Re-amar

59 4 0
                                    

Eu sentia cada terminação nervosa do meu corpo corr esponder aos estímulos que ele provocava em mim, era como um tipo de droga estimulante, a cada centímetro de pele que ele tocava, uma quantidade considerável de adrenalina era injetada no meu sistema sanguíneo.
Era difícil assimilar todas aquelas sensações com apenas um simples e casto toque, sua mão havia percorrido o meu braço, fechando-se em meu cotovelo me mantendo no lugar, sem me dar outra escolha se não encara-lo.
E depois de todo aquele tempo fingindo, finalmente teria que encarar aqueles olhos assustadoramente cinzas e enxergar tudo que a muito tempo tentava inutilmente esconder.
Quando finalmente joguei o resto do bom senso que me restava no lixo e empinei o nariz para encara-lo fixamente como ele fazia comigo, senti como se tudo ao meu redor tivesse voltado a órbita normal, era como se durante todos aqueles anos eu estivesse incosientemente esperando pelo momento em que Scorpius voltaria para colar todos os caquinhos do meu coração e dar um colorido para a vida preta e branca que levava levianamente.

Mau conseguia respirar diante da impesiosidade que encontrei em seu olhar, um misto de sentimentos conflituosos surgiu em algum lugar dentro daqueles olhos, mais se dissolveu tão rapidamente que me questionei por alguns milésimos de segundos se eu não estava imaginando coisas...Mais no fim das contas, percebi que Scorpius sempre havia tido a incrível habilidade de esconder seus sentimentos, e o invejava por aquilo, ao menos ali, naquele momento, eu implorava a Merlin pra que pudesse ao menos ocultar o quanto sua presença repentina me antigia.
Durante cinco anos havia evitado de retornar a Londres exatamente por causa dele, no entanto, o destino havia mais uma vez sido impiedoso comigo.

Era difícil respirar no mesmo ambiente que ele, era humanamente impossível olha-lo e não me lembrar das milhares de vezes que aqueles braços me seguraram pra não sucumbir a loucura e a dor intensa que compartilhamos.

Se não bastasse ter que lhe dar com dois sobrenomes de peso na sociedade, me apaixonei pela última pessoa que qualquer que conhecesse mais a fundo a história bruxa saberia que era proibido pra mim.

Scorpius Malfoy havia sido minha carta de alforria, de alguma forma meia deturpada, eu sempre havia buscado pela minha própria indentidade, não queria ser lembrada apenas por ser filha de uma das bruxas mais brilhantes da história ou do Comodante Weasley, se fosse para ser lembrada que fosse por eu ser quem era, Rose e apenas Rose, sem sobrenomes importantes, sem lutar uma guerra e sem travar batalhas, afinal de contas, fora pra isso que uma boa parte da minha família havia lutado no passado.
E embora sempre tivesse ignorado todo o protocolo e convenções sociais que a sociedade exigia dos herdeiros do trio de ouro eu ainda me prendia a milhares de amarras, tentava incosientemente e diariamente provar o meu valor para ninguém especial, talvez até para mim mesma, ao menos, até Scorpius Malfoy se tornar uma presença constante no meu ciclo social.

Não que eu tivesse ignorado a presença dele nos últimos seis anos em Howgats, no entanto, foi somente no sétimo ano que ele de fato deixou de ser o Malfoy certinho e irritante para ser um garoto para ser apreciado.
Toda vez que eu o via revirar os olhos para as festas clandestinas que organizavamos, ou, incosientemente quando ele sorria de forma sarcástica quando respondia alguma pergunta extremamente difícil como se me desafiasse a ser melhor que ele, eu finalmente me vi, almejando tirá-lo daquele pedestal que ele havia se colocado e chacoalhar sua vida de uma forma diferente, eu precisava mostrar a Scorpius Malfoy como era viver a vida intensamente.

A única coisa não planejada foi perceber muitos meses depois de tudo ter começado, foi que não fora apenas Scorpius a ser antingido pelo furacão que aquele tipo de relação causava em nossas vidas.
Éramos adolescentes a flor da pele, com desejos reprimidos, pouco conhecimento e um dose de irresponsabilidade extra.

