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E lá está ele novamente, na sacada fumando, puxando e soltando a fumaça que danifica seus pulmões, ele sabe disso, e é o que mais me irrita nisso, ele saber a merda que aquilo traria a seu futuro, e usar aquilo contra a si mesmo.

Eu o observo, suas roupas largas, seu cabelo, o jeito despojado do mesmo, deu corpo magricelo, tudo, e percebendo isso Renjun me olha, logo passando uma das
mãos no cabelo e no rosto, já sabendo que eu iria reclamar de estar fumando.

Fui até ele, e peguei o cigarro de tua mão, fazendo ele olhar para mim, era um olhar cansado, como sempre Renjun tinha olheiras no rosto, o que sempre teve desde adolescente, ele nunca dormiu muito bem.

– Renjun... — Eu disse, e o homem citado já se vira, assim parando de olhar para mim, provavelmente se preparando para mais uma de nossas brigas, por causa de sempre o mesmo motivo. — Por que, Renjun ?

Ele não me responde e continua olhando para frente, como se não tivesse ninguém conversando com ele, eu sempre odiei isso, o jeito em que ele era tranquilo até quando estávamos tentando brigar com ele, ele continuava com aquela merda de voz baixa e tranquila, mas eu sempre soube, um dia ele iria cansar e gritar tudo que sentia.

– Por que, Renjun ? Eu sei que você sabe que essa merda ferra toda a porcaria de seu pulmão, por que ainda fuma essa desgraça ? — Eu disse já com raiva, eu era sempre o único que gritava, já estava na hora de mudar isso. — Se você usa essa merda para ser como os jovens legais de hoje em dia, para com isso !!

– Jaemin, você sabe que não. — As primeiras palavras dele nessa noite, ainda sendo calmas.

– Olha para mim !! — Eu viro seu corpo em minha direção. — Olha para mim, e fala por que ainda usa essa merda.

Renjun olha nos meus olhos e consigo ver a raiva crescendo,  tanto que o garoto tenta sair de perto de mim, mas seguro seu braço com mais força.

– Quer saber ? Foda-se essas merdas de jovens que acham que fumar te torna legal, essa porra fode teu pulmão devagar, e você consegue sentir isso, você não começa a fumar porque é a melhor coisa, você começa a fumar porque tudo te estressa, e você sabe que se você parar do nada, você dá um surto, e quando menos esperar você está lá, na frente de um lago, ou uma ponte, pronto para de jogar e acabar com essa merda de vida que você leva. —  Renjun fala, eu sinto que ele finalmente explodiu, ele cansou-se finalmente de guardar tudo para si, e está na hora de ouvir.

– E sabe, Jaemin ? Eu não queria levar a merda da vida que eu levo hoje, você sabe o quanto eu estudei, eu sempre quis ser professor, e você sabe desse meu sonho de merda, eu não estudei para ficar olhando para a porra de uns adolescentes que sinceramente, a única coisa que fazem naquela desgraça de escola, é aumentarem meu estresse, e foderem com a vida dos outros e a própria vida. — Ele diz  e então começa a descer uma lágrima de seu olho.

– Sabe por que eu fumo ? Porque essa coisa toda me fez assim, eu olho para todos aqueles adolescentes de Segunda a Sexta, quando não tenho que olhar Sábado e domingo também, e eu olho para eles, e me vejo com a mesma idade, quando eu beijei o primeiro garoto, e eu fui espancado e deserdado, pelas pessoas que deveriam me apoiar, e me impedir de ser espancado, como me espancaram, e deserdado, como eles próprios me deserdaram, eu olho para eles, e me lembro de ir chorando para a sua casa, no qual até hoje moramos juntos. Eu me lembro de tudo que me falaram, literalmente tudo, de cada palavra a cada suspiro.

– Renjun. — Eu abracei o garoto a minha frente, fazendo carinhos no cabelo do mais baixo.

– E sabe o pior, você sabe que eu não tenho expectativa de vida alta, eu não me vejo vivendo mais que 60 anos, mas mesmo assim, sempre pensei que nós dois iríamos morar numa casa linda, enquanto idosos, e quando crianças invadissem nosso quintal, eu gritando com elas e jogando a bola na cabeça delas, enquanto você as dava balinhas, seu fraco sempre foi crianças. Eu sempre me imaginei morrendo sabe, com o cigarro, eu me imagino com um tumor no pulmão, morrendo e mentindo para mim mesmo falando que a vida foi boa enquanto durou, mas quando jovem, meu sonho, era parar de sonhar, justamente parando de viver, com um ataque cardíaco, e sem o cigarro, eu sei que não sobrevivo, você sabe de meus problemas, eu sei dos seus, você sabe que caso eu tenha surtos, a primeira coisa que vou pensar é você, e se você não estiver perto, a segunda coisa que vou pensar, é em desistir de tudo,  e o cigarro me impede de tudo isso, eu não fumo porque quero, e sim porque é minha saída, e sinceramente, essa droga tem o pior gosto, além de me deixar fedendo, e estragar meus dentes.

– E quando parar de fazer efeito, o que você pensa em fazer ? Ir para as drogas ? — Pergunto, eu ainda estava perto do mesmo, porém não o abraçava mais.

– Quando parar de fazer efeito ? Eu já estaria olhando para você e dizendo que você foi o maior anjo de minha vida, e no dia seguinte você seria o único naquele funeral vazio.

– Você é muito pessimista, ainda podemos ser velhinhos bem juntinhos, com você xingando todo mundo que te desse bom dia, e comigo dando bala para todos que você xingou, por favor, injun, da tempo de acabar com tudo isso que te traz preocupações, estresses, tristezas, e sermos apenas nós dois, e nosso gato. E você não precisa do cigarro, eu estou bem aqui ao seu lado, para quando tiver teus surtos, eu vou estar aqui, te abraçar e te amar com cada célula do meu ser, e vou te acalmar como sempre faço.

A essa altura, Renjun já estava soluçando, e eu abraçando ele, eu sabia que só de falar isso não iria acabar com teu vício 100%, não é assim que tudo funciona, mas eu sabia que de ele conseguir me falar do porquê disso, nós já poderíamos cuidar da vida.

“Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras.”
— William Shakespeare

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