𝓅𝓇𝑜𝓁𝑜́𝑔𝑜

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°prológoº


Remus suspirou profundamente ao encarar o lago de Hogwarts da janela de seu quarto naquela manhã. Ser professor sempre foi seu sonho e havia enfim conseguido o emprego, e embora estivesse em êxtase, o quarto logo de frente para aquele lugar, naquela exata posição, não era, nem de longe, o que ele queria.

A vista de sua janela era belíssima, ele não podia nem iria negar. A árvore onde anos antes todos os Marotos se juntavam à sombra, Padfoot – Padfoot não era Sirius. Sirius Black era o foragido de Azkaban, juntamente daquela garota, agora mulher, que ele não se atreveria a sujar a boca pronunciando o nome. Padfoot era o adolescente que amava farra e tinha alergia a livros escolares, ou era essa apenas a desculpa que ele dava aos professores – a fumar seu cigarro e James a pegar seu pomo de ouro afanado e Peter a revirar os olhos para a bagunça dos mais novos, mas sempre sorrindo, porque eram os seus amigos, e Joff erguendo as sobrancelhas de modo dramático sempre que Remus negasse amar ela.

Mas não adiantava mais pensar no passado. Não adiantava. Eles não estavam mais juntos. Belle e Remus não havia sido para sempre como prometeram, e nem poderia ser nem haveria de ser algum dia, se ela voltasse – ele tinha essa esperança ridícula e infantil.

A movimentação de alunos nos corredores de Hogwarts naquele horário era quase nula – eram seis da manhã, afinal, e apenas um ou outro aluno acordava tão cedo no dia 2 de setembro. Pensou seriamente em ir procurar algumas das garotas Pettigrew, ou mesmo Harry. Doey, Evelyn ou Anne, para separa-la de Lily(anne), sua irmã de alma, melhor amiga, homônima. Lily. Outra perda que ele se lembrava logo pela manhã, Remus pensou, amargurado até os ossos. Seu primeiro dia estava sendo um péssimo primeiro dia.

A folha do jornal do dia anterior, com duas fotos parecidas, de identificação de prisioneiros de Azkaban e os crimes de Sirius e daquela garota, estava sendo amassada pelo punho fechado de Remus. Ele cogitou fazer um barquinho de papel, como ela costumava fazer, escrevendo os problemas na folha, dobrando, passando parafina no fundo para que não afundasse, e soltando no lago, seu lugar de paz, deixando que a água cuidasse de seus problemas. Enquanto as fotos de Sirius – ele novo, vinte e dois anos apenas – mostravam ele chorando, rindo e gritando, tendo de ser contido por três aurores de uma vez, e outra, uma foto trouxa com câmera Polaroid, mostrava ele de cabeça mais abaixada, encarando com um olhar de gelar a espinha a câmera. Essa era a foto veiculada nos meios trouxas. E a foto daquela garota era a mesma cara que ele se lembrava com o coração rugindo de raiva de ver sendo arrastada para fora de Hogwarts, dois aurores a segurando, gritando por Joffrey, gritando por Sirius, se dizendo inocente daquilo. Era nojento, de fato. Aquela garota chorava na foto, os cabelos loiros ainda meio grudados ao penteado e o vestido cor de rosa que ele se lembrava como ontem que ela utilizava já havia sido substituído pela túnica grosseira de Azkaban.

Azkaban era o mínimo que eles dois mereciam, depois daquilo, depois do qua haviam feito.

Sirius, por Lily, pelos treze trouxas, por Joff.

A garota, pelo que havia feito a Belle.

No fundo, o casal sempre combinou, ele achou.

Entrando na sala de aula, em sua sala de aula, Remus se permitiu sorrir pela primeira vez naquele dia. Era seu dia. O dia em que enfim realizava um sonho. Sempre quis lecionar, ser professor, e aquela era a sua chance, e ele não se permitiria ficar infeliz por causa de coisas já sem solução. Ele acreditava, acreditava em silencio, para não ser alvo de olhares de pena, que Belle voltaria. Ela era boa demais para não voltar.

Passou a mão devagar pelo tampo da mesa, sua antiga mesa, na época de aluno. Durante um ano inteiro, todo o seu quarto ano, foi dupla com ela. Era demais pensar que ainda estaria ali, mas valia apena apenas conferir. Remus abriu o tampo da cadeira, aspirando fundo.

"ℰ𝓈𝓉𝑜𝓊 𝑒𝓃𝓉𝑒𝒹𝒾𝒶𝒹𝑜" – ele havia escrito aquilo em 2 de setembro de 1974.

"𝔗𝔞𝔪𝔟𝔢́𝔪 𝔢𝔰𝔱𝔬𝔲" – ela havia respondido.

"𝒱𝑜𝒸𝑒̂ 𝑒́ ℬ𝑒𝓁𝓁𝑒 ℬ𝑒𝓁𝒸𝑜𝓊𝓇𝓉, 𝓃𝒶̃𝑜 𝑒́? "

"𝔖𝔦𝔪. 𝔈 𝔳𝔬𝔠𝔢̂ 𝔢́ ℜ𝔢𝔪𝔲𝔰 𝔏𝔲𝔭𝔦𝔫. "

"𝒞𝑜𝓂𝑜 𝓈𝒶𝒷𝑒? "

"ℭ𝔥𝔞𝔪𝔞𝔡𝔞, 𝔟𝔬𝔠𝔬́"

"𝒜𝒽𝒽... 𝒸𝑜𝓂𝑜 𝑒́ ℬ𝑒𝒶𝓊𝓍𝒷𝒶𝓉𝑜𝓃𝓈? "

