Eu relutei para escrever isso, parecia tão tolo e embecil da minha parte fazer isso, eu ficava constrangida, eu me culpava. Mas ao mesmo tempo me sentia tão vazia, tão sozinha, com esse peso que só a mim cabia. Felizmente criei coragem em falar sobre isso e alertar tantas outras pessoas que também passam por isso e não percebem. Nem tudo que parece é! É preciso estar atento e aprender a perceber melhor as pessoas e o mundo à volta porque os diamantes não ficam na superfície e são o que de mais valioso há. Parece difícil acreditar que aquele namorado tão bom fez tudo o que fez com você. Geralmente é essa a pior parte de se descobrir que se estava em uma relação abusiva, porque você sabe que nem sempre ela foi assim. Mas não se engane, não é porque tudo era um mar de rosas no começo, que era verdadeiro. Nem os melhores gestos encobrem tudo o que uma pessoa é capaz de fazer com você, para destruir você, para te afetar emocionalmente. Frios e calculistas, os abusivos não medem esforços para nos dominar de todas as formas que podem. Conquistam nossa família, entram na nossa casa, se enturmam com os nossos amigos e, publicamente, fazem parecer que tudo era como em um sonho. Depois, quando vocês estão a sós, as garras aparecem e cravam na sua pele. Não se engane com os discursos cheios de amor, se os atos te desvalorizam. Seja homem ou mulher, porque ninguém está livre disso, se livrar de uma relação abusiva te garante a verdadeira felicidade. Não existe lado bom em uma pessoa que quer te machucar, existe em continuar a sua vida sem olhar para trás. Tenha fé, não queira isso para a sua história.
Tudo começou no meu último ano do colegial, tínhamos acabado de voltar das férias, as quais aproveitei muito. Era tempo de conhecer pessoas novas, pois sempre entrava alguém novo na sala. Era tempo também de se preparar para a formatura, a tal que sonhávamos tanto durante toda essa caminhada que trilhamos juntos. Foram tantos momentos bons, nem parecia que logo aquilo chegaria ao fim. Irei sentir saudades da turma, dos amigos, professores e todos funcionários da escola os quais conhecíamos muito bem. Mas agora era hora de pensar no meu futuro, faculdade, derrepente sair da casa dos meus pais, conhecer alguém, a final nunca tive tempo de me abrir a essas experiências de adolescentes, minha vida sempre foi estudar para provas e passar de ano, minha família era muito rígida quanto a isso então sempre fui pelo certo, nada de bebidas alcoólicas e namorados. Nunca me faltou vontade de conhecer alguém, que eu pudesse dividir coisas do meu dia a dia e viver bons momentos mas sentia que não era a hora, e que um dia esse momento iria chegar quando eu estivesse pronta.
Então... começando essa história, chegando a escola logo avistei meus amigos, todos sorridentes me abanando, fazia tempo que não não víamos. A escola parecia a mesma, não mudaram nada, nem uma pintura ou coisas novas, nem o jardim eles arrumaram o que era de costume fazerem a volta as aulas, mas ainda estava bonita, talvez pelo fato de eu adorar aquela escola por tantos momentos bons que me proporcionou. Fiquei um pouco conversando com meus colegas e amigos até a hora de começar as aulas, tínhamos tantas coisas para contar um para os outros. Dado o sinal todos entraram para suas salas, sentei no mesmo lugar que eu sempre sentava, a esquerda do lado da janela, fui uma das primeiras a chegar na sala, aos poucos os outros foram chegando. De cara já vi alunos novos, pareciam empolgados, talvez pela escola nova ou talvez por conhecer gente nova
ou até mesmo porque era o último ano de escola. A professora entrou, senhorita Jenna, estava com um vestido comprido floreado brega, com um casaquinho por cima e seus enormes óculos, ela era uma mulher linda não se deixe enganar pela sua forma de se vestir, sempre muito bem educada e atenciosa, era professora de filosofia, e adorava o que fazia. Ela chegou na sala um tanto quanto diferente quanto pensávamos que estaria, estava abatida cabisbaixo, tentou dar um sorriso forjado que não convenceu muito, parecia envergonhada mas prosseguiu sua aula.
-Bem vindos de volta meus queridos, é muito bom ver essas carinhas novamente e vejo que temos alguns alunos novos, sejam todos muito bem vindos, espero que se adaptem a turma e se deem bem com todos, esse é o último ano e quero que vocês aproveitem ele da melhor maneira possível, claro sempre prestando atenção aos estudos. - Falou Jenna, ainda tentando nos enganar com seu falso sorriso. E para se conhecermos melhor quero pedir aos novos alunos para se apresentarem aqui na frente. E assim o fizerem cada um dos cinco novos alunos se apresentaram, falaram seus nomes, de onde vieram, suas meterias preferidas, idade e etc... mas teve um que me chamou a atenção o nome dele era Scott.
