Ethan estava nervoso e roía suas unhas compulsivamente, não sabia de onde havia tirado a coragem de chamar Sophie, a garota mais bonita da escola, para um encontro. Lembrava de gaguejar e suar frio e então lhe fazer a pergunta, que lhe foi respondida com um animado: Sim!
Eles haviam marcado na sorveteria perto da escola, que era frequentada pelos casais do ensino fundamental e médio. Diziam que os casais que tomavam sorvete alí ficavam juntos para sempre. Ethan por morar perto chegou primeiro e estranhou o quão vazia a sorveteria estava naquele dia. Antonello, o italiano dono da sorveteria acenou para ele e ele o retribuiu. Ethan era um cliente frequente ali. Toda vez que recebia sua mesada ele ia na sorveteria e comprava seu milkshake favorito, o de morango.
— Tá vazio aqui hoje. É feriado e eu não sabia?
— Não que eu saiba, menino. Vai querer o de sempre?
— Na verdade estou esperando alguém.
Ethan brincava com os dedos, só de falar nela já ficava nervoso. Imaginava quando ficasse frente a frente com ela. Seu coração disparou só de pensar na hipótese disso acontecer.
Antonello o sacudiu pelos ombros com um largo sorriso.
— Achou sua bambina, menino?
— Eu só chamei ela pra sair.
— Então um milkshake de morango para comemorar!!
Ele estava cada vez mais nervoso, fazia mais de uma hora que Sophie estava atrasada. Ele já havia tentado ligar mas todas as ligações caiam na caixa postal. Era isso, ele tinha levado um belo de um bolo.
Antonello fechou a sorveteria pro horário de almoço e perguntou a Ethan se ele queria comer.
— Não, obrigada. Vou indo pra casa, seu Antonello.
Com um suspiro derrotado Ethan se levantou ao som do rádio do sorveteiro, que tocava alguma música do Paramore. Antonello reclamou e trocou de estação, parando em uma de noticias, a voz no rádio saia entrecortada por chiados.
— ... Fiquem em casa! .... perigoso.... Não devem...
E o rádio se tornou pura estática. Olhei para Antonello que parecia tão confuso e assustado quanto eu. Me lembrei imediatamente de Sophie.
/////////////////
Sophie se arrumava para o seu primeiro encontro. Nunca havia saído com um garoto sem que fosse acompanhada por um grupo de amigos.
Enquanto penteava seus longos cabelos castanhos pensava em como seria seu primeiro encontro. Suas amigas haviam a dito que ela deveria deixar ele pagar o sorvete e Sophie achou aquilo um absurdo. Ela trabalhava como babá aos fins de semana e ela iria o ajudar a pagar sim.
O celular dela vibrou chamando sua atenção para a tela sob a penteadeira. Era uma mensagem de sua mãe avisando que ia ficar no trabalho mais um tempinho. Sophie bufou e pegou o celular para responder a mensagem.
{Tudo bem né? Sua vida é nesse hospital mesmo.]
[Sophie! Não fale assim comigo.}
[Chegou um paciente em estado de emergência}
{Mãe, me poupe dos detalhes. Vou sair já já.]
Ela bloqueou o celular e o jogou longe na cama, o escutando tocar mais duas vezes, o ignorando dessa vez.
Sophie pegou seu carro, um jeep wrangler preto, que havia ganhado de seu pai em seu aniversário de 17. Ele era seu xodózinho e não pretendia o trocar por nenhum carro do ano. Ela morava na cidade vizinha e esperava não acabar pegando um engarrafamento, já que era hora de rush.
Ela estranhou quando viu a rua vazia, com somente alguns carros passando em direção à Blackhighs. Deu de ombros afinal a estrada em direção à Leaveside estaria livre, e era essa que ela iria pegar. Ligou o rádio e ficou trocando de estação distraidamente.
— Nenhuma música legal nessas rádios.
Um baque a assustou e a fez frear. Pelo o barulho ela tinha atropelado algo grande. E isso a fez hesitar em descer de sua picape. O rádio que estava chiando começou a reproduzir outro som. Como se fosse um grunhido. Sophie pôs a mão no peito e respirou tentando controlar as batidas do seu coração.
Uma parte dela queria abrir a porta do carro e checar o que havia acontecido, mas outra queria colocar o pé no acelerador e fugir dali. Ela sempre foi uma garota sensível e intuitiva. E estar naquela situação despertou algo nela, algo que a fez acelerar o carro sem olhar para trás...
