— Vennia! — Hope gritava a pleno pulmões com o rosto quase avermelhado. — Peço por todos os santos que desça já dessa árvore.
— Ah, vovó Hope, não pude resistir a estas lindas flores de cerejeira. Veja que formosura! — Vennia esticava os braços, para apanhar as pétalas sob o constante olhar de apreensão de Hope. — Fiz uma tiara de flores para Miriam. Agora ela ficará igual a uma princesa.
— Ora, sua menina arteira, és mesmo uma ventania, menina. Uma ventania que só dar-me profundas enxaquecas.
— Sei que a senhora ama-me do fundo do coração. — sorria com doçura.
Ambas sorriram. Hope não conseguia ficar zangada de forma alguma com Vennia. Todavia, às vezes a senhorinha desejava que a neta fosse um pouco menos travessa. Já era uma menina crescida, de seus oito anos, e tinha um jeito bastante peculiar. Vivia com o rosto sujo, os cabelos curtos e eriçados, fora o fato de sempre andar com os vestidos abarrotados. Hope já havia desistido de tentar fazer com quê Vennia se comportasse de forma mais amena ou dócil. Era impossível, tal como era uma ventania agir como uma brisa.
— Mas pode explicar-me o motivo de tantos risos? Por certo que nunca a vi tão contente.
— Sonhei ontem a noite que eu tive um sonho fabuloso. Porém, o fantástico sonho não durou muito e logo tive que acordar por conta do canto insistente do galo. — fechou as pestanas e abriu os braços.
— És muito sonhadora, menina. Teu corpo está na terra, mas a tua cabeça insiste em flutuar nas nuvens. Serás uma donzela deveras díspar das outras. Adiante-se, Vennia, pois quero que cuide de Miriam enquanto vou ao mercado a negócios. Vamos, minha querida neta, e desça dessa árvore. Podes sonhar com o teu formoso sonho uma outra hora.
Sua avó despediu-se dela e partiu para o mercado.
Vennia suspirou chateada, não querendo descer da cerejeira em flor. Passou a coroa de flores no braço fino enquanto descia a árvore, tomando cuidado para não estatelar-se ao chão como uma fruta madura que cai do pé. Caçou as botinas que jaziam jogadas ante a raiz e saltitante como um coelho, passeara pela campina, colando folhas de grama na barra de seu vestido e sujando o solado de seus sapatos na terra molhada e pastosa, indo em direção a Miriam, que jazia a esperá-la do lado de fora do casebre.
— Fiz para ti, Miriam, agora ficará linda como uma princesa. — pôs a coroa na cabeça da irmã mais nova.
— Obrigada, Venni. — Miriam abriu um sorriso de poucos dentes.
— Acabei de ter uma ideia, e se nós mesmas fizermos um castelo à beira do rio? Toda princesa precisa de um castelo.
Miriam concordou, batendo palminhas, felizarda com a despretensiosa ideia de sua irmã. Afinal, a pequenina sempre seguiria a mais velha, pois a admirava muitíssimo.
♦
Vennia levou Miriam para um rio que ali havia, pois fazia uma agradável sombra devido as árvores, e trataram de recolher todas as pedras que encontravam a margem da água corrente. O maior problema para Vennia fora quando dera-se defronte com um grupo de meninos nada gentis. Detestava-os. Inventaram uma cantiga maldosa e cantavam sempre que a viam.
— Vennia, a tão aborrecida Vennia. Cabelo curtinho, parece um menino. Tão magrinha, o rosto cheio de pintinhas, ninguém há de querer, coisinha tão desengonçada e feiinha.
Oh, como tal desfeita fazia Vennia odiá-los com fervor. Desejava do fundo do coração que mordessem a língua e padecessem lentamente. Agachou-se e apanhou um punhado de pedrinhas à beira do rio e atreveu-se a jogar neles. Errou. Estava demasiado longe para acertá-las, ademais, os tresloucados moleques continuavam rindo dela aos montes.

VOCÊ ESTÁ LENDO
VENNIA
Fiksi Sejarah❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...