Colmar, 17pm.
Parque Do Campo de Marte.
Estava sentada no banco da praça onde por algum motivo tinham vários casais nos pedalinhos do lago. O frio era grande, o vento estava violento. E eu conseguia sentir minha espinha arrepiar só de lembrar que não me contentava (ainda) com a quantidade baixa de blusas que teria posto naquela manhã. Por tudo aquilo, meu corpo merecia muito mais.
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Pela personalidade, já era de se esperar que eu estaria de pé antes mesmo do meu despertador tocar, mas por um imprevisto, eu não consegui dormir a noite toda. A insônia sempre arrumava um jeito de me pegar, de fazer com que a minha cabeça ficasse revirada junto de lembranças que eu gostaria muito de esquecer.
Naquela manhã fui até a cozinha, coloquei a água para esquentar e decidi que faria um chá mesmo sabendo que tudo dentro de mim gritava, que algo martelava sem parar. Todas aquelas palavras eram cruéis, foram jogadas na minha cara em um momento de fraqueza e por ignorância, eu me lembrava disso todos os dias.
"Por que você não pode ser normal como todas às outras pessoas?"
"O que houve com você?" - "Você será humilhada diante de todos!"Sim, eu sabia que não seria fácil. Viver em um mundo onde todos tem uma mente fechada onde não aceitam novas ideias, novos recomeços é bem complicado. Eu sou livre, então mesmo que a vontade de tomar o chá tenha ido embora, eu sei que posso acabar mudando muita coisa.
... Tomei um comprimido, pode ser que o ante-depressivo faça efeito, como pode ser que eu fique na mesma. Depois de tanto tempo, seu corpo acostuma com qualquer droga dentro dele.
Meus agasalhos estavam bagunçados no mancebo, então peguei o primeiro sem me preocupar se combinaria com o restante das minhas roupas. Eu estava atrasada, mas não que isso tivesse alguma importância já que meus alunos nunca eram pontuais.
Era pouco tempo daqui até a String Company que era onde eu dava minhas aulas de piano. Pois é, eu era professora. Uma professora de artes, aquela que ninguém gosta no colégio.
O fato é que, eu amava a minha profissão e tudo que existia nela.Não costumava ser mal-humorada, mas eu não estava bem comigo mesma, então quando eu entrei não me apresentei, não dei um "bom dia", apenas fui para minha sala esperar. Tudo até então parecia calmo e tranquilo ainda que dentro de mim estivesse bagunçado, por isso fiz o que sei fazer de melhor... Eu toquei. Escolhi Quand Je Ferme Les Yeux da Annie Villeneuve.
Meus dedos tocavam às teclas lentamente, enquanto eu me libertei acompanhando ao ritmo com a minha voz. Quando você se deixa levar por aquilo que lhe faz bem, tudo melhora. Pode ter certeza disso, por isso eu digo, experimente todas as sensações possíveis e não tenha medo.
No meio da música, uma voz conhecida. Não era a minha.
- Eu sempre digo que você é a melhor pianista que eu conheço. - Disse Chaelie, encostado prto da porta me observando. Quanto tempo fazia que ele estava ali?
- Hoje você não me disse isso. - Blefei, apenas para descontrair.
Charlie tinha uma personalidade forte, ele era gentil.Uma pessoa de bem com a vida, sempre estava feliz e achava um motivo pra isso. É aquele amigo que trás paz, tranquilidade. Ele é uma harmonia no meio do caos, eu gostava da companhia dele.. Da companhia.
- Você tem uma nova aluna, Sra. Spiller. - Eu odiava ser chamada assim.
Bom, eu precisaria recomeçar aquela música, mas era algo que eu não iria fazer. Tocar requer silêncio e a porta da minha sala estava me atrapalhando. Alguém, não vi de imediato, entrou e fez questão de querer avisar isso para todos ali no primeiro andar. Não me surpreende.
Olhei, era uma garota. Cabelos castanho, olhos na cor de mel. Ela era bonita e muito mau vestida o que fez com que eu lhe medisse, não que ela se importasse já que foi jogando sua bolsa em qualquer canto da sala. Desaforada e cafona.
- Bom dia. - Falei já me levantando. Fui em sua direção e lhe estendi a mão.
- Seu dia começou bom? - Ela debochou. Estou vendo que será difícil.
- Pode me dizer seu nome? - Tentei parecer simpática, o não era fácil.
- Me chamo Alicê. Você é a minha professora?
Assenti com a cabeça segundos antes de me pronunciar.
- Me chamo Laura. - Sorri. - Espero que seja um ano bom para nós duas.
- Tanto faz, cara.
Eu tinha um espaço que eu usava somente com meus alunos, então levei-a até lá. Ela já sabia o caminho já que, era logo ali ao lado. É que assim, meu piano era o meu piano. Não me sentia bem quando tocavam nele, por isso solicitei outros no mesma sala. Esses eram deles.
Ne Me Quitte Pas era a música que eu iria ensina-lá. Eu fiz teoria por anos, então além de ser obrigada a saber tudo sobre todas às notas, eu ainda era professora, o que ia além. Quando comece a explicar tudo que ela precisava saber, percebi que, seu interesse era grande e ela, por sua vez já tinha algum conhecimento em mente, o que me deixou feliz.
Suas mãos eram leves e ela tinha calmaria em tudo que fazia, então foi uma surpresa ver que a primeira parte ela pegou com tanta facilidade. Parecia que ela já conhecia. Ela era uma das minhas melhores alunas.
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A Última Nota [NEW FACE]
RomanceEssa acontecimento foi algo que veio sem querer, mas venhamos à admitir... Foi o melhor "sem querer" que eu pude imaginar.