sob o véu ao pôr do sol

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nada é agressivo e violento desse lado do nevoeiro rosa carmim quando a machadinha acerta o meio do meu rosto. não há gritos, a cor do seu amor se derramando sobre os meus lábios tem gosto de cravos bordados em tomate seco e cevada colhida no inverno. eu quase acredito que é a consequência de camuflar muito bem os pretextos. e, se precisar que assim o seja antes que a primavera acabe e eu acorde dois palmos abaixo da terra, não temerei em fazê-lo. 

quando você trança meus cabelos antes de adormecer, ou conta uma história do papado, é um privilégio escutar sua voz até a vela derreter na xícara. eu presto atenção como se fosse uma última possibilidade daquela versão específica antes da cevada de inverno e tomates secos, uma versão protetora, que visibiliza apenas uma pequena parte de um desejo desesperado que clama do substrato da minha saliva até a circulação precária dos tendões falhos, porque eu sei que mesmo nos cantos mas recônditos do meu coração, o estado encontraria alguma forma de espalhar carvão para a seita purificadora de deus e seus discípulos da paz e da ordem. então eu me contento com o veludo do ressonar, quando você invade antes do sono, e diz, mais baixo do que as sílabas do pôr do sol, que me ama num amanhã sem possibilidades.

eu me estico no caramanchão debaixo da ponte, esperando o musgo atingir as cores do raiar do sol, o véu sob meus olhos castanhos, e canto sobre esperança. você me dá as mãos e esconde a culpa dentro da cesta de pêssegos da cor de seus lábios. tenho profundo respeito pela sua teimosia, porque sei que jamais seria capaz de me comportar com benevolência para com aqueles que feriram minha natureza humana, e sei que você o fez com quem não foi capaz de entender metade da sua. 

portanto, o nevoeiro. e ele chega quando o véu perpetua sua textura na altura dos meus pés perto o suficiente para que eu acredite que você me ama de volta desde o começo da minha existência efêmera, ainda que insisto infinita. 

para que eu acredite que nos meus sonhos você me ama de volta.

para que eu esqueça que, ao acordar, você também jogará pedras em mim durante a fogueira.

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