Evil Runs in The Family

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Valáquia, 1440

— Nasceu! O príncipe nasceu! — Gritava o homem enquanto os sinos ecoavam por toda a cidade em comemoração ao nascimento do mais novo herdeiro ao trono da Romênia. A multidão estava em êxtase, bebida e muita comida eram distribuídas a todos. Cidadãos que fervorosamente balançavam a bandeira do país com orgulho batendo em seu peito. A soberania do povo romeno habitava agora nas pequenas mãos daquele que acabara de abrir os olhos. Mas enquanto festejavam lá fora, dentro do tremendo castelo, em meio ao silêncio cortante, o choro baixo de criança soava como uma música para os ouvidos da mulher de longos cabelos negros que com ternura o possuía em seus braços.

— Shh... está tudo bem, meu pequeno príncipe. Nada de mal vai lhe acontecer, a mamãe está aqui. — Os dedos delicados percorreram o rosto pequeno do menino, que ao ouvir a voz de sua mãe cessou o choro na mesma hora. Este a fitou fixamente e um sorriso surgiu em seu rosto.

— Minha rainha, o rei está aqui para ver o príncipe.

O sorriso que antes pintava o rosto da mulher agora se transformava em pavor. Como pode uma mãe prometer a seu filho protegê-lo quando o maior mal existente nesse mundo vive junto a eles? Ela apenas engoliu a seco e assentiu para que permitissem a entrada do homem cujo todos estremeciam ao ouvir o nome.

— Vlad...— Ela sussurrou assim que a figura imponente e ao mesmo tempo obscura adentrou o quarto.

— Minha rainha. — O sorriso afiado e assustador foi dado a esta que por instinto se encolheu em sua cama, tentando ao máximo esconder seu pequeno tesouro das mãos sanguinárias do homem porém em vão. Logo, ele já o tinha nos braços, orgulhoso de finalmente poder estar levando sua linhagem para frente. — Ele vai ser um grande guerreiro, vai destroçar seus inimigos, conquistar reinos e governar como nenhum outro homem jamais governou, nem mesmo eu. Você, meu filho, vai ser lembrado na história como Damian Draculea Tepes I, filho de Vlad Drakul III, o Empalador. Você será grandemente admirado como também temido.

— Meu filho não vai ser um monstro como você, Vlad! — A mulher quebrou seu próprio silêncio e foi em direção ao homem, esta retirou a criança dos braços dele e o entregou para uma de suas damas de companhia. — Você já tirou tudo de mim, minha família, minha liberdade, minha vida, não irá tirar o meu filho!

— E eu posso tirar seu coração se você não se calar, mulher. — Vlad a ameaçou porém esta se manteve firme.

— Ele não vai ser um tirano como você, ele vai ser bondoso, vai ajudar esse povo e não matá-lo! Ele pode ter seu sangue nas veias mas nunca irá ser sujo como você e sua f...— As palavras da mesma foram cortadas no momento em que o homem a sua frente pegou-a pelo pescoço, a erguendo no ar em seguida.

— Sabe por que eu te escolhi para ser a mãe do meu filho? Porque você é feroz, raivosa e cruel assim como eu. Você fala de mim mas nós dois sabemos o que você fez. Nós dois sabemos como eu te achei. — Ele a trouxe para perto de seu rosto e sorriu fazendo com que suas maiores armas fossem reveladas. — Há muito sangue em minhas mãos, mas as suas também não estão limpas, minha rainha.

O corpo da mulher atingiu o chão com força, tossindo em busca por falta de fôlego, a mesma ainda foi capaz de dizer:

— Eu e o meu filho vamos ser livres! Você não irá nos manter prisioneiros por toda a vida, Vlad! Não irá!

Transilvânia, 1458

— Mãe, você nunca se imaginou saindo desse castelo? — O rapaz fitava a janela de seu quarto, uma imensidão verde com montanhas ao distante o rodeavam. Imagens de como o mundo era lá fora sempre apareciam em seus sonhos, ele queria se aventurar, conhecer os povos, as comidas, as pessoas, queria ver as cores, flores, sentir os cheiros e sabores. Mas as muralhas daquele castelo o prendiam ali, eram como correntes que o transformavam em nada além de um prisioneiro.

Blood TiesOnde histórias criam vida. Descubra agora