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- Sarina! - Escuto minha mãe me chamar da cozinha e caminho até ela.

- Sim, mãe?

- Pode ir até a casa da sua avó?

- Sim, posso sim.

- Pode levar o presente que eu comprei pra ela.

- A senhora comprou um presente pra ela?

- Sim, ela fez 50 anos de casamento a poucos dias.

- Ah, eu não sabia... Deveria ter me contado, eu teria ido até a casa dela fazer uma visita.

- Tá tudo bem, ela não vai ficar triste por isso... - Escuto um sorriso baixo e reviro os olhos.

- Onde está o presente dela?

- Em cima do sofá.

Me levantei e peguei a caixa colorida e fui até a porta da frente, do lado de fora pude ver minha bicicleta cor de rosa, tenho ela desde quando era mais nova e era um orgulho.

Com a bicicleta eu demoraria pelo menos meia hora pra chegar na casa da minha avó, mas com certeza valia a pena ver o sorriso dela. Minha avó morava do lado de fora da cidade, perto do cemitério, um dos fatos que me fazia gostar mais da casa dela.

Como sempre, assim que cheguei chamei ela da porta, pude ouvir barulhos na cozinha e entrei sorrindo, deixei a caixa em cima do sofá e fui até a cozinha me encontrar com ela. Estava de costas mexendo em algo no fogão, abracei ela por trás sentindo o cheiro de rosas invadir meu nariz me fazendo arrepiar de prazer, me orgulhava tanto dela.

- Bom dia vovó...

- Bom dia princesa, como você está?

- Bem, queria ter vindo te ver antes, mas a mamãe não me avisou do seu aniversario.

- Tudo bem meu anjo, pelo menos voce se lembrou.

- E como a senhora está vovó?

Ela sorri e se vira soltando a panela com ovo e bacon, em seguida segura minha mão e aponta para a cadeira.

- Você já tomou café da manhã?

- Não, eu acabei de me acordar...

- Quer tomar café da manhã comigo?

Dessa vez fui eu quem sorri, ela representava total ternura e isso me fazia tão feliz, eu nunca ficava feliz perto de ninguém da mesma forma que ficava feliz quando estava perto dela.

Assenti e vi seus olhos brilhar, o fato de ela morar longe fazia com que s preguiçosos dos seus filhos não a visitassem, assim como os outros netos, eu poderia correr o risco de dizer que apenas eu e minha mãe nos importávamos com o bem estar dela.

- Alguns dos filhos da tia Sara veio visitar a senhora?

- Não, ela disse que não traria mais eles por causa do incidente no cemitério.

- Mas já faz tempo que isso aconteceu, até hoje não vieram aqui?

- Não, mas tudo bem, porque eu tenho voce princesa. - Ela sorri e passa a mão em meu rosto com carinho.

- Eu te amo vovó.

Sorri e ela me abraçou. Depois de ficar a manhã toda conversando sobre como tinha sido o casamento dela antes do meu avô morrer minha mãe me ligou para eu voltar pra casa, já era 15:00hrs quando ela ligou e eu já tinha almoçado.

Me doía o coração saber que ela passaria o resto do dia sozinha naquela casa tão longe de tudo, mas ela se sentia bem ali naquele cantinho longe da pressão familiar que a tia Sara fazia co todos nós, apesar de doer meu coração ver ela assim, eu preferia ver ela quietinha ali do que ver ela tendo dor de cabeça com qualquer coisa relacionada a nossa família.

- Eu tenho que ir vovó... - falei olhando a mensagem que minha mãe tinha acabado de deixar.

- Ah, eu queria ficar mais tempo contigo.

- Tudo bem vovó. - Sorri tentando reconfortar ela - Amanhã de manhã eu venho te visitar novamente.

- Vai vir mesmo? - Vejo os olhos dela brilhar e assinto - Antes de ir... Eu tenho um presente para você.

Franzi o cenho, era o aniversario dela, não o meu. Ela caminhou até o seu quarto e minutos depois ela voltou com uma caixa na mão

- Não precisa vovó.

- Eu queria te dar isso a algum tempo, achei há alguns meses atrás e achei que fosse gostar...

Ela me entregou a caixa com uma manivela separada.

- É uma daquelas caixinhas de surpresa? - Sorri e ela assenou.

- Fora a manivela ela parece estar em perfeito estado, eu a limpei e guardei pra você.

- Obrigada vovó! - Abracei ela a apertando de leve e ouvi ela soltar uma risada.

- Ah, além disso, pode entregar alguns presentes aos seus primos por mim?

Soltei ela e assenti, em seguida ela voltou para o quarto e trouxe uma sacola com alguns palhaços de porcelana. Eram lindos, tinha um rosa, um azul e um verde, todos em perfeitos estados, como se haviam sido acabados de ser feitos.

Me lembrei de ver ela zelar por seus bonecos de porcelana, ela tinha uma coleção incrível de bonecos e bonecas de todos os estilos, a maioria eram antigos, bonecas que foram feitas a décadas atrás e que não se encontravam nos mercados atuais, a não ser que sejam lojas de coisas antigas.

- Tem certeza que vai dar esses bonecos para aqueles animais? - peguei a sacola analisando os três palhaços sorridentes.

- Tenho que deixar coisas especiais para os meus netos, depois que eu for ficar juntos do seu avô, vocês não terão mais nada para se lembrar de mim.

- Vovó não fala assim, sabe que eu odeio quando você fala sobre essas coisas.

- Desculpe princesa, mas sabe que logo logo eu terei que ir...

- Eu amo você vovó, e a senhora não vai morrer tão cedo.

Ela me abraçou uma última vez em seguida eu saí.

What comes out of the box? - Jack RisonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora