Hand's Off! | KiriBakuKami

Capítulo Único

— Eu tenho certeza de que você vai adorar Seattle, Kirishima!

A voz do chefe de polícia Inasa Yoarashi era mais alta que de costume devido ao ruído do motor. Ou talvez ele falasse alto daquela maneira em todas as situações, pensou o recém-chegado. Yoarashi era um homem imenso e até mesmo sua personalidade era capaz de atrair a atenção. Não seria difícil imaginá-lo como alguém que gritava em vez de falar como as pessoas normalmente faziam.

— É engraçado você dizer isso quando estamos a caminho de um clube de strip que muito provavelmente é ilegal, mas eu admiro a sua intenção! — Kirishima comentou enquanto não tirava os olhos da paisagem pela janela do carona do carro.

Seattle podia ser uma cidade grande, mas ainda mantinha vários aspectos de cidades médias que eram familiares para Kirishima. Ele viera da boa e segura Provincetown, a cidade americana famosa pela maior taxa de casais gays por habitantes. Por ser tão tranquila e receptiva, nunca ofereceu ao policial qualquer desafio e foi este o motivo pelo qual ele não pensou duas vezes ao ser chamado para fazer parte da força policial da maior cidade de Washington.

— Isso é só uma suspeita do capitão! — Yoarashi estava cheio de uma esperança ingênua em seus colegas. — Nós não podemos dar nenhum veredicto sem averiguar antes!

— É, você tem razão. Ainda que a sargento Uraraka tenha dito que continuam voltando de mãos vazias porque se aproveitam do orçamento da polícia com strip tease.

— Como eu disse, ainda é cedo para acusar qualquer um!

— Sua sede de justiça é tão viril, chefe! — elogiou o novato, erguendo um dos punhos de tão emocionado.

— É uma honra ser admirado por alguém tão admirável!

Um vasto vocabulário não era a marca do chefe de polícia. Não que isso fizesse alguma diferença para Eijiro Kirishima, porque os dois continuaram a troca de elogios, como bem alertara a policial Jiro quando o capitão Iida designou-os como dupla. "Esses dois vão passar os dias gritando empolgados um para o outro." Ela não poderia estar mais certa.

Bem, e não era como se o próprio capitão Tenya Iida não fosse bastante vocal. Na verdade, ele só não compartilhava a viagem com os dois subalternos e participava diretamente da operação que viria a seguir porque sua religião não permitia que estivesse em "casas de pecado e depravação", segundo o que ele mesmo dissera.

Logo que chegaram no centro comercial, Yoarashi estacionou bem próximo de um edifício administrativo, local em que poderiam muito bem disfarçar-se entre os empresários com suas roupas sociais bem passadas. Depois de apanhar os arquivos e conferir as informações, estava pronto para instruir Kirishima, que descobriu que ele conseguia, sim, manter o tom de voz normal quando a situação pedia.

— Vamos revisar o que cada um de nós vai fazer. Eu vou ser o primeiro a me infiltrar, enquanto você vai vigiar a entrada durante essa semana. — Assim, diminuiriam o risco de despertar suspeitas por chegarem no clube ao mesmo tempo. — Minha função é inspecionar o bar e descobrir se são drogas ilícitas que fazem com que tantas pessoas de fora da clientela comum do Plus Ultra visitem regularmente o local. O seu trabalho começa na quinta feira e você deve descobrir se os strippers estão burlando as leis municipais em suas danças privadas.

Kirishima achava um exagero a legislação municipal de Seattle com relação a casas de entretenimento adulto, no entanto, se era esta a sua missão, faria conforme o esperado. Desse modo, simplesmente assentiu:

— Entendido, chefe!

Ainda que seu trabalho só fosse começar dali a cinco dias, Kirishima já estava pronto para juntar informações. Depois que Yoarashi deixou o carro e andou dois quarteirões para chegar até o tal clube, o ruivo novato deu uma volta pelo bairro para despistar e passou em uma lanchonete, comprou um lanche com muita carne e preparou-se para passar as próximas horas assistindo a tudo o que acontecia na entrada do estabelecimento.