Prólogo

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A chuva torrencial do lado de fora de seu pequeno quarto não conseguia calar por completo seus gritos. Os sons da cinta indo de encontro ao seu corpo eram grotescos e ritmados, e o pior é que Benjamin sequer sabia o por que de estar sendo surrado. Talvez, no outro dia seu pai alcoólatra culpasse as suas longas doses de tequila, ou diria alguma desculpa esfarrapada como 'você sujou o piso com os seus sapatos enlameados outra vez'. Ou como de costume, ignoraria a sua presença e esqueceria de lhe dar comida.

Gunter Cole, um sujeito alto e encorpado com seus 1.92 cm, conjunta a pele marcada por tatuagens o deixavam com um ar de 'cara mau', e ele realmente era, da pior forma. Gunter era um irresponsável mal caráter e sequer se importava com isso, com seus mais de vinte anos de serviço ao governo - de forma corrupta, é claro - e distintivo de coronel da polícia, ninguém realmente se perguntava o que poderia acontecer em sua casa, ou com seu filho 'problemático'. 

O suor de Gunter começou a cair por seus olhos cinzentos, assim, respirou pesadamente um pouco e parou com o ataque, para o talvez alívio de Ben. Gunter xingou baixinho e jogou o cinto em algum lugar do quarto causando um estalo metálico. Ben abriu os olhos apenas quando teve a certeza que seu pai já estava no andar de baixo. Seus olhos doíam por ter os mantido fechados fortemente, mas a dor deles não se comparava as de suas costas expostas. Seu pai não se importou em se precaver contra a fivela, e o metal acabou o marcando em linhas longas por toda a sua extensão pálida.

Ben demorou cerca de 17 minutos para conseguir se levantar, rastejar, e tirar suas calças para que pudesse entrar debaixo do chuveiro. Teve que tapar a boca para que seu grito agudo não acordasse todo o quarteirão, se é que já não haviam acordado. Enquanto sua cabeça estava reclinada contra a parede e suas costas ensaguentadas eram lavadas pela água, Benjamin pensou e pensou, e pensou novamente a respeito do acontecimento de minutos atrás. Perguntou-se quanto tempo mais aquilo duraria, se ele nunca iria enjoar de surrá-lo para afogar as mágoas, e se um dia alguém perceberia que o estranho adolescente filho do herói de NY, na verdade era o saco de pancadas preferido do mesmo?.

Bom, a resposta é simples, não notariam e mesmo se notassem, não fariam nada a respeito, e isto, é um fato inegável. As pessoas comumente se dizem boas samaritanas, justas e trabalhadoras, mas isto é apenas uma fachada, o que elas realmente são está por dentro, e há pessoas doentes que sabem disso. Os a margem da sociedade, a ralé, ou até os loucos, eles sabem o que é a verdadeira sociedade, e são considerados insanos por irem contra todas as regras, mas, é libertador poder ser o seu verdadeiro eu. Só que o pequeno Benjamin era diferente, mas os outros, não eram tanto assim.

Porém, assim como ninguém percebia que Gunter culpava Benjamin pela fuga de sua esposa vadia com um bancário qualquer de 20 e tantos anos, também não notaram quando os primeiros sinais de loucura começaram a surgir na cabeça e nos atos de Ben, e talvez eles, agradecessem por isso.


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