História Curta de Terror - O Ácido

O Ácido

Desde aquele dia que meu pai chutou Luke eu nunca mais ouvi seu latido ou senti sua lambida morna em minha pele. Só o que vi foi seu corpo imóvel, molengo como a comida que meu pai prepara para nós, ele parecia estar coberto de sangue, mas quando o toquei e levei o dedo a minha boca, o gosto metálico fez meu corpo estremecer com nojo, foi ai que entendi o que estava acontecendo, meu pai matou Luke.

Eu abracei seu corpo morto e senti o líquido avermelhado morno encharcar minhas roupas como se estivesse em uma chuva vermelha. Meu pai dizia para soltar o cachorro, que ele ia jogá-lo no lixo, mas eu não pude, não pude deixar que isso acontecesse. Senti meus olhos serem preenchidos por lágrimas que me cegaram momentaneamente, mas Luke continuava lá, imóvel.

Apesar dos meus esforços, no próximo dia, vi meu pai jogar o corpo dele no lixo ao lado da porta dos fundos com meu quarto tendo uma vista privilegiada. Não entendi o porquê dele carregar sua arma e fazer o crânio de Luke se espatifar como os ovos de páscoa que recebia de minha mãe.

Luke sempre foi um bom cachorro comigo, abanava seu rabinho quando o chamava, passava sua língua gosmenta e pegajosa em minha bochecha quando subia em minha cama, agora tudo se foi, meu único amigo foi morto pelo meu pai. Porém, eu pude sentir as ideias borbulhando na minha cabeça, existe um meio de Luke permanecer meu amigo para sempre.

Pude sentir minhas pernas serem preenchidas por alegria e vigor quando sai correndo do meu quarto e fui em direção ao lixo do lado de fora. Esperei uns minutos até meu pai ir para seu trabalho e fui até o lixo. O corpo de Luke estava rodeado por moscas e larvas finas e grudentas como macarrão mal preparado, mas não liguei para esse de inconveniente, ele merece isso afinal.

Eu descobri afinal, a fórmula para manter as pessoas juntas para sempre. Fui até o galpão de meu pai no lado oposto da casa, o corpo de Luke ao se mexer faz um barulho engraçado de carne sendo moída pelo triturador que meu pai usa para fazer hamburgers para nós. Seu cheiro é tão pútrido e horrendo que acabei vomitando metade do que comi noite passada no meio do caminho, mas não importa, o que importa é que vamos ficar juntos Luke.

Eu entrei no galpão do meu pai e vi diversos tipos de potes com nomes de compostos químicos e diversos objetos de laboratório iguais aos que usamos na escola de vez em quando. Coloquei Luke em cima da mesa, e procurei pelos químicos potentes, os que meu pai e professor de química chamam de ácidos. Peguei uma de muitas garrafas de um composto chamado "ácido sulfúrico concentrado".

Dentro do galpão de meu pai, há uma enorme quantia de baldes para por coisas dentro, ele sempre me disse para ficar longe desse lugar, talvez ele queria esconder esse segredo de mim, será que ele fez a mesma coisa com a minha mãe? Será que foi assim que eles ficaram juntos para sempre?

Eu deixei as ideias flutuarem na minha cabeça como um barco no oceano e me concentrei na tarefa importante, tinha que fazer Luke se juntar a mim como meu pai fez com minha mãe. Peguei seu corpo de cima da mesa e cuidadosamente o coloquei para dentro do tambor de plástico, antes de colocá-lo lá, fiz questão de dar um beijo em sua cabeça.

Ao beijá-lo, senti um gosto imprescindível de ferro e podridão corroendo minhas entranhas, senti um enjoo momentâneo e meu estomago roncar como se tivesse vida própria, entretanto, consegui colocar o corpo de Luke lá dentro e então despejei completamente a garrafa dentro do tambor. Como eu esperava, não foi suficiente para encher o tambor, então peguei mais e despejei com vontade enquanto vi o corpo de Luke ser engolido por uma imensidão de vapores. Pensei comigo mesmo, talvez eu deva esperar para ver o que vai dar, talvez a magia de ficar com Luke levasse um tempo, então escondi seu tambor junto com os vazios e fui até a rua.

Quando me dei por conta, já era quase noite e meu pai estava chegando em casa, se ele me visse aqui, com certeza levaria uma surra e tanto. Corri até meus pulmões esvaziassem por completo e me deitei em minha cama, meu estômago grita por comida, mas preciso dormir para o tempo passar e eu finalmente poder ficar junto de Luke.