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Trabalhar sabendo está demitido era completamente estranho para Dexter e, honestamente, ele não conseguia compreender por qual motivo ele ainda estava sentada com o headset na cabeça enquanto a maioria da operação estava colocando pausa no sistema...

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Trabalhar sabendo está demitido era completamente estranho para Dexter e, honestamente, ele não conseguia compreender por qual motivo ele ainda estava sentada com o headset na cabeça enquanto a maioria da operação estava colocando pausa no sistema para fazer absolutamente nada. Talvez ele acreditasse que de alguma forma pudesse conseguir uma transferência para algum outro setor.

— Que merda você está fazendo? — Pedro chamou sua atenção.

— O que? — Assustou-se, saindo brutalmente de seus devaneios.

— Você está atendendo? — Perguntou com incredulidade.

— Já acabei.

Mano, nós já estamos demitidos. Quem liga se o nível de serviço for baixo? — Pedro resmungou. — Coloca pausa pessoal e vamos lá fora. Preciso fumar.

Não recusou, mesmo que não gostasse do cheiro intoxicante dos cigarros. Além do mais, se ficasse estaria sozinho na presença de Thalia que permanecia tagarelando sobre suas aventuras com aquela voz irritante e aquilo poderia ser muito mais perturbador.

Obedecendo ao comando de Pedro, colocou pausa sistêmica para poder sair daquela operação abandonada que mais parecia ser habitada por fantasmas. Do lado de fora da empresa, havia uma pequena área para os fumantes, mas Pedro sempre preferia sentar-se no ponto de ônibus por ser mais confortável do que ficar em pé. Ali gostava de observar o movimento da pequena lanchonete a frente da empresa que costumava estar sempre cheia, mas já fazia algum tempo que o volume de clientes vinha diminuindo.

— Eu não sei o que fazer. — Comentou Pedro enquanto acendia o cigarro de palha comprado algumas horas mais cedo. — Não estou pronto para arrumar outro emprego.

— Minha avó vai me matar. — Dexter comentou. — Não durei um ano... Na verdade, nunca fiz um ano nas empresas que trabalhei registrado. Você ainda tem sorte que vai receber seguro-desemprego.

— Chama isso de sorte? — Colocou o cigarro na boca e inspirou, deixando que as toxinas entrassem em seu corpo para tentar relaxá-lo. — Dex, você não tem ideia de como é complicado para mim arrumar um emprego. É minha cor, é minha sexualidade... E eu ainda vou ter que cortar o cabelo.

— Relaxa, Pedro. — Helena, uma garota de baixa estatura que também era conhecida por ser a melhor amiga de Pedro, apareceu repentinamente, trazendo consigo um pacote de biscoitos. — Confia! Vamos dar um jeito...

Dexter respirou fundo, observando Pedro e Helena se abraçarem por um momento. Em parte, Pedro tinha razão. Mesmo que houvesse muito azar em sua vida para conseguir um emprego, não se comparava a vida de Pedro. Viviam em um país muito tradicionalista, por mais que houvessem avançado muito graças a algumas leis... Mas Dexter jamais entenderia o que era ser um negro e homossexual. Podia se dizer que ele era o que Thalia sempre comentava: um branco privilegiado.

Pedro reclamou pelo restante do dia, deixando Dexter com dor de cabeça em pensar como seria a vida dali em diante. Helena tentava demonstrar que estava tudo bem, mas estava obvio a preocupação que escondia atrás de seu sorriso. Ela tinha que pagar a faculdade e, se não conseguisse outro emprego rápido, precisaria trancar.

Rimas ImperfeitasWhere stories live. Discover now