RICHARD MASON
Era completamente complicado trabalhar e não pensar naquele garoto ao qual eu só sabia o nome. Andrey entrou na minha vida há uns três dias atrás e até agora eu não tive mais notícias dele.
Eu olhava para o relógio a todo segundo, como se esperasse por algo e aquilo estava afetado a minha cabeça que já começava a doer e não era pra menos, eu estava em um plantão de quase doze horas e estava ficando cansado. Levanto do banco e caminho até o banheiro do quartel, eu me sinta esmagado por um cansaço enorme.
Entro no banheiro e fecho a porta, quando paro em frente a pia eu reparo no meu reflexo por alguns segundos e acidentalmente me deixo vagar. Meus olhos esverdeado estavam com uma leve olheira pelas noites de sono mau dormidas, meu rosto era quadrado e anguloso, era bonito mas parecia cansado. Minha barba já saia um pouco da forma bonita que sempre estava. Meus lábios avermelhados pareciam levemente secos e a cicatriz parecia mais como um ponto estratégico para chamar a atenção, e todas as vezes que eu olhava para aquela cicatriz eu sentia raiva e de certo modo sentia medo também.
Minha pele morena estava bronzeada e em um tom quase dourado, ela parecia brilhar ainda mais pelo fato de estar bem calor e eu estar cheio de suor. Meus cabelos castanhos já precisavam ser cortados dos lados novamente, eu sempre tive a impressão que em menos de uma semana eles já estavam grandes. Meu corpo era forte e musculoso, não de uma forma exagerada, era apenas proporcional a minha altura e peso. Eu media 1, 85 de altura e pesava 78 kilos, tecnicamente meu corpo era perfeito para a minha altura.
- Richard, está aí ? - Ouço a voz de Tara me chamar após algumas batidas na porta.
- Sim Tara, estou aqui! - Exclamei lavando o rosto rapidamente e seguindo até a porta pronto para sair.
Ao sair encontro Tara encostada na parede me encarando e era estranho isso, era quase como se ela soubesse de algo do qual eu mesmo não sabia.
Por um segundo eu paro pra observar Tara. A mulher a minha frente tem vinte e cinco anos, os olhos são castanhos esverdeados, a pele é clara e os cabelos pretos. Tara geralmente usava um rabo de cavalo alto enquanto estava no trabalho, mas hoje seu cabelo curto até o meio das costas estava em um coque alto, porém era possível ver alguns fios soltos e ondulados que soltavam parcialmente do coque. Tara é alta, algo em torno de 1, 78 de altura, seu corpo e magro e delineado, o que certamente chamava a atenção de muitos homens dentro e fora da corporação.
Ela usava uma maquiagem neutra, fora um batom rosado que dava cor aos seus lábios carnudos. Ela era linda, porém não fazia meu tipo realmente.
- O que houve ? - Pergunto para ela, somente para quebrar o silêncio ao qual nos encontrávamos.
- É... Eu, nós na verdade queríamos chamar você pra beber um pouco depois do expediente. Afinal é sexta-feira e amanhã nós estaremos de folga pelo fato de cumprirmos um plantão tão longo. - Tara argumentou de forma distraída, eu já havia notado que ela sempre fazia isso quando se sentia envergonhada ou tímida.
Pensei um pouco e realmente, amanhã nós não trabalhariamos, outras pessoas estarão de plantão e eu de folga. Eu até aceitaria o convite porém eu estava cansado, exausto na verdade, o que certamente me faria recusar o convite.
- Uhm... Sabe Tara, eu não tenho dormido bem recentemente e então eu preciso de descanso, foi uma semana bem corrida, mais do que geralmente é. Não sei, apenas me sinto cansado... - Tentei recusar de uma forma simples e educada.
Obviamente aquilo não seria bem encarado por ela, parecia que eu a estava recusando, não que não fosse verdade, eu realmente estava a recusando. Ela não fazia meu tipo e eu não estava com cabeça pra flertar ou algo assim.
- Ah sim, eu entendo! - A voz de Tara não pareceu chateada, porém seus olhos não continham mais um brilho inicial igual o do momento do convite.
Tara então deu a volta e saiu pelo corredor em direção ao saguão. Caminhei até o saguão também e me sentei por ali, esperando por algum chamado. Era quase 16 horas quando o terceiro sino tocou informando que havia uma ocorrência, corri para a ambulância e por ser o primeiro a chegar já sentei no banco do motorista, Tara veio correndo e sentou-se no banco do carona, sem pensar muito eu já havia dado partida com a ambulância.
Era um acidente doméstico, houve um vazamento de gás em uma casa e isso gerou uma explosão e alguns feridos. Cheguei ao local e o primeiro que eu atendi foi um garoto de onze anos, os braços dele estavam ralados por ter sido atirado longe pela explosão. Passei alguns remédios que aliviassem a dor e para que não houvesse inflamação. O terceiro cara que atendi foi o que estava em um estado mais grave, tratavasse de um cara com queimaduras de segundo grau, sua pele possuía várias feridas abertas. Ele era o pai do garoto que eu havia atendido, pelo o que ele me disse, ele havia se queimado para salvar o filho e antes que o garoto fosse pego pela explosão ele havia jogado o filho dele no gramado da casa. O mediquei com uma pequena porcentagem de morfina e ele foi encaminhado para o hospital, eu mesmo que iria levá-lo e Tara iria atrás na ambulância o observando.
O garoto ficaria com a tia que havia chegado para levá-lo para a casa dela, a esposa do cara queimado chamado de Marcos estava em um trabalho fora da cidade. Novamente me lembrei de Andrey, o garoto do acidente de carro, será que os pais dele já haviam voltado depois de saberem que o garoto havia sofrido um acidente? Era impossível de saber e eu apenas me preocupava ainda mais com o garoto de olhos azuis que eu havia ajudado há três dias atrás.
Fui dirigindo de modo rápido até o hospital, Marcos iria precisar passar pela emergência para que fossem limpo os ferimentos e talvez precisasse passar com um cirurgião plástico. Havia uma grande probabilidade de que seu rosto ficasse com cicatrizes pelas leves queimaduras, o que preocupavam mesmo eram seus braços que foram os locais mais afetados com queimaduras de segundo grau.
Antes de entrar na sala com Marcos os médicos do hospital nos dispensaram, era sempre assim, nunca poderíamos acompanhar os pacientes depois das portas de emergência do hospital. Meu trabalho estava pronto por agora, porém não me impedia de me preocupar com o garoto de onze anos ao qual estava com a tia e a mãe em trabalho.
Me encosto na ambulância e massageio o meu rosto. O cansaço do dia estava me abatendo, minha cabeça doía levemente e o meu turno estava no fim já. Eram 17:48 e meu turno terminava as 18:00 horas. Respirei fundo e encarei o céu, o azul do céu escurecendo gradualmente, chegando a deixar o céu um pouco multicolorido. Era bonito parar um pouco o caos e apreciar o céu por um tempo, mas não durou muito já que o rádio da ambulância apitou indicando que tínhamos uma última emergência no dia. Tara entrou e dirigiu dessa vez, apenas conversávamos o necessário já que ela não parecia muito afim de conversar, eu também não estava afim.
A emergência da noite seria socorrer uma mulher que havia entrado em trabalho de parto durante um incêndio em um prédio. Teríamos que ser rápidos. Tara dirigiu da forma mais rápida e segura possível, nos fazendo chegar ao local do incêndio em seis minutos. Haviam muitos paramédicos e socorristas por ali, muitos ocupados e nos também tratamos de atender os feridos do incêndio enquanto os bombeiros tentavam apagar o fogo.
- Onde está a mulher em trabalho de parto ? - Perguntei para um bombeiro e ele apontou para um carro de polícia, a mulher encontrava-se lá dentro. Caminhei até ela e a observei. - O que houve ? - Perguntei assim que ela me olhou.
- E-eu não s-sei. De re-repen-pente comecei a-a sangrar. - Ela disse de modo assustada.
- De quanto tempo você está ? - Perguntei enquanto usava o estetoscópio para ouvir os batimentos do bebê em sua barriga, Tara testava a pressão arterial da mulher.
- Estou de sete meses, quase para completar oito. - A gestante disse e dessa vez ela não parecia tão assustada, apenas preocupada.
O coração do bebê estava batendo normalmente. Os batimentos da mãe também estava normal.
- Houve muita queda de líquido ? - Tara perguntou e a mulher pareceu pensar.
- Sim! Bastante queda de líquido durante a manhã, achei que eram só vontade de fazer xixi. - Eduarda respondeu, esse era o nome da gestante, eu só descobri pelo fato de o marido dela nos dizer o nome dela.
- Sente contrações ? - Perguntei e ela assentiu. - Tara você precisa ver a passagem do bebê, acho que esse é o motivo do sangramento dela.
Tara assentiu e pediu para que a mulher abrisse as pernas, como Eduarda só estava de vestido foi fácil.
- Senhora eu preciso ver se tem dilatação o suficiente para iniciarmos o parto, okay ? - Tara perguntou para Eduarda e ela assentiu.
Tara então começou o procedimento do parto quando percebeu que a cabeça do bebê já estava apontando. Corri até a ambulância e peguei umas toalhas para a ajuda da retirada do bebê. Tara fez o parto ali mesmo, dentro do carro da polícia. Eu apenas a auxiliava do modo como ela pedia e me sentia nervoso de certa forma. Eu nunca havia presenciado um parto.
- É um menino! Qual o nome dele ? - Tara disse assim que o bebê nasceu, eu cortei o cordão com um uma tesoura esterelizada que havia pego na ambulância.
Tara entregou a criança para Eduarda e a mulher parecia emocionada ao ver o filho pela primeira vez, o pai da criança também parecia emocionado do lado de fora do carro de polícia.
