War Killer

"O Início da noite"

A carrinha em que me encontro é velha e tem um cheiro petrificante a morte, talvez seja impressão minha mas acredito que as janelas não estão com manchas de lama mas sim de sangue já ressequido...

- Eric ? Eric Miley !?- um homem dos seus trinta anos olha-me nos olhos enquanto me sento de bruços no canto da carrinha que contém ao todo uns cinco rapazes incluindo eu.

●Eric Miley

- S-sim- respondo evitando os seus olhos-

Ele continua o que percebo ser a chamada, escrevendo os nomes de cada um de nós, numa caderneta.

- Chamo-me Marco, e vocês foram-me atribuídos para vos preparar para a guerra, sei que alguns de vocês vieram de bom grado lutar pela vossa pátria no entanto à quem isso não lhe diga nada- os seus olhos mais uma vez recaem em mim, e apesar de estar com a cabeça entre as pernas, sinto que os seus olhos manteram-se em mim enquanto continuava a falar-... a guerra não é como um jogo, vocês apenas têm uma vida, e estou aqui para garantir que todos estejam preparados para a manter.-

Um silêncio instaura-se na carrinha até as rodas da mesma pararem e nos abrirem a porta. Os rapazes que se encontravam comigo saíram e quando finalmente me decidi a mexer e levantei a cara, lá estava ele a olhar para mim com um ar completamente indecifrável.

●Marco Pires

Os sons de tropas a correr com as suas botas pesadas, e os diversos tiros ouviam-se por toda à parte, juntamente com as vozes de cada tenente que se sobrepunham uma na outra, mas não deixava de se perceber cada palavra

- Mais rápido recrutas !!!-
-Preparar.... Fogo!!-

Cada um deles dava o seu melhor e tudo o que eu queria fazer era sair daqui.

À uma semana atrás

Faço hoje 18 anos... quem diria que ia durar tanto.
Abandonado aos 7 anos na rua como um animal indesejado, passei a viver do que me ofereciam ou encontrava nas ruas, ainda me lembro de cada sarjeta cada caixote do lixo e de todas, todas as caras de quem roubei durante anos...

- Logo vi que não conseguias...-

- Eu consigo!... só não quero ser apanhado... já não sou uma criança-

-Então o homem está com medo ?-

Cansado de o ouvir levanto-me de onde nos encontrávamos sentados e passo por entre as pessoas colocando as minhas mãos nos seus bolsos e malas retirando a carteira de cada um por quem passava. Já com os meus bolsos do casaco cheios olho na sua direção com um sorriso nos lábios mas o mesmo já não se encontrava lá.

Uma mão é posta no meu ombro e quando me viro sou obrigado a olhar para cima para lhe ver a cara, ao fazê-lo vejo que se encontra fardado.

- Vais devolver isso ?-

O meu sangue gela ao perceber que tinha sido apanhado... apanhado por um soldado. A sua mão manteve-se no meu ombro impedindo a possibilidade de fugir.

- Eu... eu-

-Huh... Podes i..-

- O que tens ai Marco?- Um outro soldado aproxima-se de nós e retira da minha mão a carteira que tinha roubado, a sua felicidade era incontestável ainda mais quando reparou que continha muitas mais dentro dos meus bolsos- Um novo recruta pelo que estou a ver... muito bem rato de rua poem-te a andar.-

Fui quase que empurrado para dentro da carrinha que continha no seu interior outros rapazes que pelo aspeto eram, assim como eu, "ratos de rua".

Nos dias atuais

Depois de passar por mais de umas mil tendas, cheguei finalmente á minha, parecia ter percorrido o acampamento todo, para chegar aquela que chamavam "Esgoto". As caras que se encontravam lá dentro eram de pessoas tão acabadas quanto eu, éramos todos, uns inúteis que foram apanhados a fazer aquilo que pensávamos saber fazer, e agora vamos todos morrer por isso.

-Recrutas - Diz um homem com uma voz de timbre grave chamando a atenção de todos os presentes- Têm 5 minutos para se vestirem e se dirigirem para o campo de treinamento- ao ver que ninguém se mexia o mesmo grita- já!!

Como se estivéssemos sobre ataque vestimo-nos com a farda que nos era dada e que se encontrava sobre a cama calçando as devidas botas.

Quando lá chegamos eram centenas se calhar milhares de novos recrutas, limitei-me a copiar os outros e colocamo-nos em fila.

De novo vejo os olhos daquele homem que me apanhou e que me trouxe para aqui "sargento Marco Pires" foi assim que se apresentou, discursava sobre a guerra a maior que a Europa alguma vez viu, nada que me intressa-se. Olho para os lados procuro algo com que me entreter até sentir o peso do olhar do mesmo em mim. Desta fez o fito, em outra circunstância nunca o teria feito, mas já que vou morrer é bom que não crie mais arrependimentos, não vou morrer um cobarde.

Éramos divididos por esquadrões, cada tenda era 1, e para minha alegria fomos postos na mão dele.

Ele aproximou-se de nós e mais uma vez disse o nome dele, e mais uma vez repete aquilo que tem vindo a dizer desde a carrinha até agora.

-A minha voz o entedia recruta ?- fala para mim soa ríspido de certa forma zangado o que me faz rir

-Se não o estivesse a ver diria que estava a ouvir um disco riscado.- o meu sorriso no canto dos lábios

Ele olhou-me de alto a baixo parecia medir-me..., a sua mão vai até à minha cara, sou esguia sempre fui, tinha ótimos reflexos e os meus roubos que o digam, mas aquela mão moveu-se tão rápido que nem tive tempo de fechar os olhos, levei um estalo com a parte de trás da mão dele, a minha cara doía mais do que alguma fez doeu e eu apanhei muito nas ruas.

Quero que durmam, amanhã iniciam o treino, e você recruta Eric vai guardar a minha tenda durante esta noite e amanhã junta-se ao restante do seu esquadrão.

Vão se todos embora para a tenda, já Marco faz sinal com a cabeça e que nem um cão bem treinado o sigo.

Eram cerca de 2 da manhã quando Marco sai da tenda para ver se ainda me encontrava lá, estava sem camisa, o seu corpo era musculado... forte, e cheio de cicatrizes.

-Como está a noite ?

- Ótima para uma emboscada.

Desta vez ele sorriu
-Se continuares assim pode ser que acabes morto antes mesmo de ires para a guerra

-Morrer antes ou depois qual é a diferença ?

-A possibilidade de teres mais uns dias de vida, quem sabe talvez anos.

Volta para dentro da tenda e não o volto a ver durante o resto da noite.