"𝔐𝔞𝔯𝔞𝔳𝔦𝔩𝔥𝔬𝔰𝔞. 𝔐𝔞𝔰 ℌ𝔬𝔤𝔴𝔞𝔯𝔱𝔰 𝔭𝔞𝔯𝔢𝔠𝔢 𝔦𝔫𝔱𝔢𝔯𝔢𝔰𝔰𝔞𝔫𝔱𝔢. 𝔓𝔯𝔦𝔫𝔠𝔦𝔭𝔞𝔩𝔪𝔢𝔫𝔱𝔢 𝔬 𝔩𝔞𝔤𝔬 𝔫𝔢𝔤𝔯𝔬. 𝔔𝔲𝔢𝔯𝔦𝔞 𝔱𝔢𝔯 𝔠𝔞𝔦́𝔡𝔬 𝔫𝔞 𝔖𝔬𝔫𝔰𝔢𝔯𝔦𝔫𝔞, 𝔬𝔲𝔳𝔦 𝔡𝔦𝔷𝔢𝔯 𝔮𝔲𝔢 𝔬𝔰 𝔰𝔞𝔩𝔬̃𝔢𝔰 𝔠𝔬𝔪𝔲𝔫𝔞𝔦𝔰 𝔰𝔞̃𝔬 𝔡𝔢𝔟𝔞𝔦𝔵𝔬 𝔡'𝔞́𝔤𝔲𝔞. "

"𝒩𝓊𝓃𝒸𝒶 𝒻𝓊𝒾 𝓁𝒶́ 𝓅𝒶𝓇𝒶 𝒸𝑜𝓃𝒻𝒾𝓇𝓂𝒶𝓇, 𝓂𝒶𝓈 𝓋𝑜𝒸𝑒̂ 𝓋𝒶𝒾 𝑔𝑜𝓈𝓉𝒶𝓇 𝒹𝒶 𝒢𝓇𝒾𝒻𝒾𝓃𝑜́𝓇𝒾𝒶"

"𝔈𝔰𝔭𝔢𝔯𝔬. 𝔄 𝔊𝔯𝔦𝔣𝔦𝔫𝔬́𝔯𝔦𝔞, 𝔠𝔞𝔰𝔞 𝔡𝔬𝔰 𝔠𝔬𝔯𝔞𝔧𝔬𝔰𝔬𝔰... 𝔢𝔲 𝔫𝔞̃𝔬 𝔰𝔬𝔲 𝔠𝔬𝔯𝔞𝔧𝔬𝔰𝔞, 𝔭𝔢𝔩𝔬 𝔪𝔢𝔫𝔬𝔰 𝔫𝔞̃𝔬 𝔪𝔢 𝔞𝔠𝔥𝔬 𝔪𝔲𝔦𝔱𝔬. 𝔙𝔬𝔠𝔢̂ 𝔰𝔢 𝔠𝔬𝔫𝔰𝔦𝔡𝔢𝔯𝔞 𝔠𝔬𝔯𝔞𝔧𝔬𝔰𝔬? "

"𝒩𝒶̃𝑜 𝓈𝑒𝒾... 𝒶𝒸𝒽𝑜 𝓆𝓊𝑒 𝓃𝒾𝓃𝑔𝓊𝑒́𝓂 𝓈𝑒 𝒸𝑜𝓃𝓈𝒾𝒹𝑒𝓇𝒶 𝒸𝑜𝓇𝒶𝒿𝑜𝓈𝑜 𝒶𝓉𝑒́ 𝓉𝑒𝓇 𝓆𝓊𝑒 𝓈𝑒𝓇"

Aquela conversa, daquele dia, terminou ali, com uma detenção de Katherine Pompeo, professora à época de DCAT, por atividades alheias à classe. Passando a mão no tampo da mesa, achou o que procurava, ali, entalhado pequenininho com a pena, escrito com tanta força que se entalhou na madeira. Gerações veriam aquilo, aquele pedacinho minúsculo na madeira que mantinha gravado o que um jovem casal jurou, mesmo que por um instantezinho, a eternidade.

"ℬ𝑒𝓁𝓁𝑒 & ℛ𝑒𝓂𝓊𝓈, 𝓅𝒶𝓇𝒶 𝓈𝑒𝓂𝓅𝓇𝑒 𝑒𝓂 𝓁𝑒𝓉𝓇𝒶𝓈 𝒸𝓊𝓇𝓈𝒾𝓋𝒶𝓈"

Solitária, uma lágrima pingou por cima daquele entalhe, e outras a teriam seguido se Remus não as limpasse furiosamente, com vergonha do choro, por ter mais de trinta anos e estar chorando besteiras. Já tinha vinte anos daquilo, da data daquele entalhe. Foi no dia dois de setembro. Uma história que durou um ano.

Começou dia 2 de setembro.

Terminou no dia 2 de setembro.

Patético, de fato. Mas a vida não era como em uma canção, e ele já deveia se considerar como tendo experiência de sobra para confirmar isso. 



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Esse capítulo é dedicado a quillotz, que me incentivou a publicar essas fanfics, tá sabendo de uns spoilers já, e fez aniversário na quinta!!!! Parabéns, Ju!! Para completar seu presente, hoje/amanhã sai os capítulos das outras fics relacionadas! Perdão pelo capítulo ruim...

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⏰ Last updated: Oct 27, 2019 ⏰

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ℬ𝑒𝓁𝓁𝑒 & ℛ𝑒𝓂𝓊𝓈 ℱ𝑜𝓇𝑒𝓋𝑒𝓇 𝒾𝓃 𝒞𝓊𝓇𝓈𝒾𝓋𝑒 ℒ𝑒𝓉𝓉𝑒𝓇𝓈Where stories live. Discover now