Passa a existir um garotinho sentado dentro de um carrinho de puxar, vendado, no topo de uma ladeira.
Uma ventania muito forte empurra o carrinho e ele começa a ganhar velocidade.
O garotinho não sabe o que está acontecendo, só sente o vento forte bater em seu rosto, um frio na barriga, e vibrações donde ele está sentado.
Ele tira a venda e o cenário não muda muito: escuro. O garotinho começa a chorar e entrar em desespero.
Um longo tempo se passa e garotinho para de chorar.
O garotinho começou a questionar o que estava acontecendo, e logo após o desespero se esvaio.
O garotinho passou a conceber aquele cenário como intrigante: o vento forte em seu rosto, o frio na barriga, as vibrações do carrinho...
Não demorou muito até ele conceber aquelas sensações como divertidas; o garotinho passa a sorrir e a cogitar o significado de cada sensação e de quando elas passaram a existir.
Ele lembrou, mas não sabia o porquê, ele não sabia o porquê de tudo isso estar acontecendo, ele não sabia o motivo dele está onde estava; o rosto sorridente passa a carregar algo mais angustiante que um sorriso desesperado: a indiferença.
Por fim, a paciência fez efeito: após ter ficado debilitado por um longo tempo, o garotinho se tranquiliza e passa a aceitar aquelas sensações.
Aceitou que não é capaz - pelo menos não ainda -, de responder às questões que levantou durante sua aflituosa existência.
Aceitou a vida, pois viagem continua.
BARBOSA, Jefferson. 25 de fevereiro de 2019.
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O Escuro da Ladeira
Short StoryPara alguns a existência é triste, escura, e intrigante; como passar a existir vendado no topo de uma ladeira sentado em um carrinho de puxar preste a descer.