Capítulo 3: Segredos à Superficie

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Algumas semanas se passaram desde que Minho e Jisung começaram a se entender minimamente melhor. A convivência, embora longe de ser perfeita, havia se tornado menos pesada. Minho já não se irritava tanto com a presença de Jisung, e até passou a apreciar as pequenas distrações que ele trazia para a rotina da casa. No entanto, ambos ainda mantinham uma distância segura. Conversavam sobre trivialidades, como o tempo, as compras da semana ou algum programa aleatório na TV, mas evitavam se aprofundar em qualquer assunto mais pessoal.

Naquela noite, entretanto, algo parecia diferente. Minho chegou em casa mais cedo do que o habitual. O ambiente estava tranquilo, e ele estranhou a ausência do som da música que Jisung sempre colocava. Normalmente, ele chegava e encontrava Jisung cantarolando enquanto fazia algo aleatório na sala ou na cozinha, mas dessa vez, o silêncio reinava.

Ao entrar, Minho viu a luz fraca da sala acesa e Jisung sentado no chão, encostado no sofá, com uma garrafa de soju ao seu lado. Ele parecia perdido em pensamentos, algo que não combinava com sua habitual postura energética e despreocupada.

"Você está bem?" Minho perguntou, hesitante, sem saber se deveria interferir.

Jisung levantou os olhos lentamente, surpreso por vê-lo em casa tão cedo. Ele deu um sorriso fraco, algo que não alcançava seus olhos, e balançou a cabeça. "Só um pouco cansado. Você quer um pouco?" Ele levantou a garrafa, oferecendo a Minho.

Minho hesitou por um segundo antes de se sentar ao lado dele no chão, pegando a garrafa e tomando um gole. O gosto amargo do álcool queimou sua garganta, mas de alguma forma, trouxe um tipo de conforto.

"Cansado de quê?" Minho perguntou, tentando manter a conversa, mesmo sentindo que estava entrando em terreno desconhecido.

Jisung suspirou e deu de ombros. "Da vida, eu acho. Sabe, nem sempre as coisas são tão fáceis quanto eu faço parecer."

Minho olhou para ele, surpreso pela confissão. Não esperava ouvir algo tão pessoal de Jisung, especialmente quando eles tinham mantido uma relação tão superficial até aquele momento.

"Por que você nunca fala sobre isso?" Minho perguntou, com um tom que misturava curiosidade e cautela.

Jisung deu uma risada curta, sem humor, e tomou mais um gole antes de responder. "Porque ninguém realmente quer ouvir, né? É mais fácil ser o cara divertido, aquele que nunca se abala, do que carregar os outros com problemas."

Minho ficou em silêncio, refletindo sobre o que Jisung havia dito. Ele se deu conta de que, durante todo o tempo em que moraram juntos, nunca tentou realmente conhecer o garoto. Jisung sempre parecia tão autossuficiente, tão despreocupado, que Minho simplesmente assumiu que ele não precisava de ninguém. Mas, agora, parecia que havia muito mais escondido sob aquela fachada alegre.

"Eu não acho que você precisa ser esse cara o tempo todo," Minho disse, mais suave. "Nem tudo precisa ser um show."

Jisung o olhou de relance, e por um segundo, parecia haver algo mais profundo em seu olhar, algo que Minho nunca havia notado antes. Ele sorriu, um sorriso cansado, mas genuíno. "Talvez você tenha razão. Mas é difícil mudar depois de tanto tempo sendo assim."

Minho assentiu, compreendendo melhor do que gostaria de admitir. Ele também tinha suas próprias barreiras, suas próprias defesas, e não era fácil deixá-las de lado. Mas ali, naquele momento, com a casa em silêncio e o álcool tornando as coisas um pouco mais leves, ele sentiu que talvez fosse seguro ser um pouco mais aberto.

"Eu também faço isso," Minho confessou, surpreendendo até a si mesmo com a honestidade repentina. "Não gosto de deixar as pessoas entrarem. É mais fácil manter tudo sob controle desse jeito."

Jisung o encarou por um momento, como se estivesse avaliando o que Minho acabara de dizer. Então, ele deu uma risada suave. "Parece que somos mais parecidos do que eu pensava."

Eles ficaram em silêncio por um tempo, bebendo e deixando o ambiente confortável os envolver. O álcool estava começando a fazer efeito, e Minho sentia a cabeça leve, seus pensamentos ficando mais lentos. Mas, de alguma forma, ele também sentia que a tensão entre eles estava se dissipando. Não havia mais a mesma distância ou resistência. Pelo menos não naquele momento.

Jisung quebrou o silêncio primeiro, sua voz um pouco mais baixa. "Sabe, eu realmente não esperava que você fosse... me tolerar. No início, achei que você ia me expulsar de casa na primeira oportunidade."

Minho deu uma risada curta, balançando a cabeça. "Eu também pensei nisso várias vezes. Mas... acho que me acostumei com você."

Jisung sorriu, e dessa vez, o sorriso parecia verdadeiro, como se estivesse aliviado por ouvir aquelas palavras. Ele recostou a cabeça no sofá, olhando para o teto. "Bom saber que não sou tão insuportável quanto parece."

Minho olhou para ele e, pela primeira vez, sentiu que talvez pudesse começar a ver Jisung de uma maneira diferente. Não apenas como um incômodo ou alguém que bagunçava sua vida, mas como alguém que, assim como ele, carregava suas próprias lutas silenciosas. Eles estavam longe de ser amigos, mas talvez houvesse a possibilidade de algo mais, algo que eles ainda não tinham explorado.

"Eu não sou muito bom com pessoas," Minho admitiu, finalmente verbalizando algo que sempre soubera, mas nunca disse em voz alta.

Jisung virou a cabeça para ele, sem julgar, apenas ouvindo. "Eu percebi."

"Mas... estou tentando," Minho acrescentou, sentindo-se vulnerável ao dizer aquilo.

Jisung sorriu novamente, dessa vez um sorriso suave e compreensivo. "Eu também."

E naquele silêncio que se seguiu, algo invisível mudou entre eles. Era sutil, quase imperceptível, mas estava ali. Uma compreensão silenciosa, uma trégua não declarada. E, pela primeira vez, Minho sentiu que talvez, apenas talvez, eles pudessem encontrar uma maneira de realmente coexistir.

Entre Segredos e Desejos; A Linha Tênue do Amor Proibido. - Minsung.Onde histórias criam vida. Descubra agora