- Thomas, o nome dele é Thomas! - Eduarda exclamou assim que se recuperou um pouco da emoção para falar.
Tara olhou para mim e nós dois sorrimos, era um lindo nome. Parecia combinar com o bebê. Depois de um tempo Tara e eu levamos Eduarda até a ambulância e de lá a levamos para o hospital onde ela e o bebê receberiam cuidados do obstetra. Eles nos agradeceram e eu só conseguia encarar o bebê, ele já tinha os olhos abertos. Por um segundo aqueles olhos esbarraram com os meus e foi para constar que eram azuis, eram claros, não o tipo de azul que eu queria ver, porém ainda sim eram lindos olhos azuis.
Após deixar o bebê e Eduarda nos hospital era hora de ir embora, Tara parecia muito feliz com o dia de hoje, o que certamente a fez querer comemorar ainda mais. Dessa vez não pude me impedir de concordar, eu havia presenciado um nascimento, àquilo me fez perceber que a vida, desde o momento em que nascemos e o momento em que morremos é um sopro, em um segundo você nasce e no outro já é adulto, e de lá pra cá está a um passo mais perto da morte. Eu precisava curtir um pouco, só trabalhar não poderia me fazer tão bem.
Obviamente eu amava o meu trabalho, o que eu queria dizer é que eu passo tanto tempo salvando vidas e ajudando pessoas que eu esqueço que também preciso viver e curtir um pouco.
- Sabe Tara, eu aceito aquele seu convite para sair pra beber hoje. - Comentei casualmente com ela enquanto ela dirigia para o quartel de bombeiros. Ela me olhou de relance e sorriu para mim.
Algum tempo depois estávamos no quartel, eu iria para casa e me arrumaria para sair, de lá eu iria para o bar. Tara me passou o endereço do bar e eu segui de moto para casa, era o meio de transporte ao qual eu mais gostava. Cheguei em menos de dez minutos. Estacionei a moto na garagem e abaixei o portão da garagem. Por uma porta lateral eu já estava em casa, eu morava sozinho então a casa não era bagunçada, eu quase não passava muito tempo ali e sempre a mantinha arrumada quando estava alí.
Deixei a chave sobre o balcão da cozinha e segui para a sala, de lá eu subi a escada e estava no corredor com dois quartos, ambos eram suítes. Eu sempre mantinha um quarto arrumado para quando meus pais viessem me visitar, o que eles faziam uma vez ao mês. Entro no meu quarto, acendo a luz e paro em frente a porta. Minha cama estava com os lençóis ameaçados e algumas roupas que eu havia deixado ali em cima pela manhã. Lentamente retiro a roupa que estou usando e caminho até o banheiro, acendo a luz e me olho no espelho que ocupa toda uma parede do banheiro em frente a pia. Eu estava com uma aparência realmente cansada hoje.
Sem pensar muito eu entro no box do banheiro e abro o registro do chuveiro, retiro a minha cueca e a jogo pelo chão do banheiro fora do box de vidro negro. A água quente cai e relaxa meu corpo me fazendo arrepiar levemente, a sensação era calmante. Automaticamente meus pensamentos me levaram aos acontecimentos do dia de hoje e eu me deixei vagar, e isso quer dizer que eu relembrei dos olhos daquele bebê chamado Thomas, os azuis dele era claro e calmo, não eram nem de longe os olhos azuis escuro e tempestuosos que rondavam meus pensamentos.
Foi então que eu lembrei dele, Andrey! Os olhos azuis escuro dele, um tipo de azul que parecia agressivos e tempestuosos, daqueles que pareciam queimar de tão intensos que eram. Eu não sabia dizer muito bem como eu sabia e havia descoberto isso tudo em tão pouco tempo. Então a imagem do garoto me veio a cabeça. A pele clara, os olhos azuis acuro, os cabelos cortados dos lados e com um topete alto encima. Aqueles cabelos castanhos escuros, os lábios rosados e carnudos, o modo como ele me olhava e o tom rouco e calmo em sua voz. O garoto era quase que lindo demais para ser real.
Quando me dei conta eu já estava excitado, e obviamente eu não me masturbaria pensando em um garoto ao qual eu vi apenas uma vez. Abri mais o registro do chuveiro e a água ficou fria, aquilo acalmou um pouco da minha ereção e eu tratei de terminar o banho rapidamente. Quando saí do banheiro e já estava seco foi para perceber que eu estava exausto, sem pensar muito eu me jogo sobre a cama e por alguns segundos antes de apagar de exaustão, a última coisa que achei ter visto foram olhos azuis marinhos me encarando de volta.
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A uma ligação de distância
FanfictionEssa é a vida de Richard Mason, ele é um socorrita de 22 anos que serve a 101 corporação do corpo de bombeiros de Los Angeles. Em mais um dia de trabalho duro, um pouco antes de acabar o seu turno o sinal toca e mais uma rota é dada aos bombeiros e...