Correr.
Era apenas nisso que eu pensava, e foi o que eu fiz, corri o máximo que eu conseguia observando se minha irmã mais velha estava comigo. Ela sempre correu melhor que eu e muito mais rápido então eu só deveria pensar no que estava a minha frente.
O lugar era lindo na verdade, grandes campos com árvores que cobriam o sol e apenas raios de luz passavam por seus galhos. Senti uma pontada no peito por não poder parar e observar o lugar, era mesmo de tirar o fôlego, mas e eu lá tinha fôlego, a corrida estava roubando ele de mim.
Nossos perseguidores estavam a mais ou menos um quilômetro de distância de nós, mas isso não nos fez correr menos. Chegamos ao coração da floresta onde a grama acabava e começava uma pequena parte de concreto, até voltar a ser grama, parecia uma grande e escura escada, uma escada que não parecia ter destino, que sumia entre as árvores.
O sol se punha no horizonte, eu sabia que não tínhamos tempo e quando parei em cima de um dos deguais senti uma lágrima rolar em meu rosto, eu sabia o que deveria fazer, mas isso não tornava as coisas mais fáceis, apenas inevitáveis.
Minha irmã atravessou para o outro lado como se atravessasse uma ponte, com bastante cuidado.
Me posicionei no centro da maior pedra de toda a escadaria. Respirei fundo, uma, duas, três vezes. Peguei a adaga em meu cinto e fiz um corte em minha mão, não vou mentir, doeu sim, então a apertei até pingar na pedra.
É difícil falar quando todas as suas palavras trancam, é difícil olhar quando as lágrimas caem, é difícil ficar em pé quando seu corpo falha. Apesar disso tudo, pronunciei cada palavra, cada letra e me segurei firme para não fraquejar. As palavras terminaram em um farfalhar de folhas, as palavras que a muito eu tinha decorado e rezado nunca precisar dizer. E aqui estou, enfrentando meu destino -se é que isso existe-, enfrentando o inevitável.
Meu sangue começa a tomar forma, uma estrela dentro de um círculo que pega fogo e então some.
Olho em volta desesperada, agora nossos perseguidores já estavam a vista. Me preparo para voltar a correr mas então tudo para, o tempo para. Uma folha que estava prestes a cair para no meio do ar. Minha respiração fica ofegante. Olho para trás, nossos perseguidores também pararam. E onde eu estava antes está uma senhora encapuzada com um sorriso sarcástico no rosto.
-Para que tanta formalidade? Tanto conjuramento? -Seu sorriso volta para mim. -Era apenas me chamar minha cara, você sabe que eu viria, a menos que tenha reconsiderado minha proposta...
Minha irmã aperta meu braço, como se dissesse que tudo bem a gente não poder, tudo bem eu dizer não, ela entenderia e lutariamos juntas. Mas eu não poderia dizer não, eu nao suportaria falhar depois de ela dar tudo de si.
Meu rosto vira novamente para a senhora que a muito me visitou, solto um suspiro e deixo as lágrimas secarem sozinha, pois agora não choro mais.
-Sim, eu reconsiderei. E por mais que isso parece mais uma de suas armações. Aceitarei.
Seu sorriso aumenta e ela me estica a mão para que eu possa me juntar ao seu lado, aperto a mão de minha irmã.
-Por nós, por nossa família e por todos. -Digo para tentar não preocupa-la o que notoriamente não funciona.
- Eu te amo. -É sua única resposta.
Me junto a ela na pedra, segurando sua mão firme, ela parece mais feliz do que nunca.
- Eu anciei por anos até que ficasse madura o suficiente para me procurar e aceitar, minha cara Princisa Mary. - Ela me abraça com o punhal em suas mãos.
Meu punhal se levanta em sintonia com o dela.
- Eu fiz de tudo para evitar este dia, minha cara feiticeira Morgana.
Então juntas as armas são fincadas, o sangue pinga na pedra que se espalha pelo chão e a última coisa que ouço é o grito de minha irmã junto com a terra tremendo embaixo de nossos corpos.
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Além-Mar
FantasyÉ difícil falar quando todas as suas palavras trancam, é difícil olhar quando as lágrimas caem, é difícil ficar em pé quando seu corpo falha. Apesar disso tudo, pronunciei cada palavra, cada letra e me segurei firme para não fraquejar. As palavras t...