Prólogo

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*

Não sabia quanto tempo estava sentado ao lado do vaso sanitário com a cabeça entre os joelhos e o quinto - ou seria o sexto?- teste de gravidez firme entre seus dedos. 

Aquilo não podia ser real. Ele só tinha dezesseis anos, alguns sonhos nas costas e nenhuma maturidade para cuidar de uma criança. Deus, ele era uma criança! 

Aqueles dois malditos riscos criaram raízes em sua mente toda vez que fechava os olhos, mas abri-los e encarar que eles eram reais, bem firmes entre seus dedos, não era algo com o qual ele queria lidar. Pelo menos não agora.

Seu telefone tocou o tirando do transe. O mundo lá fora o chama. 

Louis. 

Merda. 

Harry deixa tocando, ele não quer ter de lidar com aquilo agora. Mas a vida é uma merda e Louis é teimoso. O telefone toca mais três vezes e cai na caixa de mensagens. 

- Hey, babe, cadê você? Espero que você esteja bem, pois hoje a noite é dia de filme pipoca e muito sexo! - Ele ri e é o melhor som do mundo. Harry quase sorri junto. - Só se você quiser, claro. Bom, eu passo pra te buscar às sete de bicicleta, tenho uma novidade pra te contar. Te amo.

Olhou para o relógio, era quatro e meia. Harry tinha duas horas para lamentar e criar forças para levantar, se arrumar e ensaiar o melhor sorriso falso. Respirou fundo três vezes, fugir não era uma opção. Ele não queria pensar em um aborto, aquilo lhe causava calafrios. Ele também não podia tomar uma decisão sozinho, Louis também era o pai. Louis sempre cuidou bem de Harry, não seria agora que isso mudaria. Ele estaria a salvo, não estaria?  

Levantou, com as pernas bambas, segurando-se nas paredes, tirou suas roupas aos poucos, seus dedos tremendo, sentido que tudo havia mudado em seu corpo, mesmo que, visivelmente, nada estivesse mudado. Era um misto de sensações passando por sua mente, um desespero silencioso e o medo do que o futuro aguardava. 

Grunhiu baixinho. O futuro não era só Louis recebendo a notícia, mas sua mãe, familiares, amigos da escola..

Parou apoiando as duas mãos nos joelhos respirando fundo várias e várias vezes. Ele queria chorar.

Ligou o chuveiro, deixando a água tomar conta de cada centímetro do seu corpo, desejando que ela levasse para longe o nevoeiro em sua mente, tornando tudo mais claro. O que claramente não aconteceu.

Controlou sua respiração e no automático terminou seu banho e vestiu qualquer coisa que viu pela frente. Faltava mais de uma hora para Louis chegar, tempo demais para Harry continuar sozinho com seus pensamentos. Ele precisava de Louis com seu riso fácil que sempre achava a solução para tudo. Harry estaria a salvo em seus braços. 

                                  *

Harry era um covarde. 

Encarava a porta da casa de Louis fazia uns quinze minutos. Suas mãos suavam e seu corpo esqueceu como respirar assim que viu a porta abrindo e Louis saindo por ela.

Era agora. 

Suas pernas não obedeciam, por que suas pernas não obedeciam? 

- Harry? - merda. - Harry, tá tudo bem? O que você tá fazendo aqui? - Louis atravessou a rua encontrando Harry que tentava se esconder atrás de uma árvore. Sem sucesso.

Era agora. 

Tinha que ser agora.

- Eu.. eu tô bem, só senti saudades e resolvi vir mais cedo - sorriu amarelo. 

Ok, não era agora.

- Oh meu amor, eu ia te buscar, não precisava cansar suas pernas de girafa. - abraçou o namorado que revirava os olhos esquecendo por um momento o desespero que tomava conta de todo seu ser, o beijando no nariz. - O que você fazia parado aqui?

Louis caiu levemente a cabeça para o lado com os olhinhos brilhando. Por Deus, por que ele tinha de ser tão adorável? Isso apenas tornava tudo pior.

- Eu estava tentando te fazer uma surpresa, mas você me viu, estragando tudo. 

- Ele está com beicinho? Meu bebê está com beicinho, é? - Louis apertava suas bochechas ao beicinho inconsciente que aparecera nos lábios do namorado e Harry quase sorriu se não fosse a menção a palavra bebê que fez seu sangue gelar. 

- Eu preciso te contar uma coisa.

- Eu também! Tenho algo incrível pra te contar. 

O sorriso gigante que Louis deu fez o coração de Harry amolecer, ele o amava tanto. 

- O que é? - perguntou antes que se desse conta. A expectativa no semblante de Louis tornava mais difícil para Harry ignorar e contar de vez o real motivo de estar parado do outro lado da rua feito um idiota.

Louis segurou suas mãos, olhando bem dentro dos seus olhos com aquele azul céu em um dia quente de verão. Era incrível como mesmo depois de dois anos de namoro, Harry continuava perdendo o fôlego toda vez que Louis o olhava de tal maneira, tão intensa, tão mágica. 

- Uma gravadora, muito importante em Londres, me ligou. Eles viram minhas música no YouTube, eles querem assinar um contrato. Harry, eles querem que eu grave um álbum! Nós vamos realizar muitas coisas juntos, se tudo der certo, você vai poder cursar gastronomia em Paris. Harry, vai ser incrível! - ele falava alto com aquele sotaque forte que só ele parecia ter, sorrindo de orelha a orelha e quase dando pulinhos de empolgação.

Louis sorria e o mundo todo se iluminava. O mundo de Harry se iluminava.

Era o sonho de uma vida toda, se realizando para Louis. 

Ele não precisava de algo que o prendesse ali, numa cidade pequena quando ele teria o mundo todo na mão e Harry sabia que ele teria, Louis era verão, era contagiante, lindo e extremamente talentoso.

Harry o beijou, sendo levantando no ar pelo namorado que sorria grande, o carregando para dentro de casa. 

Aquela foi a última noite que eles estiveram juntos. 

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Would You Run Away With Me?Onde histórias criam vida. Descubra agora