Monótono

Capítulo 7: Congelado

  O café da manhã, como sempre, é tranquilo. Wangji silenciosamente folheia o jornal, seus olhos percorrendo cada artigo com pouco interesse. Os assuntos humanos não importam para ele, menos ainda o entusiasmo com celebridades ou tendências que ele nunca conseguiu entender. Ele nem sequer dá uma olhada nos artigos sobre novos filmes e programas de drama. Jingyi acabará dizendo a ele tudo sobre eles de qualquer maneira, ao invés de realmente tocar piano, como Wangji o solicitará.

  Neste ponto, Wangji perdeu a esperança de alcançar as expectativas de seu tio sobre o que ele quer de Jingyi. Ele terá que conversar com ele sobre interromper as lições de Jingyi, não que isso impeça o adolescente de invadir sua casa todo fim de semana para incomodar Sizhui.

  Wangji toma um gole rápido de café, lendo um artigo. Problemas na Cidade Sem Noite,  o título diz, pegando-o desprevenido.

  Ele logo descobre que não há nada com que se preocupar. A Cidade Noturna agora, ao que parece, é um grande cassino em Qishan. Nada como a grandiosa residência dos Wens, onde o sol aparentemente nunca se pôs, e onde suas chamas ardiam muito, mesmo para eles. Wangji lê rapidamente o artigo, pulando a maioria dos detalhes. O cassino abriu apenas recentemente, embora já seja popular entre celebridades e ricos. Talvez a única coisa que tenha em comum com a Cidade sem Noite original seja que este cassino também esteja atraindo problemas, com brigas e disputas acontecendo em seus salões quase todos os dias.

  Mas é isso que acontece quando você reúne os gananciosos. Wangji balança a cabeça para si mesmo. A humanidade e sua sede por bens materiais é o que ele mais odeia na sociedade moderna. Com um suspiro, ele coloca o jornal no chão.

  Sizhui ergue os olhos do café da manhã. "Pai ... como você está?"

  Wangji levanta uma sobrancelha.

  "... Eu não pretendo bisbilhotar, mas você não está mais conversando com o professor Wei?"

  Ele toma um gole lento de sua bebida. Não,  seria a resposta para isso. Não daqui a duas semanas. Wei Ying não enviou um único texto e Wangji não quer incomodá-lo. Eles se cruzam sempre que ele precisa buscar Sizhui na escola, mas suas saudações rápidas são vazias e estranhas, na melhor das hipóteses. O sorriso de Wei Ying nunca atinge seus olhos.
Wangji balança a cabeça.

  "Oh", diz Sizhui, ombros caídos. "Eu pensei..."

  "Não é nada."

  É isso que ele tenta se convencer de qualquer maneira. Enquanto Wei Ying estiver seguro, isso será suficiente. Wei Ying nunca lhe pertenceu, Wangji não tem o direito de tentar mudar esse destino.

  Sizhui solta um suspiro, empurrando sua tigela para longe dele. Ele não terminou seu café da manhã hoje.

  "O que há de errado?", Pergunta Wangji.

  Por alguma razão, o adolescente se recusa a encontrar seus olhos. É raro Sizhui murmurar, muito menos se mexer assim. Wangji o ouve respirar antes de finalmente falar.

  "Pai, eu sei que você vive há muito tempo ..."

  Wangji faz uma careta. Isso é novo. Sizhui nunca fala sobre isso. A única vez que discutiram a imortalidade de Wangji foi quando um Sizhui de nove anos perguntou pela primeira vez. Wangji estava começando a pensar que havia se esquecido disso depois de todos esses anos.

  Isso, ou ele queria manter uma vida normal, apesar de sua figura paterna ser imortal.

  "Quero que você seja feliz", diz Sizhui. Ele hesitante encontra os olhos de Wangji, cauteloso.