— Um Moscow Mule, por favor... - a mulher pediu ao bartender, alto o suficiente para se fazer ouvir sobre a música que explodia as caixas de som do local. Pela altura, ela poderia estar em uma boate em Hongdae, mas era só uma festa de casamento. Ultimamente, aliás, era só isso o que seus amigos faziam: casavam-se. Ou tinham filhos. Nesse caso, ela ficava com os casamentos. Especialmente naqueles em que o barman era tão excepcionalmente competente, como ela havia descoberto ser o caso, depois do terceiro drink ter levado consigo sua capacidade de julgamento.
— Capricha na espuma. - a voz era tão conhecida aos seus ouvidos que ela sentia como se tivesse voltado no tempo, ou talvez mergulhado em memórias tão antigas que nem pareciam mais sua propriedade - Ou ela vai pedir pra você fazer outro. - completou, e a mulher não precisava ter os olhos nele para saber que sorria. Céus, ela podia fechar os olhos e desenhar aquele maldito sorriso em sua mente, se fosse preciso. E isso era tão impressionante, quanto absolutamente ridículo.
— É claro que vou. - concordou e, sendo incapaz de reprimir um sorriso, reuniu a coragem necessária para tirar os olhos das garrafas de trás do balcão para encarar o homem ao seu lado: tão dolorosamente atraente que ela tinha dificuldades em acreditar que aquela boca já tinha, de fato, estado na sua. Deus era bom, ela precisava concordar com isso, amém! Ou talvez ela só estivesse bêbada, e ele ainda se parecesse com o cara que dormia metade do tempo durante as aulas, e matava a outra metade na sua companhia. Pensando melhor, mesmo esse cara era bonito o suficiente para tirar seu sono. Foi apenas quando o nome dele escapou de seus lábios, feito uma velha canção de ninar há muito tempo esquecida, que ela notou que prendia a respiração - SungHwa oppa... Ou eu devo te chamar de Gray agora? - completou, e o sorriso esperto em seus lábios ao morder o canudo em seu copo vazio fez uma risada brotar pouco a pouco no rosto dele, até se partir em uma gargalhada franca.
Ele usava um terno sob medida que em nada de assemelhava aos moletons que costumava vestir na faculdade, e parecia tão bonito e adulto que a mulher tinha vontade de rir. Mas aquele riso... Esse ainda soava igual. Ainda fazia seu estômago se encolher e seu coração se inflar feito uma bola de aniversário. Ainda lhe despertava uma risada gêmea, que obrigava seus olhos a se apertarem daquele modo tão peculiar que, ela nunca viria a saber, era o que ele encontrava de mais bonito em seu rosto.
— SungHwa. - ele respondeu, e o modo como suas mãos formigavam pelo desejo de trazê-la para um abraço fez com que as enterrasse nos bolsos do paletó - Quando você ficou tão previsível, Sook? - sorriu, prevendo a risada que escaparia dos lábios dela e ansiando por ela.
— Uma mulher de gostos consistentes, eu diria. - ela respondeu, sem dar o braço a torcer, e foi impossível a ele não concordar: Sook era toda racionalidade, lógica e coerência, o contraponto perfeito para a sua mente criativa e sonhadora.
— E como está essa mulher de gostos consistentes depois de tantos anos? - perguntou, apoiando um dos braços no balcão apenas para ter uma visão melhor de Sook: céus, ela mudara tanto! O vestido preto delineava curvas que, ele tinha certeza, não estavam ali da última vez que a vira. Os cabelos estavam mais claros e havia nela uma postura que dizia claramente que ela havia descoberto dentro de si a mulher que sempre fora. A mulher que ele sempre vira nela. E apesar de tudo, quando olhava para ela tantos anos depois, ele ainda via a sua garota.
— Bêbada. - ela sorriu de canto, arrancando uma risada fraca do rapaz, enquanto tombava a cabeça para vê-lo melhor, percebendo-se com a guarda tão baixa que sentiu seu estômago revirar. Merda, ela sabia que havia uma possibilidade considerável de que ele estivesse ali... Era o casamento de seu melhor amigo, afinal. Uma parte dela, no entanto, desejava que ele tivesse a agenda cheia demais para comparecer - Eu não achei que você viesse, SungHwa. - confessou, e o modo como ela dizia seu nome ainda soava a ele como uma das coisas que existiam de mais bonito no mundo.
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CALL ME GRAY - Lee SungHwa
RomanceFeito yin e yang, eles são forças opostas e complementares. E quando se reencontram, depois de anos, a atração é inevitável.