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Aquela não era a primeira vez em que eu chegava em casa tão tarde, e também não seria a última. Eu estava acostumada à rotina incerta, horas a mais no escritório, finais de semana em que levava trabalho para casa, mas por vezes eu me sentia exausta, física e psicologicamente falando. Ainda que às vezes fosse tudo o que eu quisesse, voltar para casa não era exatamente reconfortante. Não quando se mora sozinha, por que não existe ninguém além de você ali, e ninguém vai te esperar e perguntar como foi o seu dia, mesmo que você não queira falar dele. Você pode se acostumar com a solidão, mas haverão dias em que a sensação de se estar sozinho vai ser insuportável e completamente infernal.

Quando apertei o botão para ativar o alarme, vi um carro conhecido entrar na garagem também. Era Im Changkyun. Ele era um executivo muito conhecido e solicitado, tão ou mais ocupado que eu. Já havíamos nos cruzado na portaria algumas vezes, mas nossa relação nunca passou de algo frívolo e formal - não que tivéssemos tempo para mais que isso. Como todas as vezes, eu acenei levemente com a cabeça quando o vi descer do carro, e Changkyun fez o mesmo, mostrando um de seus sorrisos irônicos, e eu quase conseguia ouvi-lo dizer que "mais um dia se passou." Que realidade infeliz essa.

Enquanto esperava o elevador Changkyun apareceu do meu lado, carregando o paletó em uma das mãos e já abrindo as abotoaduras da camisa clara que usava. Embora fosse uma constatação vergonhosa, eu estava feliz por ter demorado mais alguns segundos para chamar o elevador, ou àquela altura já estaria quase em casa, e eu gostava de interagir com pessoas fora do meu ambiente de trabalho quando tinha alguma chance, e elas não eram muitas. Ainda assim, não acho que dividir o elevador com alguém poderia ser considerado uma interação saudável, e ele era sempre tão... calado.

Quando as portas se fecharam, eu encostei a cabeça no espelho que cobria uma das paredes e fechei os olhos, sentindo o cansaço me golpear de uma vez só. Era tão tarde, e só faltavam algumas horas para o dia seguinte chegar. Dormir nunca me parecia ser o suficiente. Eu sentia que poderia entrar em coma a qualquer momento e só voltar quando todo meu corpo estivesse realmente descansado - lê-se nunca.

- Mais um dia, não é? - a voz grave de Changkyun ecoou pelo elevador, me tirando do transe e eu abri os olhos, suspirando pesadamente - A minha rotina vai acabar me matando um dia - ele riu de si mesmo, balançando a cabeça - E às vezes eu acho que não me importaria se isso acontecesse mesmo.

- Sei que vai soar infeliz, mas eu também não me importaria se isso acontecesse comigo - murmurei.

Sorrindo de novo, ele desviou os olhos para o relógio em seu pulso e depois para os números dos andares, que continuaram subindo, subindo, até pararem de repente. Changkyun franziu as sobrancelhas, confuso, e no instante em que iria dizer algo, um barulho soou na parte superior do elevador e as luzes se apagaram de vez. Eu engoli seco e tentei respirar fundo. Nós estávamos presos.

- Merda.

Sem saber o que fazer, comecei a apertar botão do alarme sem parar. Como se isso pudesse ajudar em alguma coisa.

Uma vez, alguns anos atrás, a mesma coisa aconteceu comigo. E eu não sabia que tinha claustrofobia até ficar presa naquele elevador com as luzes apagadas. Minhas mãos começaram a suar e ficou difícil respirar, ainda que só alguns segundos tivessem se passado e absolutamente nada tivesse mudado. Eu fechei os olhos, tentando me acalmar, mas naquele silêncio a minha respiração ofegante era a única coisa que podia se ouvir, e isso só me deixou ainda mais apreensiva e angustiada.

- Ei, você está bem? - perguntou Changkyun, que no mesmo instante acendeu a lanterna do celular, iluminando meu rosto. E balancei a cabeça negativamente. Desabotoei os primeiros botões da camisa e me sentei no canto do elevador, fechando os olhos mais uma vez - Você não tem claustrofobia, tem?

Money - Im ChangkyunWhere stories live. Discover now