Lazarus

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          Naquele sonho, eu estava em um campo completamente tomado por girassóis. O dia estava claro e não havia nenhum sinal de movimentação ao redor. Não havia prédios comerciais, carros, moradias ou pedestres. Era apenas aquele campo, com uma pequena estrada de terra que ao final, levava até uma árvore que parecia indicar o fim da linha para quem pensasse em continuar. Eu não conseguia distinguir que árvore era aquela nem o tamanho dela.

          Um homem, de cabelos ruivos, pele claríssima como a neve que caia aos poucos sobre o solo verde, estava sentado de costas para a estrada em que eu estava. Abraçava as pernas como se estivesse pensativo ou estava apenas analisando aquela árvore. Como se chamam as pessoas que pesquisam por árvores?

- Ei! - Gritei por ele, mas nem sequer mexeu um músculo do corpo ou virou o pescoço para ver quem o chamava - Pode me ouvir? Onde a gente está? Não finja que não está escutando, babaca.

          No momento em que eu gritava por ele, uma criança passou correndo por mim, como se eu não existisse e pulou nas costas do homem, que quando virou o rosto, soltou um sorriso e pegou a criancinha no colo. No mesmo momento, pensei se estaria em um sonho ou não. Chegou-me à mente até que eu tivesse falecido dormindo, mas não, aquilo era estranho demais.

          A criança tinha grandes cabelos castanhos claros, assim como os meus, porém, os olhos claros. Talvez havia herdado as características do homem que a mantinha em seu colo.

- Não me assuste Gabrielle. Você sabe o quanto não gosto dessas coisas, quer me matar do coração não é? Matar seu velho pai do coração! - Disse entre sorrisos e cócegas na filha.

          Virei minha cabeça para analisar o local em que eu me encontrava. Eu realmente nunca havia visto aquele lugar em toda a minha vida. Parecia que eu estava em um daqueles filmes de Hollywood, estrelando algo como os livros de Emily Brontë em pleno século dezenove. Uma cabeleira castanha passou correndo também entre as flores gritando pela pequena garota, em um tom desesperado. 

- Gabrielle! O que lhe deu na cabeça para sair correndo desse jeito? Sorte que seu pai está aqui! Entre já pra casa!

         A voz me era familiar, não havia mudado muito com o tempo; igualmente ao cabelo; o rosto, o corpo; o modo com que os cabelos caiam sobre os ombros. Aquela era eu. Porque realmente eu estava naquele sonho? Seria apenas uma visão do futuro? Eu só queria poder me comunicar com eles de alguma forma, perguntar o que estava acontecendo ou como eu poderia sair dali o mais rápido possível.

- Olá Júlia..

          Uma voz soou atrás de mim. As três pessoas que estavam ali na frente, continuaram suas vidas, não nos notando nenhuma vez ali. Para eles, éramos apenas fantasmas.

          O homem tinha um chapéu grande e sua pele era negra. Trajava um sobretudo marrom. Suas botas não eram diferentes. Ele tinha um ar de superioridade, mas ao mesmo tempo, era a vez que eu havia me sentido mais segura na vida. Todas as coisas ruins, desapareceram naquele momento. Se eu tivesse tentado adivinhar que eu havia morrido, era naquele momento que eu teria a minha prova concreta, mas eu estava errada novamente. Aquele lugar, não era o paraíso. Eu o conhecia de algum lugar.

- Quem é você, porque estou aqui? O que quer comigo? Esse sonho já está estranho demais. Primeiro esse lugar, segundo...eu mais velha? Não quero saber do meu futuro ou algo do tipo! Isso é trapaça, sabia?

- Não é trapaça Júlia. Se você não cumprir o seu destino, irá acabar sozinha, como a sua mãe e com um futuro incerto.

- Não ouse falar da minha mãe assim!! Me tire daqui agora! Como faço para voltar? - Fechei firmemente os olhos, esperando que algo acontecesse e eu voltasse à minha realidade, mas tudo o que ouvi, foi o canto dos pássaros, e o barulho de folhas se mexendo por causa do vento, indicando que não, eu não havia voltado para a minha realidade.

O Sonho e o TempoWhere stories live. Discover now