pain

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               você não sabe o sabor daquela  comida diferente, até experimenta-la
você não sabe a dor da queda de uma montanha, porque você ainda não a escalou
você não sabe da dor do outro, porque você ainda não a sentiu

ainda

você sabe a dor da perda?       não
você sente?                           ainda.


Sina Deinert, POV

O dia amanheceu nublado, e eu me senti bem com aquele cenário. Eu era uma pessoa extremamente indecisa, eu adorava todas as estações do ano, desde o inverno, primavera, verão, cada uma das estações trazia um sentimento novo para mim, trazia reflexões que eu adorava sentir, trazia emoções e sensações. Abri a grande janela de vidro que dava entrada para a minha sacada, me sentei no chão e me senti privilegiada com aquela vista maravilhosa, e fechei os olhos, cruzando minhas pernas. Eu me identificava muito com os dias nublados, na minha perspectiva, eles são confusos, assim como eu.

O vento balançava meus cabelos loiros, e eu sentia o sol meio distante, mas mesmo assim eu o sentia, o seu calor podia ser sentido, se você focasse naquela sensação abafada. porque ele estava ali, ele não aparecia aos nossos olhos, mas o sol estava ali. Distante. Mas ele não deixava de estar ali.

Eu era como o sol, poderia não aparecer com frequência nos dias nublados, mas eu estava ali da mesma forma, escondido, acanhado e tímido. As pessoas sabem que quando o período de confusão passar, eu me tornaria visível aos olhos, como o sol no verão, quente como uma fornalha acesa, mas eu nunca deixaria de ser a primavera, eu continuava confusa, mas pronta para o resto das estações.

Provavelmente, a piores das sensações é a confusão, você não sabe para onde correr, você não compreende o que sente, mas quer que alguém compreenda. Era assim que eu estava me sentindo. Mas o que ganhava do sentimento de dúvida, era a certeza de que você sabe o que sente, mas não quer acreditar,  porque você não pode.

Negação.

Sentindo a mistura da brisa dos ventos e a sensação quente do sol que talvez, estava por vim, me perguntei porque os sentimentos são difíceis de aceitar e de se conviver. Gostaria de achar respostas para esse enigma, mas olhando aquele céu, as respostas pareciam tão distantes, e aproximadamente perto.

Me levanto do chão fresco, e alongo meus braços, ouvindo meus ossos estralando de uma forma assustadora, faço uma cara de dor para aquilo. Entro no meu quarto novamente e me arrumo, pronta para ir a escola.

Ligo o registro do chuveiro, e ali meus pensamentos vão para Josh.

Flashback, 4 anos antes.

Hoje era Sexta feira, e eu estava tão animada! Eu, Joshua e Noah, costumávamos ir ao parque todas as sextas, e cara, era a melhor coisa do mundo! Nós brincamos na montanha russa, nós tentamos ganhar ursinhos e tudo mais!  Era incrível, e eu adorava fazer isso com eles, meus melhores amigos.

Nossas mães falam que somos as três superpoderosas. E eu sou a líder, claro.

Me arrumo colocando uma das camisetas de Noah, que eu havia pegado emprestado sem o mesmo saber, e coloco um shorts jeans claro, com meus all-star preto. Não penteio os meus cabelos, porque tenho preguiça, e rapidamente me vem os pensamentos de Noah, ele gostava de passar as mãos em meu cabelos, ele dizia que eles eram macios.

Acho melhor eu pentear.

Pego a escova de cabelo e vou escovando, com algumas mechas prendendo, quase choro, mas eu pensava no bem maior. Não que eu gostava que o idiota do Noah passasse as mãos no meu cabelo, longe disso, mas sim por higiene! Passo meu perfume de morango, e escuto a voz da minha mãe.

- SINA! Noah já está aqui, desça rápido! - droga, as vezes eu esquecia que aquela peste era meu vizinho. - Já vou mãe! - desço as escadas correndo e pego uma coca-cola na geladeira. - Não saia de perto de Noah! Você pode se perder e cuidado minha filha - mamãe beija minha testa, e eu saio de casa, vendo Noah ali. Nós dois caminhamos pelas ruas, animados indo em direção a casa de Josh.

- Será que a Tia Úrsula fez cupcakes hoje? Eu queria tanto, ela faz os melhores. - falo para Noah, enquanto ele pegava uma das minhas mãos para atravessar a rua. Ele sempre fazia isso.  - Acho que sim Sininho, toda vez que vamos lá ela faz para você. - sorrio com o que ele diz. - É verdade.

Demoram alguns minutos para chegarmos, mas assim que demos de frente para a porta, eu e Noah brigamos para ver quem iria apertar a campainha. Eu ganhei claro. feliz, apertei diversas vezes o botão que tinha ali, e demorou um tempinho até que tia Úrsula abriu a porta.

Seu olhar parecia triste.

- Oi tia Úrsula, viemos buscar o Josh, hoje é o dia do parque, lembra? - pulei feliz e a abracei, seus olhos inundaram com algumas águas, parecia que ela iria chorar, como quando a gente ficava triste. - Desculpa Sininho, mas acho que Joshua não vai querer ir hoje. Aconteceu algo triste. - A voz de tia Úrsula era baixinha, eu olhei para Noah, confusa, já ele parecia ter entendido. - Nos podemos subir Tia Úrsula? - Noah falou dando uma abraço nela também, e ela balanço a cabeça concordando.

Noah pegou em minhas mãos, me levando para o quarto de Josh, assim que abrimos a porta, vimos ele deitado no cama e soluçando, rapidamente, algumas lágrimas escorreram dos meus olhos também.

Eu não gostava de ver as pessoas que eu amava assim.

Deitados no lado de Josh na cama, e assim que o mesmo percebeu nossa presença, nos abraçou. - minha vovó morreu, faz sair essa dor de mim, por favor. - seu choro era desesperado, e rapidamente eu e Noah nos abraçamos, não tinha palavras que pudessem tirar a dor do meu melhor amigo do seu coração, eu só queria que toda aquela sensação viesse para mim. - Tenho certeza que de onde ela esteja agora, ela está feliz e orgulhosa de ter você como o neto dela, vovó Anne era a pessoa mais doce e gentil que eu conhecia Josh, e ela com certeza não ficaria nada feliz de te ver assim. Ela te ama, Noah e ama, sua mãe, e cara, eu te amo. Essa dor vai se curar com o tempo. - Pego em suas mãos e nós três nos deitamos ali, eu e Noah abraços com Joshua, eu queria que sua dor saísse dali, aos poucos, seu choro foi diminuindo e caímos no sonho.

Atualmente.

Lembrando daquele dia, e das palavras que eu disse para Josh naquele dia triste, me fez cair na real.

A dor vai se curar com o tempo

Essa angústia de ter perdido uma das pessoas que eu mais amava no mundo vai sair de meu coração, a dor vai ser curada. Nenhum sofrimento é eterno e dura para sempre. Papai não iria gostar de me ver dessa forma.

De jeito algum.

Eu tinha pessoas que me amavam, não iria me entregar para a dor rapidamente, eu era forte, sempre fui, agora não iria ser diferente.

Agora eu sei a dor da perda. E eu ainda sinto.

Julgamos a dor do outro, porque não entendemos, mas depois que algo dessa forma acontece em nossa vida, passamos a compreender. Da pior forma.

Agora eu sei o que Josh sentiu naquele dia, não era a mesma dor, mas eu entendo completamente. O coração apertado, a vontade de correr sem direção alguma, gritar, chorar. Eu o entendo.

Mas essa sensação iria passar, e a partir de agora eu tinha uma estrelinha no céu me olhando a cada lugar que eu irei.

Eu iria viver, fazer ele orgulhoso da pessoa que eu estou me tornando.

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⏰ Última atualização: Oct 28, 2019 ⏰

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