Digamos que nem sempre as pessoas tiveram a tendência em colecionar as coisas, sejam elas quais forem. Os seres humanos passaram a ser tão consumistas, começaram a comprar as coisas de montes e a fazer acúmulos absurdos, que possivelmente desenvolveram o termo colecionar, já que tinham tantas coisas e não queriam se desfazer delas, mesmo que não houvesse precisão em tê-las. As notícias corriam dentre todos os países, novos colecionadores iriam surgindo, mas isso ainda continuava um absurdo. Para onde iria toda aquela tralha quando ninguém mais quisesse colecionar? É, isso mesmo, viraria um monte de lixo ambulante, que nem mesmo se jogassem dentro de um buraco negro aquilo pararia ou acabaria. As pessoas não pensam mais no futuro, de como a Terra provavelmente vai ficar daqui a uns cem anos, ou até mesmo daqui a uns vinte anos, com tanta coisa comprada e pouca coisa sendo descartada. Quando forem se livrar delas, serão aos montes, e ai sim tornaria um caos. O que uma vez era um carro caro, uma relíquia única, não passaria de um monte de ferro e lata velha.
Mas, Louis era diferente. Ah, sim, ele era sim. O pequeno menino de olhos azuis levava sempre consigo seu bem mais precioso, onde ele fazia a sua própria coleção.
Um caderno verde musgo, que ele ganhou no seu aniversário de sete anos, que coincidia com a véspera de natal, vinte e quatro de dezembro. Naquela noite, o sorriso que nasceu no rosto do pequeno Tomlinson poderia ser comparado a um grande rasgo que surgiu em sua face. Naquele dia, Jay e Mark ganharam o abraço mais apertado que já tinham sentido, de tamanha felicidade que seu filho sentia em só ganhar um caderninho velho, que não teria importância alguma para outras pessoas, mas aquele presente para ele, fora o melhor de todos. Ele poderia escrever o que quisesse, poderia contar suas aventuras vividas fora de casa, ou até mesmo sobre as aventuras das outras pessoas, o que ele quisesse escrever, ele escreveria com toda a certeza.
As coisas mais importantes para Louis, eram as memórias, momentos que se passavam mas que ficavam vivos dentro de uma pequena parte em nossa mente.
Todos nós temos nossas máquinas do tempo. Algumas nos levam para trás, são chamadas de memórias. Outras nos levam para frente, são chamadas de sonhos. As memórias amargas não podem nos aprisionar. Elas fazem parte da vida - como o sorriso, o por do sol, o instante de oração. Curioso é que esquecemos rápido nossas alegrias, embora sempre façamos com que o sofrimento dure mais do que o necessário. A dor é uma ótima desculpa para problemas que não conseguimos resolver, passos que não tivemos coragem de dar, decisões que adiamos. A dor faz parte da vida - como faz parte a alegria, a fome, e a vontade de sonhar. Não adianta fugir, porque ela termina nos encontrando. Mas sua única função é nos ensinar algo. Aprendemos suas lições, e isso basta.
E era por essas coisas que Louis brilhava seus olhos. Suas íris pareciam duas safiras cintilantes. A cada história escrita, a cada palavra ouvida, o menino imaginava como teria acontecido cada uma. Como quando ele escreveu sobre dona Georgia e seu pai que era dentista.
- E ele não deixava de jeito algum a senhora comer doces? - o menino perguntava, entusiasmado e intrigado com aquilo. "Qual criança não pode comer ao menos uma bala?", ele pensava.
- Não, não. Meu pai sempre foi rígido sobre a questão das cáries. Ele não queria uma filha com os dentes todos comidos por esses bichinhos. Ele tinha um nome a zelar e também não queria que eu acabasse com os meus dentes. - a senhora falava, vendo o rosto de espanto do garoto. Ela sorriu, por um momento, e Louis pode ver o brilho que seus dentes possuíam. Eram muito brancos, bem alinhados e sem nenhum resquício de passagem de cárie.
- Mas seus dentes são tão bonitos. A senhora nunca comeu nem mesmo uma jujuba? - ele ainda estava intrigado. Quem, em sã consciência nesse mundo, não comeu uma jujuba vermelha? São as melhores. Tudo bem, que ainda tem as roxas, e as amarelinhas. Mas as vermelhas são as melhores.
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Cemitério de Mentes
FanfictionExistem inúmeros colecionadores em todo o mundo. O termo "colecionar" se abrange em um tamanho inimaginável. Uns colecionam carros, outros são quadros, outros são troféus, e ainda à aqueles loucos por coisas absurdas, como uma coleção de chicletes d...