- Meu Deus! O que está acontecendo comigo? Onde estou? Que lugar é este? Isso só pode ser um pesadelo! O que estou fazendo aqui, sozinha numa beira de estrada? Será que eu enlouqueci? Para onde devo ir? Talvez eu esteja morta! Dizem que os espíritos das pessoas que morrem repentinamente podem ficar confusos, até se darem conta que... Mas como eu sei disso se não me lembro nem do meu nome? Eu sinto meu corpo, eu estou viva! Socorro! Alguém por favor me ajude! Socorro...
Era janeiro de 1996 quando uma linda e jovem mulher, com aparência de mais ou menos vinte anos de idade, apareceu de maneira misteriosa numa pequena estrada aos arredores do Rio de Janeiro, na região da Pedra de Guaratiba. Talvez ela sofresse de algum tipo de amnésia, uma perda de memória que se caracteriza pelo esquecimento total ou parcial do cotidiano, que pode ser constante ou episódica, de pouca duração ou permanente, fato que depende das causas, traumas ou circunstâncias.
Percebendo que gritava em vão e que logo escureceria, a jovem resolveu vasculhar a área para ver se encontrava algo familiar, que lhe desse uma pista, talvez algum pertence ou documento. Sentia-se exausta, com sede e fome. Procurava desesperadamente por qualquer coisa que despertasse sua consciência, mas nada encontrou. De repente um nome lhe veio à mente: Verônica. E esse nome ficou ecoando de tal maneira em sua cabeça que ela pensou que talvez fosse seu próprio nome e, como se lhe desse algum conforto, afirmou:
- Sim, meu nome é Verônica. Verônica Salles. Mas como eu sei disso?
Imediatamente ela avistou luzes, vindas de longe, tratava-se dos faróis de um fusca bege modelo 76. Então Verônica se pôs na margem da estrada e fez sinal com esperança de ser socorrida. Quando o carro diminuiu a velocidade e se aproximou, percebeu que quem dirigia era um homem branco de barba um tanto longa e com uma expressão fechada. Logo ela gritou:
- Moço! Por favor, me ajude! Eu não sei onde estou! Me sinto cansada e confusa...
O homem estava assustado. Era supersticioso. Não esperava encontrar uma jovem na estrada e pensou se tratar de alguma assombração, pois já tinha ouvido falar algumas vezes na vida sobre uma lenda que retrata uma mulher-de-branco, uma alma penada que costuma pedir carona nas estradas. E por coincidência Verônica estava usando um vestido branco naquele dia. Foi o suficiente para uma reação espontânea:
- Sai pra lá assombração! Santa Virgem Maria Santíssima! Sai de reta...
E acelerou o fusca ao máximo, deixando para trás uma nuvem de fumaça que se misturava com a poeira da estrada e o alaranjado do céu ao entardecer.
Verônica não sabia se ria. Ficou estática, até que percebeu novas luzes ao longe. Dessa vez pensou em falar calmamente, mas o carro não parou, dava apenas para ouvir algumas palavras que junto aos gritos de uma senhora ressoaram:
- Sai daí, sua maluca! Quer morrer? Sai...
Dessa vez ela concluiu que talvez ali as pessoas não paravam por algum motivo. Foi quando resolveu seguir a estrada caminhando, mas seu cansaço era tanto que seus passos vagavam lentamente entre os pedregulhos do acostamento.
Anoitecia e as estrelas já apontavam no céu. E para sua surpresa, depois de uma longa caminhada, Verônica ouviu uma buzina. Era um pequeno caminhão de mudança, que desacelerando, foi se aproximando dela, até que parou, baixou o vidro, e de lá de dentro um homem perguntou:
- Moça, o que aconteceu? O que você está fazendo sozinha nessa estrada a essa hora? Sabia que é perigoso?
- Olá! Obrigada por parar. Eu não posso explicar agora. Eu só sei que preciso de ajuda! - Verônica se expressava com súplica e exaustão.
E abrindo a porta do caminhão, o rapaz se apresentou.
- Eu me chamo Alonso. Não se preocupe, sou de paz, pode entrar, vou lhe ajudar.
- Agradecida... - Ela responde apoiando os pés com dificuldade nos pequenos degraus do caminhão enquanto recebia o amparo daquele homem que gentilmente estendeu seu braço direito para auxiliá-la.
- Muito obrigada. Prazer, Verônica Salles. - disse fechando a porta.
- Alonso de Medeiros, ao seu dispor. - reafirmou seu nome pensando se tratar de algum costume de alguém de fora que pronuncia o sobrenome. A mulher tinha uma pronúncia diferente com as palavras, mas não quis ser indiscreto, perguntaria depois.
Quando Alonso olhou pela primeira vez diretamente nos olhos de Verônica, foi como se uma tempestade agitasse seu coração. Um misto de alegria e angústia invadiu sua alma e por algum motivo sentiu vontade de chorar. Procurou disfarçar sua comoção e seguiu adiante na espera de alguma palavra de uma tão linda desconhecida. Ofereceu água e umas frutas que levava na boleia.
Enquanto bebia a água, Verônica pensava no que ia dizer. Não sabia para onde ele a levaria e muito menos saberia explicar o que lhe aconteceu, mas de uma coisa ela tinha certeza: agora não sentia medo. No rádio tocava "Cais", de Milton Nascimento, interpretado por Nana Caymmi. Naquele momento apenas a canção fazia sentido.
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O AMOR PEDE CARONA
Mystery / ThrillerLiteratura Juvenil Uma jovem e bela mulher perde a memória e luta consigo mesma para reativar lembranças, mas consegue recuperar apenas alguns nomes, números e poucas imagens que supostamente fariam parte de sua vida. De maneira intuitiva resolve ch...