asas douradas a me fitar, pendurada a corda, que seria a minha morte, chego até a tábua falsa e passo a corda pelo pescoço e com a consciência pesada eu mesma pulo e dentro de 10 segundos já não me sinto mais...

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⏰ Última atualização: Sep 20, 2019 ⏰

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