Linda dançarina

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             Antes que pudesse adentrar o lugar, ele pôde sentir a tensão que o ambiente declarava. O receio era axiomático, assistiria pela primeira vez o ensaio de sua esposa no salão recém-inaugurado. Dirigiu a mão até que ela fosse de encontro à maçaneta, girando-a para o lado, abrenhando o estúdio. Por minutos, permitiu-se admirar o âmbito: Luzes neons arroxeadas, outras azuladas despontavam em direção ao chão de madeira. Os assentos, inúmeros, talvez, eram confortáveis e vermelhos; Tais como as cadeiras de um teatro. – Recentemente lançado numa outra quadra da cidade.

William sentou-se em uma das primeiras cadeiras da fileira da frente. A vista para o assoalho de madeira clara. De onde estava, sentia o calor invadir-lhe a região do corpo, estando surpreendido: O chão era aquecido. Poderia não ser uma tecnologia 'avançada' como a de seu estabelecimento, mas era uma novidade e tanto para si. Anotou mentalmente que deveria investir nisso, se quisesse parecer inovador e original. Riu desdenhoso, era um gênio.

Sua comicidade fora olvidada, quando atentou sons de passos leves. Olhou para a cortina à sua esquerda, observando uma figura esbelta despontar de forma tímida. Um longo tutu branco chamava a atenção, por possuir bordas de um tecido refletivo nas pontas. Assim que a mulher se aproximou da luz, assemelhava-se com um passe de mágica: Suas vestes brilhavam inteiramente. A tiara perolada em sua cabeça não ficou de fora, reluzia quanto mais se aproximava da iluminação. O homem estava boquiaberto, não deixando de analisar cada detalhe minucioso na bailarina.

— Seu olhar é um elogio, Will. — Com um leve gracejo, cumprimentou-o, que estava sem reação. Correu delicadamente para o fundo do palco, juntando as mãos em um gesto airoso.

Não havia música. Somente os sons dos passos leves que mal tocavam o chão. Aquela mulher parecia voar, bailava de forma deslumbrante. Não perdia a compostura tão bem trabalhada. O 'Grand Jeté', mais parecia cena de um sonho. Não que tivesse interesse em balé, contudo, assistir sua esposa externando movimentos graciosos como esse, diria de passagem que é um grande fã.

E, ao contemplar o 'Adagio', logo seguido de um "En dehors" para finalizar o bailarico, havia posto em sua mente um discernimento que lhe deixou gratificado:

"Eu preciso eternizar essa mulher".

A volta para casa, fora feita dirigindo. William volvia as mãos levemente no volante, embora seus olhos se cruzassem com os de sua esposa. Dirigia com o máximo de cuidado possível, não por que amava aquela mulher. Queria perpetuá-la, todos os detalhes possíveis deveriam ser idealizados e não permitiria defeitos. Não queria mimosear um único arranhão que pudesse prejudicar a perfeição dela, os fios de cabelo deveriam ser mantidos perfeitamente em sua cabeça.

Estava obcecado.

— Will, o que foi? — Ao pararem no suposto semáforo, ela debruçou a mão delicada e enluvada acima da palma do homem. Ele olhou atencioso. — Você parece... Estranho?

Não estranho, com certeza, abismado.

— Estou me perguntando o motivo de você ser belíssima. O que você viu em um cara, proprietário de uma pizzaria, como eu? — Indagou, arqueando uma sobrancelha de forma humorada. Logo ambos riram nalguma consonante, mas a atenção voltou para o trânsito.

— Não vamos discutir isso, novamente. — Ela bufou, cruzando os braços e meneando a cabeça, ainda assim, olhava com carinho para o marido. — Lembre-se que você não era proprietário de uma pizzaria quando nos conhecemos. Você era mecânico, trabalhava para o pai do seu amigo. Quase o quê? Hum... Cinco anos.

Eternamente dançarinaWhere stories live. Discover now