Tudo começou antes daquela viagem, não queria ir, mas também não queria desapontar ninguém... Todos chegavam felizes em apoiar, se despedir e aquelas outras coisas que gente velha faz (ou que nos amam, ou os intrometidos mesmo).
Chegando ao destino nos dirigimos para o hotel onde havíamos reservado, para a nossa surpresa o quarto era conjunto, na entrada do quarto havia uma cama de casal, sem porta, uma cômoda exclusiva e um banheiro isolado, mais adentro as camas eram enfileiradas. E o pessoal já ia se acomodando, como nós éramos o único casal cogitei de que podíamos ficar naquela cama lá na entrada, pois as outras eram minúsculas, tinha que dormir de lado e se tivesse sorte os pés não ficariam para fora.
Tudo bem, resolvemos mudar depois do almoço, estava sem fome, engripada, cansada e não queria ficar sozinha, mas ele não quis me ouvir, sentia necessidade de suprir suas vontades naquele momento, aquilo foi como um soco na minha cara, fui perdendo velocidade e ficando para trás, pedindo, implorando que me esperasse, pra mim ali foi a gota d'agua... aquilo não era digno do meu amor, fiquei para trás, pois não sabia para onde ir... Fiquei por ali mesmo, me sentei na primeira cantina que encontrei, logo não estava sozinha, uma garotinha sentou ao meu lado, quando percebi estava rodeada de crianças e alguém tocava em meu ombro, era a professora deles dizendo que a garota queria sentar ali, sem hesitar me levantei, informei que estava engripada e não queria ser a causa se elas também ficassem. Claro fiquei constrangida, não queria ter agido daquela maneira, ainda mais com uma criança. Sai de lá e continuei a caminhar.
No caminho encontrei uma moça muito simpática, ela morava na região e tinha espirito aventureiro. A perguntei onde poderia quem sabe me sentar ao ar livre, ela me disse que tinha algo melhor, então seguimos conversando, até chegarmos em um abismo, lá em baixo havia pessoas jogando bola. Muros depravados cercavam aquela quadra. Não eram muros, eram paredes e restos de prédios cobertos por musgos, fixados pelo tempo, aquilo o povo da região fazia de ponte ou uma simples diversão, começamos a correr, saltar e se pendurar por aquela imensidão de concreto, pela primeira vez me senti livre, feliz e até esqueci da minha debilidade. Ela me auxiliava, pedia para que a seguisse, pois se preocupava e não queria ser a culpada caso eu caísse...
No fim daquele percurso de aventura, chegamos a uma barraquinha, simples, de madeira, tudo naquela vila era assim, me surpreendi com a simplicidade, e apesar da pobreza, a educação e simpatia era o que mais chamava a atenção. Em cima do balcão havia um vidro cheio de moedas douradas de todos os valores e todos os tamanhos, aquilo era para os pobres, mendigos, quem não tinha dinheiro para comprar alguma coisa naquele armazém. Observei a menina comigo, ela pegou algumas moedas e entregou ao senhor do balcão, este lhe entregou uns pacotinhos de suco, ele me olhou e fez o mesmo comigo, agradeci e segui a menina.
Estávamos entrando em uma vila, estrutura igualmente ao do armazém, eram pobres, as madeiras que erguiam as casas eram velhas, e não oferecia nenhuma proteção, a bagunça do lugar era igualmente espantável. Andamos entre as casas observando, me espantei quando vi que aquilo era só uma fachada, pois dentro das casas, quase todos tinhas esconderijos para o subterrâneo, igualmente arquitetado com madeira envelhecida e tudo simples.
Após essa aventura decido voltar e peço para que ela me mostre o caminho até o hotel, naquele segundo ela me puxa para dentro daquelas estruturas e me diz para ter cuidado que ninguém deve me ver... Ela me guia por outro caminho, hora por entre as casas, hora por passagens escondidas, o caminho foi mais curto. Mas quando chegamos ao salão em frente ao hotel onde nos encontramos, tudo estava vazio, frio, e pude enxergar um catador em frente a porta grande de vidro do hotel. Fui andando e a menina ficou para trás.
Quando cheguei em frente não vejo ninguém o hotel estava fechado e igualmente abandonado como vi naquela vila que ficou para trás. Derrepente ela chega atrás de mim e começo a enxergar, pessoas assustadas e fumaça através do vidro. Ela diz, está pegando fogo, sem hesitar procuro algo com as mãos para quebrar o vidro, mas antes que eu o alcance as portas se abrem e as pessoas começam a sair pelas portas gritando e correndo, eu espero um pouco mas não vejo ninguém de que conheço, passo pela multidão tentando alcançar o quarto em que nos hospedamos.
E é nesse momento em que vejo ele caindo morto nos braços dos meninos, meu mundo cai e o pânico me consome, queria tocar, pegar nas mãos, quando finalmente consigo, fecho os olhos chorando, quando abro novamente não havia ninguém. Tudo já havia acabado eram só destroços, olho em volta e vejo um cachorro grande, claro, peludo, ele vem até mim, e escuto uma voz me consolar, mas não consigo entender. Será que desde o início aquilo não passou da minha imaginação? Ou será que realmente aconteceu, e passou na minha cabeça como num filme, será que a vila em que passei existe? E a menina simpática, ela sumiu, quanto tempo passei fora?
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O abismo
AdventureTudo começou antes daquela viagem, não queria ir, mas também não queria desapontar ninguém... Todos chegavam felizes em apoiar, se despedir e aquelas outras coisas que gente velha faz (ou que nos amam, ou os intrometidos mesmo).