Valéria estacionou o carro e desceu. Começou a caminhar pela grama. Fazia um dia de sol, era final de tarde e o céu tinha tons de laranja e vermelho, começava a escurecer. Embora estivesse quente, sentia uma sensação estranha, como se estivesse com frio. Talvez fosse um pouco de medo. Aquele lugar havia sido o cenário do melhor e do pior momento da sua vida, afinal de contas.
O lugar ainda estava muito bonito, embora estivesse totalmente vazio, sem as flores, os arranjos, as cores tão cuidadosamente escolhidas como foi naquele dia, sem o som da música e dos convidados, sem o som da risada de Camila. O silêncio, pra quem estava acostumada com o barulho de São Paulo, era quase assustador.
Andava em direção ao salão onde tudo aconteceu. Algo a fazia ter certeza que Camila teria ido ali.
Passou pelo lugar onde entraram juntas na cerimônia, havia várias cadeiras enfileiradas da mesma forma que haviam estado naquele dia. Talvez outros casamentos haviam acontecido ali depois, deduziu.
Continuou caminhando rumo ao salão. A alguns metros estaria de novo no exato lugar onde lembrava ter estado pela última vez, logo antes de entrar na ambulância. O frio na barriga parecia aumentar. Respirou fundo. Se fechasse os olhos veria tudo novamente, como num filme. Manteve os olhos abertos. Sentia o coração bater forte, as mãos suadas, o corpo tenso, como se esperasse a qualquer momento ouvir de novo aquele barulho. O som metálico, cortante.
Pensou que talvez fosse assim que Camila se sentia quando tinha pesadelos.
Passou por onde havia, naquele dia, falado com Camila pela última vez. Eu vou ali retocar a maquiagem e já volto.
O salão estava vazio, não havia nenhuma mesa. Olhou para um lugar em particular ao longo de todo o tablado do piso claro. Respirou fundo, tentando ignorar a sensação de enjoo que começava a sentir. Ali, naquele lugar, Camila havia caído. Valéria poderia apontar exatamente, milimetricamente, onde havia sido. Embora tentasse empurrar aquelas lembranças pra algum lugar lá no fundo da memória, ainda lembrava do vermelho escuro tingindo o branco.
"Camila?" Falou, olhando em volta.
Será que havia viajado muito? Por quê achou que Camila estaria ali? Talvez a morena tivesse simplesmente saído pra tomar um ar.
"Cá?"
Nenhuma resposta. Andou mais alguns passos pra um lado, depois para o outro. No salão, Camila não estava.
Ainda havia um lugar.
Apesar de não fazer nenhum sentido Camila ter cruzado a cidade e ido até ali se enfiar naquele banheiro, por alguma razão Valéria ainda sentia que precisava procurar ali. E foi.
Contava os passos ao se aproximar daquele lugar, onde poderia ter iniciado a maior tragédia da sua vida. Chegou na porta. Respirou fundo, uma, duas, três vezes. Empurrou a porta com a mão trêmula.
Também não havia ninguém ali.
Voltou ao salão, decidida a ir embora, pelo jeito Camila não estava por ali. Caminhava em direção ao carro quando de longe viu alguém sentado em um banco na grama a vários metros, na direção contrária que tomaria para voltar ao carro.
Era Camila, que não parecia ter notado a presença de outra pessoa por ali. Valéria começou a caminhar em sua direção, Camila estava sentada com os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos apoiando o queixo. Olhava em frente e parecia completamente perdida nos próprios pensamentos.
Valéria estava a poucos metros e a morena ainda não tinha notado sua presença. Valéria parou perto e a observou.
"Camila..." Camila levantou a cabeça, os olhos estavam vermelhos.
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May I have this dance? - Vamila
Fiksi PenggemarValeria vê a cena como se estivesse em câmera lenta. Dalila tem Camila nos braços, a arma apontada pro corpo da moça. Laila vai ao encontro de Camila. Camila corre. O som do tiro. Camila cai. De repente, o mundo fica escuro. Ela não houve mais nenhu...