Eu vim. Não deveria ter vindo, mas vim. Estou aqui. E ele está lá no palco, lindo como sempre fora, apesar dos seus poucos cabelos grisalhos.
Hoje é a pré-estreia do seu novo espetáculo, uma releitura bem cômica de Romeu e Julieta. Ele a escreveu, ajudou na produção e está atuando.
Está realizando um sonho. Este sempre foi seu sonho, desde que entrara na escola de teatro.
Ele me ligou, falou que iria mandar um convite para mim. Disse que seria importante a minha presença. Que parte deste sonho construímos juntos.
"Nosso amor nunca irá morrer", era o que ele me falava nas noites de amor. "Sem você, como poderia viver? Você é o meu ar".
E olha ele aí! Viveu! Sobreviveu. Como somos tolos quando estamos apaixonados.
Eu vim. Vim por ele, porque sei que este dia lhe é muito importante.
Deixei nosso filho com minha mãe e vim.
Encontrei sua irmã na entrada e ela me olhou surpresa. Acho que não esperava me ver aqui.
Nem sei mais o motivo pelo qual nos separamos. Fomos nos perdendo ao longo dos anos. Interesses que foram mudando, horários que não batiam...
Aí você me pergunta: e o amor? Talvez ainda esteja aqui, talvez não...
Ao final, o espetáculo foi aplaudido de pé. O público adorou. Sempre soube que seu talento seria reconhecido.
Fui cumprimentá-lo nos bastidores. Seria importante ele saber que eu vim. Mas, de verdade, queria vê-lo também. Saber como estava. Descobrir, lendo nos seus olhos, se ainda sentia minha falta.
Ainda sinto a falta dele.
"Oi", falou ao me ver. Quando me abraçou, meio sem jeito, disse: "foi muito importante, para mim, você ter vindo".
Nos largamos do abraço, mas não dos olhos um do outro.