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Ele não era o garoto mais atlético, Ethan era mais do tipo que se escondia nas aulas de educação física, e se arrependia amargamente disso agora. Não havia corrido nem meio quilômetro e já estava cansado, ofegante e não conseguiria falar nem se quisesse muito.
As ruas estavam vazias enquanto corria, algumas casas tinhas suas portas abertas assim como as garagens, como se todos tivessem saído na pressa. Não sabia o que tinha acontecido no tempo que ficou dentro da sorveteria, mas o mundo parecia estar acabando.
Se jogou no chão de casa assim que fechou a porta, respirando todo ar que podia. E fez uma nota mental de fazer mais exercícios.
— Mãe? Pai?
O único barulho que ele escutou foi de música que parecia vir do quarto de seu irmão mais novo. Subiu as escadas correndo mas não encontrou ninguém lá também. Estranhando resolveu ir até a cozinha, sempre que sua mãe saia ela deixava um bilhete preso á geladeira. Estranhou mais ainda ao ver que não havia sido deixado nenhum bilhete, nenhuma nota. O que de tão ruim poderia ter acontecido para não deixarem nenhum bilhete?
A resposta estava na câmera em cima da ilha da cozinha. Aquela era a câmera preferida de seu pai, ele não a deixaria assim jogada.
Ela se encontrava ligada e aberta em um vídeo que havia sido gravado há algumas horas atrás, um pouco depois dele sair de casa.
No vídeo seu irmão Jake brincava com sua bicicleta quando Julio, o filho do vizinho, aparece chorando.
”— Hey, o que houve? – meu pai perguntou se aproximando das crianças.
— Papai mordeu a mamãe. – a criança respondeu ainda chorando. Podia imaginar a cara de confusão que meu pai deve ter feito, porque era a mesma que eu fazia
— Como assim? – antes que a criança pudesse responder o pai da criança aparece na porta da casa deles. E eu preferia não ter visto o vídeo. O pai de Julio estava pálido, quase cinza e seu rosto tinha pus em algumas partes, era nojento. — Senhor Lopez, o senhor está bem?
Ele não respondeu, só começou a correr em direção ao meu pai e as crianças. Eu queria gritar para meu pai correr para o mais longe o possível, mas ele não escutaria. Ele o fez mesmo assim, pegando as crianças e correndo para dentro de casa.
/////////////////
O carro de Sophie apitou e ela percebeu que estava quase sem gasolina, não estava nos planos dela pegar um atalho. Ela só queria sair em um encontro normal, com um garoto normal em um dia normal. Mesmo sem saber o que ela tinha atropelado, ela não tinha uma sensação boa sobre o que era.
O susto anterior a fez pegar atalhos que a fizeram se perder. O painel apitou mais uma vez, avisando que ela precisava abastecer. Sophie desacelerou e começou a procurar um posto para abastecer, e achou um alguns quilômetros a frente.
— Ao menos uma coisa boa.
Estacionou o carro e respirou fundo duas vezes antes de sair, torcendo para que ela não tivesse atropelado uma pessoa. Com o coração palpitando desceu do carro e se dirigiu a frente do carro, e onde ela achava ter ums corpo, não havia nada. Resolveu deixar pra lá afinal não tinha nenhuma pessoa presa em seu para-choque
Com o tanque já cheio resolveu ir à Leaveside checar se o garoto ainda a esperava. Tinha certeza de que havia estragado tudo antes mesmo de começarem a ter algo. Não que ela queria ter algo com ele. Sophie só queria terminar o ensino médio e fazer sua faculdade de engenharia.
Novamente ela reparou o quão vazia a estrada se encontrava, dessa vez seu coração se apertou em um mal pressentimento. Resolveu ligar novamente o rádio encontrando apenas estática.
Procurou seu celular para mandar mensagem para Ethan e percebeu que havia o esquecido em casa. Antes que se irritasse avistou a placa que anunciava que havia entrado em Leaveside.
— Olá doce Leaveside!/////////////
Ethan entendia de ficção científica, ele tinha uma noção do que estava acontecendo. Sentia uma mistura de pânico e euforia.
Correu para seu quarto onde escondia no seu guarda roupa um kit de sobrevivência e alguns mapas. Testou seu canivete e estava tudo em ordem. Correu para a sala e pegou o taco de baseball que costumava ser somente um enfeite.
Encheu uma mochila com roupas e pequenos itens. Estava preparado para o apocalipse.
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Pandemia Z
Science FictionSophie era uma garota normal com problemas familiares normais. Ethan também era um garoto normal e com uma vida normal (até demais). O mundo havia declarado estado de alerta, uma pandemia mundial dizimava à todos humanos. Criando, como Ethan os apel...