O submarino descia e descia para as profundezas. De fato, ele já estava tão fundo que algumas ruínas das cidades dos Antecataclísmicos já podiam ser vistas de relance... cada vez que os feixes dos poderosos faróis da hidronave por acaso as revelavam, em meio às trevas do fundo do mar.
De trás do grande oval transparente na Ponte de Comando, o Capitão Arturus olhava com apreensão para aqueles edifícios desabados pela metade e inclinados em ângulos ligeiramente tortos.
Eram enormes, como as mais altas torres dos castelos mais vistosos e dos templos mais ricos na Superfície. Deviam ter sido ainda maiores, mais gigantescos, antes do Cataclismo... mas agora eram só tocos incompletos e arruinados, cascas vazias submersas por centenas de metros de água.
As lendas diziam que almas dos Antecataclísmicos ainda olhavam daquelas miríades de janelas escuras como órbitas vazias. E naquele momento, vendo-as com seus próprios olhos, Arturus tinha de admitir para si mesmo que aqueles vislumbres de ruínas submersas eram mesmo um cenário perfeito para macabras histórias de fantasmas.
De qualquer forma, ele não estava ali atrás de fantasmas do tipo espiritual, normalmente associado com a palavra. Ele estava, no entanto, atrás de um "fantasma" em um sentido mais metafórico - um ser que era uma relíquia de um passado remoto há muito morto.
Um dos Adormecidos.
Naturalmente, sem ajuda especial era essencialmente impossível achar um deles. O pensamento, inevitavelmente, fez Arturus olhar para o seu lado.
Lá estava ela. Aetelin, a Elemental da Alma.
Ela era uma mulher alta, esguia, elegante e bonita. No entanto, a marca em sua testa - a tatuagem do Olho que Tudo Vê, a marca do Elemento da Alma - dava um aspecto estranho ao seu rosto.
Infelizmente, foi um preço que ela teve de pagar por nascer na Ilha do Sul, onde as leis para registro e identificação de telepatas e clarividentes eram bastante draconianas.
Naturalmente, o Olho Que Tudo Vê era ainda assim uma metáfora muito apropriada. Afinal, como sempre, Aetelin já estava olhando para Arturus quando este desviou o olhar para ela.
No fim das contas, era difícil surpreender um Elemental da Alma.
"O Bunker Antecataclísmico ainda não é aqui." - Anunciou Aetelin, se antecipando à pergunta de Arturus... Como também sempre acontecia. - "Está além dos limites desta cidade dos Antigos."
"Riordejann." - Arturus repetiu o nome apagado que aparecia nos mapas submarinos.
"Na verdade, os Imortais nos dizem , e a Memória das Pedras confirma, que os Antecataclísmicos usavam um outro nome. 'Riordejann' é a aproximação ou corruptela que usamos com fonemas mais familiares em nossa língua, mas o nome original era..." - Aetelin pronunciou duas ou três palavras em uma língua estranha, mas com uma ou outra sílaba familiar.
"Não tenho a menor idéia do que isso significa."
"Ah, a tradução para nossa língua atual é... Rio de Janeiro."

YOU ARE READING
Archipelago Brasilis
FantasiaMil anos depois do Grande Cataclismo causado pelos continentes perdidos da Lemúria e da Atlântida emergindo novamente, o Capitão Arturus vasculha com o seu submarino as ruínas de uma das inúmeras cidades submersas dos Antigos. Sua missão: encontrar...