Eu, a chuva e ninguém

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Chovia lá fora, o que em si já era inesperado por estarmos nas vésperas do verão, mas o que tirava toda a minha atenção era o fato de que mesmo tendo o mundo caindo lá fora ainda estava quente. A chuva mesmo sendo muita não conseguia anular o calor que fazia naquele começo de noite em Seoul.

Os grilos cantavam, e como em uma orquestra sem maestro eles faziam seus altos zumbidos sem nenhuma noção de tempo e muito menos de espaço, apenas cantavam cada um por si.

Não sabia que horas eram, havia acordado bem antes do sol hoje, mas não havia levantado até agora. Não sentia vontade de levantar, e não levantei, apenas me afundei ainda mais no buraco que havia no velho colchão, exatamente do meu tamanho, como uma cova da qual eu estava destinado a deitar e dormir pra sempre, e ironicamente eu não consigo dormir.

É que as vezes sinto algo desmoronar aqui dentro, me pergunto o porquê disso acontecer e logo me respondo: "você sabe". De verdade eu preferia não saber, não precisar saber que tudo é por minha culpa, gostaria da ignorância que fazem os outros dizerem que estão sempre certos, que faz só se importarem consigo mesmos, queria ser egoísta o suficiente para não me auto destruir.

O futuro me causa insônia. A sensação de não ter para onde ir somada ao fato de eu querer ter uma faca em minha garganta em alguns horários do dia.

Antes eu procurava me destruir com outras coisas, coisas tão superficiais que me impediam de ter pensamentos profundos. Me contentava com filmes românticos para adolescente com péssimas críticas, pessoas sempre felizes, cantores que só falavam sobre terem dinheiro e masturbações sem sentimento, às vezes até sem desejo. Mas ver alguém tão machucado quanto eu, apenas lidando com suas dores sozinhos, sem sorrisos falsos nem palavras duvidosas, apenas com um cigarro na boca e o por do sol a sua frente. Tudo tão verdadeiro.

Foi impossível não sentir inveja dele, conseguir descontar tantas frustrações acumuladas ao longo de um dia em alguns maços de cigarro, sem precisar cobrir seu rosto com maquiagens que lhe impedem de passar as mãos no rosto ao suar nem de chorar trancado em uma cabine do banheiro quando seu chefe da sermões no meio das pessoas da empresa. 

Desde a minha última visita ao térreo e da minha falha tentativa de suicídio eu não vi mais o sol, fiquei todos esses dias trancado em meu quarto brigando comigo mesmo. Nem mesmo conseguia me lembrar de como era ter a pele queimada pelo sol, sentir tudo ao meu redor sendo iluminado e aquecido pela sua luz, mesmo tendo que sentir minha pele fervendo e depois mal conseguir encostar em mim mesmo sem gemer de dor. Ultimamente não tenho me sentido merecedor de seu calor.  O sol iluminava todos, menos eu.

Então tive que me contentar com dias chuvosos como esse, estes que nunca foram meus preferidos mas que ultimamente tem sido minha única companhia em tempos difíceis. Eu não consigo não me comparar a chuva que cai lá fora, sempre que ela chega todos vão embora, não suportam o frio insuportável que ela causa, existem muitos apaixonados por ela, mas eles não a amam de verdade, ninguém sai de casa em um temporal para perguntar se ela esta bem, ninguém vai para a abraçar, dizer palavras dóceis e lhe passar compaixão. Ela consegue ser uma ótima companheira, não faz perguntas, não sorri falso nem sente pena, apenas chove.           

Em momentos de silêncio tudo volta, as feridas se abrem e sangram, os olhos enchem de lágrimas e as tremuras vem, e eu nem havia tomado uma térmica de café inteira como na última vez, tento aprofundar mais o machucado para conseguir tirar o caco de vidro que está fincado lá dentro, mas eu não consigo, eu paro e deixo a minha ferida mental sangrar, não pela dor, mas porque é a única coisa que eu tenho dela.

Estive tão sozinho nesse mar que e a minha mente, mas quando você cai eu não me sinto mais tão sozinho, então eu apenas sinto seus pingos encherem minhas águas.

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⏰ Última atualização: Aug 28, 2021 ⏰

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Good night, Jeongguk ❣JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora