Enfim um lar?

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Brian-

Meus pés estavam doendo.
Fazia quanto tempo que eu estava caminhando mesmo? Eu não conseguia me lembrar, já havia semanas.
Tudo estava branco, o inverno estava em um de seus dias mais frios, e eu era um dos azarados que estavam na rua nesse dia.
Não por minha escolha, eles estavam me seguindo, o tempo todo. Quando eu achava que havia escapado eles apareciam, não tinha coragem de olhar para eles, mas conseguia ouví-los, até mesmo sentí-los se espreitando ao meu redor.
Quando acordei naquela manhã, decidi me afastar da rodovia, talvez me escondendo nas florestas eu conseguisse despistá-los.
Não tinha mais noção do quanto eu havia andado. Será que eu ainda estava perto de Nova York? Não fazia ideia, tinha andado muito, muito mesmo.
Minhas pernas cederam, minha calça com estampa militar estava tão suja que parecia mesmo que eu acabara de voltar de uma guerra.
Me enrolei no chão, embaixo de uma árvore. A neve não era lá um dos melhores colchões, mas não era um dos piores também.
Usei minha blusa preta como cobertor, me encolhi o máximo que pude.
Mas não por muito tempo.
A primeira coisa que senti foi o cheiro, e logo a energia que tinha desaparecido do meu corpo retornou, eu reconhecia o cheiro de carniça deles, o barulho que eles faziam quando farejavam. Não eram cães, eram monstros.
Saí correndo o mais rápido que pude na direção contrária aos sons que se aproximavam mais e mais.
Senti meu sangue ferver, literalmente.
Onde eu pisava no chão a neve derretia fumegando. Isso já havia acontecido antes, toda vez que eu me sentia em perigo. De acordo com os médicos em que meu avô me levou, o meu coração bombeava sangue rápido demais quando eu ficava nervoso, e isso fazia meu corpo esquentar de forma sobrenatural, ou algo assim.
Senti minha velocidade aumentar, minhas pernas nem mesmo doíam mais por causa da adrenalina que os barulhos dos monstros me seguindo me trazia.
Eles eram mais rápidos que eu, eu podia sentir, eu ia morrer.
Comecei a subir uma ladeira, um clarão iluminou toda a minha visão e a nevasca parou, havia uma montanha ali, e nela havia uma vila muito estranha, repleta de tochas, estátuas e casas que pareciam ser de antes da Era Medieval, mas ela ainda estava longe, no topo da montanha.
Me virei e os vi.
Eram dois lobos imensos, sem pelos, suas peles de couro eram acinzentadas, as suas bocas escancaradas pingavam com saliva, decorando suas quatro enormes presas. O pior era o centro do rosto deles, onde apenas um olho avermelhado se fazia presente, com as pupilas estreitas como fendas.
Eu não conseguiria fugir para a cidade, eles estavam muito perto agora, decidi enfrentá-los.
Fechei os olhos, senti meu corpo esquentar mais ainda.
Abri meus olhos lentamente e esvaziei a minha mente, já venci muitas brigas assim, porém eram brigas contra valentões do colégio, duvidava que o corpo moderadamente atlético de um garoto que só jogava basquete iria fazer alguma coisa contra aquelas criaturas de dois metros de altura, mas eu estava errado.
Corri na direção do que estava na frente, cobrindo nossa distância toda em poucos segundos.
Tentei dar um soco em seu rosto, ele apenas abocanhou e prendeu a minha mão, mas não conseguiu arrancá-la. Com a outra mão agarrei o seu olho e o arranquei.
Minha respiração estava aumentando de ritmo.
O lobo rugiu de dor, soltando meu braço.
O outro chegou e logo tentou me atacar, desviei da primeira mordida e dei um soco na mandíbula dele, o que aparentemente quebrou alguns de seus dentes. Ele rugiu e caiu no chão, dei outro soco, virando sua barriga para cima com o impacto, subi nele e então prendi minhas duas mãos em seu pescoço e arranquei sua traqueia com todas as forças.
Minha mente se nublou, fiquei tonto. Ao fundo ouvia gritos vindos da cidade, abafados pelo som estridente que os lobos estavam produzindo.
Olhei para as minhas mãos sujas de sangue e minha visão ficou turva.
Apenas tive tempo para ver algumas pessoas descendo da cidade por uma estrada que eu nem tinha notado antes.
Desmaiei.

Proles OlimpianasOnde histórias criam vida. Descubra agora