- Então galera... (risos) estou meio sem jeito pois sou um pouco envergonhado mas quero me apresentar a vocês! Bom, meu nome é Scott, eu me mudei para cá faz alguns meses, tenho 17 anos e atualmente moro com meu pai, pois recentemente perdi minha mãe em um acidente de trânsito. - Scott encheu os olhos de lágrima e depois de uma pausa de uns 10 segundos olhando para cima prosseguiu. - É difícil pra mim falar sobre isso ainda, mas estou levando, a vida não pode parar e eu tenho que prosseguir. E agora esse ano eu quero pensar só em coisas boas, quero amigos novos, conhecimentos novos e explorar essa cidade incrível, qualquer dúvida podem me perguntar. - Logo em seguida ele voltou ao seu lugar e se sentou.Não sei o que aconteceu comigo, pois não parava de olhar para ele, fiquei comovida com o que ele falou, queria tentar fazer amizade com ele mas não teria coragem de chegar nele e nem saberia o que falar. Confesso que ele me atraiu bastante, era muito bonito, cabelos escuros e olhos verdes, um sorriso encantador, e o que mais admirava nele enquanto o observava era que ele sorria com os olhos, tinha um jeito meigo com uma pitada e safadeza em seu olhar. Ele estava muito bem vestido ao meu gosto, com uma blusa branca e uma jaqueta preta de couro com uma calça jeans, muito estiloso, cabelo cuidadosamente arrumado com fixador, e seu perfume cobria a sala toda. E além de mim várias outras meninas estavam afim dele, as quais já estavam sentando ao seu lado se oferecendo para mostrar a escola, eu seria a última garota que ele daria bola, pois não chegava nem perto das outras meninas. Estava no meio da aula ainda e eu não conseguia parar de olhar pra ele, jurei a mim mesma que aquela seria a última olhada até o final da aula. Então fiquei um tempo parada olhando para ele, por instantes esqueci do mundo a minha volta, voltei a si quando ele percebeu que eu estava o olhando, fiquei sem jeito e rapidamente me virei para frente morrendo de vergonha, só queria sair da sala correndo, e sim eu sou muito envergonhada. Cinco minutos depois vejo uma voz me chamar, era minha amiga que sentava no fundo me pedindo cola do trabalho, quando virei para traz percebi que ele estava me olhando, ignorei o fato e voltei a olhar para frente, então de vez em quando eu disfarçava e dava uma pequena olhada, e para minha surpresa ele estava me olhando fixamente. Entre as outras dez vezes que eu olhei pra ele, continuava a me olhar fixamente, cheguei a pensar que tinha algo errado comigo, algo no meu cabelo, sei lá.
Na hora do intervalo, como de costume sentei na mesma mesa que meus amigos, mas estava sem fome então nem comi nada, após alguns minutos ali conversando com eles decidi ouvir música, mas lembrei que tinha deixado meus fones no meu armário, então lá foi eu, atravessei toda a escola para pegar os malditos fones de ouvido. Cheguei no meu armário e o corredor estava vazio, todos estavam para o pátio ou para o refeitório. Já organizei os livros da próxima aula e fechando meu armário avistei Scott vindo em minha direção, eu paralisei mal pude evitar que minhas bochechas ficassem vermelhas, então ele passou reto e dobrou à direita, pude respirar fundo, e aos poucos voltei ao normal, na verdade eu queria falar com ele, mas eu teria muita vergonha, não saberia lidar com a situação.
Scott entrou para o time de futebol da escola, enquanto eu tentava uma vaga para líder de torcida, o que foi uma péssima ideia pois sou a pessoa mais estabanada do universo, mas só fiz isso pela minha amiga Kate, ela também tem bastante vergonha e não queria fazer o teste sozinha. Eu me sai muito mal, e para piorar a situação, cai um tombo tentando fazer uma acrobacia e acabei torcendo o pé. Fiquei gritando de dor igual uma louca, até alguém me ajuntar do chão e me levar para a enfermaria. Scott veio correndo e junto com ele todos garotos do time, o que foi uma vergonha do caralho pra mim. Ele me levou até a enfermaria e ficou o tempo todo lá comigo, mesmo a enfermeira dizendo que ele não podia ficar. Tive que ficar ali um tempo para ver se estava tudo bem, então Scott tentava me animar falando as piadas mais sem graça que eu já teria escutado.
-por que o pinheiro não se perde na floresta? Porque ele tem uma pinha(um mapinha) entendeu? -Jack começou a rir igual um abobado. - Essa piada sempre funciona quando quero fazer as pessoas rirem.Ficamos ali conversando,trocando ideias, e contando histórias, foi muito bacana, ele era muito divertido, uma ótima companhia não era só mais um rostinho bonito. Até a vergonha que sentia dele sumiu.
-Olha se quiser, eu te dou uma carona, não sei como que você vai para casa, mas eu ficaria honrado se pudesse te levar. -Falou Jack meio apreensivo, como se estivesse com medo de ouvir um não e ser rejeitado.
-Eu ia com meus amigos, mas eles vão passar no shopping e infelizmente não vou poder sair assim então vou aceitar sua corona. - Disse respirando fundo e tentando levantar da cama.
Ele me ajudou a entrar no carro, então ele colocou uma música do Elvis Presley- Suspicious Minds, e nessa vibe fomos até chegar em casa, ficamos surpresos ao saber que morávamos na mesma rua e nunca tínhamos nos visto.
-Como nunca te vi antes? - Falei boquiaberta, ao mesmo tempo sorrindo.
-Talvez era pra gente se conhecer assim, eu indo te socorrer após cair um tombo (risos) acho que tudo tem sua hora para acontecer e nada é por acaso. - Falou Scott passando seu braço por traz de mim, tirou seu óculos escuro e chegou bem perto do meu rosto e me deu um beijo na bochecha. - Até mais.... -ele ficou pensando tentando adivinhar meu nome o qual eu não tinha falado e o qual ele também não tinha perguntado.
Sophie, me chamo Sophie. -Falei revirando os olhos e dando um sorriso de canto.
Prazer Sophie, eu me chamo Scott - falou ele com seu senso de humor incrível.
Até amanhã - me despedi dele e sai do carro, assim que virei as costas dei um sorrisinho
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A Tua e a Minha Voz
RomanceViver um relacionamento abusivo nos muda completamente, faz com que nos tornemos pessoas mais receosas e doloridas quando o assunto é amor. Não é fácil perceber que a pessoa amada não era o príncipe encantado, que ele na verdade era o vilão da histó...