E a emoção de compartilhar daquele tipo de relação devastadora acarretou consequências que levariamos para o resto da vida, primeiro porque aprendemos que juntos nós realmente podíamos incendiar um ao outro, segundo porque naquele tipo de relação que levamos ou você se deixa ser consumindo ou você desiste logo nas primeiras semanas.

Não era saudável, não era normal. Era uma confusão ambulante de sentimentos, nada era moderado, nada era raso, se era para amar, então tínhamos que ir no profundo da coisa, esquecer o fôlego e se afogar na onda, os pulmões podiam implorar por fôlego, éramos masoquistas o suficiente para continuarmos afundando a cada dia que passavamos juntos.
Ciúmes, medo, insegurança, imaturidade, sexo, encontros, festas, bebidas, drogas e mais sexo, intensidade, vontades, sonhos, metas, objetivos, adolescência e gravidez.

O baque, o medo, a insegurança, um filho aos 17 anos. Recém formados, uma vida inteira pela frente e um filho na bagagem. Muito amor, felicidade, vamos fazer funcionar, vai funcionar, funcionou.

Um apartamento com dois quartos, uma cozinha conjugada, um banheiro e uma área social. Um trabalho bacana no Ministério da Magia, duas famílias rivais socializando pelo bem maior, por uma vida inocente que era gerada.
Muito amor, muita ansiedade... Um quarto todo decoradora de rosa com lindos ursinhos delicados, uma barriga enorme, um nome de estrela, Hera, nossa estrela, nossa guia, nossa vida.

A vontade de crescer por ela, pela família que teríamos em breve...até tudo mudar, até o destino cruel como sempre fora chegar de forma inesperada.
Era um dia normal, início dos seis meses de gestação,   depois de uma tarde agradável, um banho demorado e as cólicas que haviam iniciado pela manhã se intensificando, o sangue... O medo... O desespero... O Grito... A dor... A perda... A estrela, a nossa estrela, a nossa vida, se foi... Não existia mais.
Má formação, inesperadamente, de forma crua e dolorida, pari e não poder segurar o bebê tão esperado nos braços, chorar com os seios vazando, enterrar um pequeno caixão que cabia dentro de um abraço, voltar pra o pequeno apartamento de braços vazios.
Chorar todas as noites com os seios doloridos, ser tragada pra escuridão.

Não querer falar... Não querer comer... Não querer ver ninguém....chorar...chorar e chorar até que não hajam mais lágrimas ou dor suficiente que te faça sentir novamente.
Ouvir os gritos, sentir o julgamento por não reagir, vê o relacionamento intenso ruir bem diante dos seus olhos sem que você tenha vontade alguma pra impedir, se trancafiar dentro de sua própria dor e se negar a compartilhar qualquer que seja a emoção.
Culpa. Medo. Lágrimas. Dor. Raiva. Medo. Covardia.
Fazer as malas, ir embora pro outro lado do mundo sem olhar pra trás, sem pensar duas vezes, sumir no mundo.
Voltar aos projetos inciais, precisar provar a si mesma que pode ser quem quiser ser... Apenas Rose, sem Weasley, sem Malfoy, sem a mãe que perdeu o filho, a menina mulher que se entregou para depressão, que perdeu a pessoa que mais amava no mundo porque não conseguia escapar da escuridão. Fugir de rótulos, quando você mesmo se rótula.

E se vê cinco anos depois refletida nos olhos do homem que jurou que nunca lhe perdoaria pelo abandono... E perceber que nada mudou.
Ainda compartilhavam a dor, a entrega, o mar de sentimentos que os levaram até aquele momento.
Era o fim, ele sabia, eu sabia, precisávamos um do outro para superar, para finalmente tentar nadar para superfície juntos, um cuidando do outro, havíamos remado por muito tempo separados, juntos era mais leve, mais tranquilo, mais satisfatório.
Re-mar. Re-amar. Re-começar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 27, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Re-começarOnde histórias criam vida. Descubra agora