Obsessão

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Calor, tudo que eu me lembro de sentir era calor, toda noite por toda minha vida, um calor agoniante que me preenchia toda noite desde do meu nascimento, incessante e constante até queimar meu ossos, mas esse calor não era a única das coisas que incomodavam. No dia fatídico de 09 de outubro de 1999 eu nasci, em Mave, uma cidade pequena e excêntrica, com uma peculiaridade além das florestas que atraem os turistas e os lagos ao seu redor, essa peculiaridade que eu falo os turistas não chegam perto, muito menos os moradores, a peculiaridade é o "buraco Maven" Onde ocorre situações muito estranhas como o fato de que todas as câmeras que são colocadas em seu fundo param de filmar, as construções próximas a ele desmoronam, e os pássaros não passam por cima dele, muitos dizem que é a própria porta do inferno, outros de que é onde vivem os monstros, eu por acaso ou causa de algo, sempre me senti atraído por esse lugar, toda vez que olho para aquela escuridão gigantesca e sem fim murmurando em meu ouvido " Se jogue" Me sinto parte dele, é o único lugar onde o calor passa e a sensação de vida me vem, de alguma forma algo me liga a ele, é como uma obsessão, palavra que define basicamente meu eu até os 13 anos, até o ponto que eu acreditava ser normal, antes de eu me jogar no maven e sentir o calor passar, o ar passar pelos meus pulmões e eu ser que realmente sou.

_Atlas acorde, falta 30 minutos , você vai se atrasar.
_Falta 32 minutos, ainda tenho tempo.
Aos 8 anos eu vi Hend Detuno discursar como representante de minha turma no primário sobre mudanças causadas pelo aquecimento global, foi o que bastou para dar início a minha obsessão sobre Hend, desde desse dia eu mudei, eu vivi 6 anos da minha vida obcecado por Hend Detuno. Meu primeiro dia no secundário foi marcado principalmente pelos hormônios, pela euforia e pela tentativa de achar na mesma sala os nomes Atlas Taisen e Hend Detuno, infelizmente o dia terminou em frustração, Hend ficou em uma sala diferente da minha, mas eu tinha tanto tempo para ver ela nos intervalos que não me importei muito, ela nem sabia quem eu era, e eu queria que continuasse assim, anônimo, ninguém precisava saber do quanto eu era obcecado, das fotos em meu mural dela, tiradas por uma câmera antiga do meu pai, todas com uma pose diferente, Hend era graciosa, estonteante para um garoto de 12 anos, todo intervalo eu subia ao telhado, preparado para tirar as fotos dela, todo intervalo ela sentava no 3 degrau da escada do 3 andar ao lado da sala dos professores, as vezes com amigas, as vezes só, de qualquer maneira a pele bronzeada morena, reluzente sobre a luz do sol amarela em tons de marron e vermelho, o cabelo longo até a cintura que cintilava tons de azul e preto e exalava o cheiro de Petúnia, os olhos castanhos escuros que transmitiam superioridade, todos esses aspectos transpassam a lente da câmera e acabavam em meu mural, foi de uma a uma, 1204 fotos, recortadas pelas bordas para caber em relação ao tamanho do mural, os dias se passavam e ela ficava cada vez mais deslumbrante, não eram meus hormônios, ela realmente era magnifica, como uma divindade para mim, nunca ousei pensar em coisas banais em relação a ela, ela era muito mais que isso, cada sorriso, palavra, gesto era delicado e apreciando com os olhos, era perfeito. Depois de 1 ano e 10 meses no secundário, eu estava disposto a falar com ela, a confessar meu amor, dizer que o jeito que ela comia era lindo, que o andar dela era de uma dama, que a graciosidade de seus gestos eram como de uma Deusa, pronto para qualquer resposta, eu não aguentava mais continuar na plateia, alguém podia tomar meu lugar, o meu lugar de direito por apreciar a beleza dela por 6 anos, então eu fui, era o dia da cerimônia de entrega do novo uniforme, tirei algumas fotos dela discursando, e era a hora, ela estava sozinha no 3 degrau da escada do 3 andar, eu corri, com minha pasta pendurada no braço esquerdo e com o coração palpitando a mil batimentos por segundo, quando cheguei ela não estava mais só, tinha duas amigas e um garoto, pensei comigo "vou chamar ela para um lugar mais reservado e dizer" Eu escuto de umas das amigas, "... Ele quer te contar algo" O garoto de cabelos loiros se levanta, e quando ia dizer algo eu o paro, sabia o que ele ia dizer, mesmo eu não tendo chances contra aquela aparência, ela me escolheria, afinal eu conheço ela mais do que todos, eu me aproximo;
_Hend, eu- eu preciso te dizer-
Tropeço no quinto degrau e acabo no chão, que vexame, quando ia me levantar o pecado aparece, as fotos de minha pasta espalhadas pelo chão, os murmúrios das amigas como "nojento", "estranho" E "que medo" Não significaram nada, o garoto me puxou pela gola, me levantou e pediu pra eu explicar, tudo aquilo estava confuso para mim, mas o que importava era Hend, que com olhos de nojo, pronunciou " Eu tenho medo de você, Kay tira ele de perto de mim!" Enquanto eu escutei aquelas palavras meu coração se partiu, aqueles olhos de superioridade me olhavam com nojo, o garoto apertava minha gola e me puxava para trás, dos meu olhos escorriam lágrimas de desespero e vergonha, eu não aguentava mais, me soltei e corri, deixei a pasta para trás, as fotos, só com a câmera eu corri, corri e corri, sem olhar para trás até o maven, o sol estava se pondo quando eu olhei para aquela escuridão, ela era igual a mim, estranha e nojenta, dizia em meu ouvido " Se jogue", " Se jogue agora " eu deixei a câmera no chão, já estava tudo acabado, meu amor, minha vida, tudo tinha ido por água abaixo, tudo por culpa minha, o calor consumia o meu corpo, ardia em meu peito, eu queria que aquilo parasse, e com um pulo parou, o ar entrava nos meus pulmões, o calor passava, a escuridão me abraçava, tão serena , eu fiquei alegre, senti o peso em meu peito, toquei a água no fundo do buraco. Eu mergulhei no maven como um Garoto Nojento e obsessivo, o maven me tirou de lá como um Atlas.

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Um Atlas geográfico sobre o fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora