O seu último dia

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Trechos em itálico são flashback!

Esse capítulo tem umas palavras homofóbicas e podem ser sensíveis para determinadas pessoas, então tomem cuidado quando a conversa entre Noah e Ryan chegar.

Noah tinha um pequeno curativo em seu nariz, que roubou sorrateiramente da enfermaria. Ele estava adormecido, deitado no chão gelado do antigo quarto do zelador, se mexendo todo o tempo. Se antes ele já tinha problemas para dormir, agora eram muito piores. Os seus olhos ardiam de ficarem abertos, mas o sono simplesmente não vinha. Era como se tivesse um despertador interno, que sempre o despertava depois de poucas horas de sono. Ele seguia um padrão: ficava acordado até muito tarde, até literalmente desmaio de sono e acordava cerca de duas horas depois, com o coração disparado e lagrimas caindo do canto dos olhos.

E naquela manhã não foi diferente. Acordou, abafando um grito e se sentou, passando as mãos pelo rosto e secando as lágrimas que escorriam pelas bochechas. Seu coração se retorcia, como se uma mão pesada o apertasse ao ponto de quase explodir. Era assim que ele vivia, assustado, amargurado, com uma dor grande demais para ser carregada. Um fardo que não deixava ele levantar. Era como se a gravidade tivesse mais força do que o normal e não tinha um alívio. Entretanto, o Schnapp pensava merecer. Com tudo que tinha acontecido, o pequeno não considerava merecedor de felicidade, somente da tristeza e solidão. Sua mente gritava para ele que era o destino que tinha escolhido para si mesmo.

Começou a ouvir passos no corredor de fora e correu para esconder sua mochila, que continha apenas algumas trocas de roupas, tudo que ele conseguiu pegar da casa de Dylan. Após a morte do menino, ele não conseguia mais ficar lá. O ambiente era pesado e tudo lembrava ele, parecia com o falecido. E sem alternativa, não podendo contar com o apoio de Millie ou Jack, enfiou tudo que tinha em uma mochila e se alojou ali onde estava agora. O chão fazia suas costas doerem e muitas vezes acordava com algum dos objetos do armário caindo em seu corpo, mas ele não reclamava.

Enfiou a mochila em um pequeno espaço que havia ali e se levantou com uma certa dificuldade, espreguiçando seu corpo. Sentiu suas costas estralarem e murmurou baixinho, em tom de reclamação e apanhou sua escova de dente, saindo da sala. Conferindo se não havia ninguém que poderia o descobrir, correu em direção ao banheiro e escovou os dentes com rapidez e analisou o seu rosto. Uma vermelhidão ainda circundava o nariz, com uma pequena mancha de sangue seco no cantinho. Levou o indicador a região e tocou de leve, mas o suficiente para uma dor agonizante invadir seu corpo e fazer pequenas lagrimas brotarem no canto dos olhos. Assim que foi secar a região, a porta se abriu abruptamente. Noah se assustou e colocou seus olhos na porta, que revelou Jack, com uma feição seria. E no instante em que os olhos verdes de um, encontraram os olhos castanhos do outro, um arrepio percorreu o corpo de ambos. Foi um momento intenso, em que faltavam palavras. Não houve movimento, era quase como se os olhares alheios os petrificassem, fazendo ambos pensarem no tanto que perderam, em como se perderam. E continuando a olhar para o menino que um dia chamou de namorado, Noah se viu voltando ao dia em que tudo havia mudado.

Noah e Jack não trocavam uma palavra desde o funeral, que tinha sido dois dias atrás. O Schnapp acreditava que aquilo tudo era demais pra ele e, por isso, se afastou. Fechou seus sentimentos em um casulo, com medo de expo-los e não aguentar os danos que isso traria a ele. Esse era o problema do pequeno, nos dias difíceis, ele evitava procurar ajuda. Mesmo namorando Jack, pensava ser um fardo e tinha a certeza que naqueles dias; não precisava ser mais uma preocupação na cabeça do Grazer.

Entretanto, Jack também não estava em seus melhores dias. Dylan era uma parte importantíssima de sua vida e perdê-lo, o desestabilizou. A perda não fazia parte do dia a dia, era algo novo e um sentimento que feria, como uma espada penetrada em seu coração. O local doía, machucava, agonizava. E a dor, leva a decisões inconsequentes e imaturas e pensamentos completamente indevidos. A inconstância de Noah naquele momento, fazia o sentimento que ele pensou nunca sentir pelo menor: raiva. O Grazer sentiu raiva do namorado, dele o afastar daquela forma e não pensar que também estava machucado e precisava de apoio naquele momento. Ele odiava pensar daquele jeito, mas se tornou inevitável. Noah era o problema e estava errado, no pensamento distorcido de Jack.

When I see you again  [Joah +Fillie]Onde histórias criam vida. Descubra agora