Pecados pagos

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''Agora percebi... Achei que eu estava te protegendo deles, mas estive protegendo eles de você''

A Toriel não foi o melhor exemplo de ''pessoa boa'' que eu pude ter... conversando com bonecos, agindo forçamente para aparentar ser fofa ou carismática... por um momento, confesso que a encarei como uma ''segunda mãe''.

Mas, repetindo o ato da primeira, logo me abandonou.

Abandonou-me em um labirinto roxo, com puzzles desnecessários e uma música calma no fundo; essa música soava como um suspense, para me assustar ao encontro de outra criatura horrenda (determinada a me matar, aparentemente, sem motivos), enquanto eu tinha apenas um curativo como escudo e um graveto como arma.

Me senti traído, e com muita razão. Decidi ser brutal naquele ataque, justamente para que visse como eu evoluí, ficasse feliz com a conquista de minha independência, se preparasse para atacar sem piedade alguma; e essa foi sua reação. Ajoelhada, em uma poça de sangue, rindo, reconhecendo os seus erros; a partir do momento que eu passasse por aquela porta, nunca mais teria que me relembrar daquela cabra. E isso que me acalmou. Isso que me alegrou de primeira.

''Ainda há bondade em você, e sei disso. Me abrace, vamos esquecer esta richa''

Sempre achei Papyrus um idiota, e nunca soube responder a mim mesmo se ele queria falhar de propósito, para que eu o visse como um indefeso e o poupasse, para, talvez, me atacar de surpresa, consequentemente tirando mais HP e vencendo a luta, ou realmente se esforçou para criar os chamados ''quebra-cabeças'' e fui muito malvado em nossa relação.

Eu queria avançar, e este esqueleto parecia um obstáculo muito insistente. Me lembrava até uma criança, pela forma de agir, linguajar e roupas. Mas, isso não me impediria; matar um dos dois ''novos moradores'', que traziam tanta alegria à Snowdin, seria uma ótima forma de alavancar meu status. O objetivo era que todos parassem, fugissem de mim, me dessem poder e me deixassem excluir este mundo cruel e mentiroso.

''Eu tenho determinação, e jamais desistirei''

Undyne foi alguém interessante. Já tinha noção da minha força, e queria me impedir de chegar ao rei, além de se vingar pelo assassinato de sue maior fã-mirim. Ela realmente se esforçou e me perseguiu a todos os lugares que eu fui, provavelmente me analisando a minha forma de agir e preparando algo por cima. Seu único erro foi não saber sobre os saves, e que eu poderia voltar quantas vezes quisesse para estudar seus movimentos também.

O que ela via em um lugar desses? Sei que foi aonde cresceu, treinou, e até mesmo se apaixonou. Mas, eu destruí tudo! O que ganharia com a minha derrota? Um aumento, uma subida de patente? Ou apenas a surpresa de um novo Omega Flowey, muito mais poderoso do que o anterior?!

Se me deixasse falar outra coisa, além de um fracassado pedido de perdão, eu tentaria convencê-la a juntar-se a mim.

''Está um belo dia lá fora. Pássaros cantando, flores desabrochando... Em dias como esse, crianças como você... deveriam queimar no inferno.''

Esta foi a única fala que fiz questão de decorar. O Sans, ele... não é um monstro. Teletransportava-se misteriosamente, tinha total noção sobre o funcionamento das linhas do tempo, e sabia, mais do que qualquer um, 'me pegar no pulo'. Desde o começo aparentava ser perigoso: seu olhar me dizia isso. Toda hora parecia exausto, nem fazia questão de colocar letras maiúsculas ao início de suas falas. Sorria sempre, como um bobalhão. E, para me irritar, agora debocha de mim sempre quando tento jogar novamente.

Seu poder envolve ossos... de onde teria os tirado? Obviamente, tratava-se de um poder seu, por ser um esqueleto. Mas, era impossível para mim pular aquelas plataformas, sem pensar na ideia perturbadora/ilógica de que aquele poço fosse restos de antigos inimigos, e que dali teria tirado toda sua fortaleza.

Mesmo sem pontas afiadas, me perfuravam, me faziam chorar, sangrar, gritar, e eu não podia fazer com que sentisse o mesmo, pois desviava de todos os meus ataques. Afinal, eu luto tão mal assim? Será que, se eu não tivesse pego a ''faca de verdade'' e pudesse dar mais de um hit, ele saberia como fugir?

Olhando minha estrela, com uma mensagem de determinação cravada, sem qualquer tipo de fonte especial ou mensagem de motivação, percebo que estou sozinho neste mundo, lutando, ao que parece ser, horas e horas seguidas com um esqueleto, sem poder comer nada além de hambúrgueres, tortas e, ironicamente, um pedaço do boneco de neve que decaptei.

Já velejei, de novo, pelos antigos mapas. O moço do barco de gato, o Jerson, a Temmie, o comerciante louco do MTT e até mesmo o cachorrinho da coelha da pousada, ignoram os meus pedidos de socorro ou piedade, pois são programados a me atender, por mais que suas expressões sejam de desespero.

Vou ao Grillby's. Minha atividade favorita neste caos era poder subir em cima da mesa e me sentir o rei do bar, dançando junto com a caixa do lado. Porém, agora isso parece apenas uma atitude carente, de um ser com uma índole altamente questionável.

Desço, tropeçando e caindo de cara do chão. Isso, seu imbecil, dê uma de Monster Kid agora. Isso mesmo, seu idiota, reconheça que é apenas um lixo de ser humano. ''Vai, criança burra, inventa de descer o monte Ebot, talvez queda te faça compreender o que a vida realmente é''.

Não, não quero dar Reset, não depois de tudo o que fiz. Não quero ver todos os rostos de personagens que me reconhecem de algum lugar. Não quero encarar o Sans como apenas um preguiçoso engraçado, que só quer me ajudar por conta de uma promessa.

Eu quero voltar para lá, e morrer no primeiro Gaster Blaster, de novo, de novo, e de novo, antes que o Megalovania comece a tocar.

Megalovania (Undertale)Where stories live. Discover now