Prólogo

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Adeline não teve sorte no momento em que nasceu e nem durante a primeira infância. Sua mãe morreu no parto e seu pai durante a guerra quando a garota tinha apenas dois anos de idade. Desde então, ficou morando com sua tia paterna, Mary Verhoeven, uma mulher que se separou do marido e que não podia ter filhos. 

Mesmo assim, a menina cresceu normalmente. Ela e a tia eram melhores amigas, tanto que não havia tanto espaço para a saudade dos pais, cujos rostos só conhecia e se lembrava por causa das fotos de família. Era rodeada de amigos leais e não tinha do que reclamar, pois eles eram seu segundo maior tesouro por nunca deixarem-na desamparada.

Aos quinze anos, conheceu a história de Zalgo por intermédio de uma colega e, pesquisando pela internet a fora, começou a ter conhecimento das outras creepypastas. Slenderman era o que mais a assustava, pois a ausência de rosto não era algo muito reconfortante. Dessa forma, sempre evitava ver alguma imagem dele ou ler qualquer coisa que o envolvesse. Fora isso, tornou-se admiradora dessas "histórias de terror" e até sentia empatia pelo sofrimento deles antes de se tornarem o que eram agora.

Cresceu rodeada por essas lendas e pelas loucuras dos amigos e tentar fazer invocações. Quando tinha dezenove anos, tiveram a ideia de invocar o Homem de Terno bem no dia do aniversário da jovem e da maneira mais maluca que podiam.

- É sério mesmo que a gente vai fazer isso? - Adeline reclamava enquanto era amarrada na árvore tarde da noite - De tantos caras pra invocar, vocês querem mesmo chamar o pior de todos?

- Para de ser medrosa, Line. - um de seus amigos respondeu - Esse ritual não tem como falhar.

- E quem te disse isso? - ela arqueou uma sobrancelha tingida de lilás - A internet?

- E daí se foi?

- Eu não acredito que concordei com isso...

Entregaram uma vela preta e uma branca para a garota, que ficou segurando enquanto acendiam. Os demais colocaram a venda e se sentaram em um semicírculo não muito longe da árvore. Sabendo que aquele era o momento de começar, ela recita as palavras que decorou com facilidade:

- "Oh Slender, peço que esta noite se faça presente perante mim. Estou aqui humildemente esperando estar na honra da sua presença. Prometo que não fugirei..."- ela diminuiu o tom de voz no momento para murmurar - Como se eu pudesse sair correndo daqui...

- Foco, Adeline! Senão não vai funcionar!

Com um suspiro, a jovem voltou a recitar:

- "Eu nasci para ser seu sacrifício. Por favor, apareça e me reconheça como digna de sua presença".

O silêncio da madrugada se tornou absoluto. A tensão começou a tomar conta dos jovens à medida que os segundos se arrastavam e não havia nenhuma manifestação da criatura invocada.

- Eu falei que isso era furada. - a moça disse - Agora posso sair daqui?

- Segura a onda aí, vai que ele aparece daqui a pouco?

- Vocês estão vendados, que diferença vai fazer?

- Toda. Você tem que parar de ter medo dele.

- Então vocês armaram isso pra mim?

- Pode crer.

- Seus filhos de uma...

Adeline cortou o xingamento para prestar atenção em um vulto alto no meio de outras árvores mais distantes.

- Puta merda, ele veio mesmo. - ela resmungou - Vocês todos me pagam por isso.

- Que nada, até parece que ele vai te matar.

- É uma probabilidade bem alta, sabe? Sou jovem demais pra morrer!

- Para de chorar. E aí? Ainda tá vendo ele?

- Não. Ele sumiu.

"Eu não sumi, Adeline" uma voz ecoou em sua cabeça, juntamente com uma estática terrível capaz de fazer sua cabeça latejar insuportavelmente.

Não demorou para que Slenderman aparecesse no meio do semicírculo. A jovem Verhoeven gritava e tentava sair das cordas, mas era inútil. Seus amigos, naquele momento, estavam tão estranhos que pareciam zumbis. O que ela não sabia era que o Homem de Terno estava usando seu controle mental nos outros para que não interferissem. Um de seus tentáculos foi para o queixo da garota e logo ele começou a analisá-la, ignorando seus gritos e tentativas de se livrar de onde estava.

"Foi bom te conhecer, Adeline".

Foi a última coisa que a moça ouviu antes de desmaiar e ter as memórias daquele encontro suprimidas.


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