zero! melancholy future

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Eu era um tanto estúpido quando tinha dezessete anos.

Desenhava mais nas aulas do que anotava coisas realmente importantes, entupia o meu fígado de álcool, ficava até altas horas na rua vagabundeando com os meus amigos.

Mas eu era feliz. Eu me sentia vivo.

Agora meus dias se resumem à ficar trancafiado dentro de um escritório, assinando papéis e mais papéis, assistindo reuniões que nunca acabam, e tomando café como um viciado.

Quer dizer, a minha vida não é ruim. Mas eu não sinto como se fosse realmente minha.

Eu não queria cursar administração, não queria assumir a empresa de meu pai, e muito menos estar casado com Haneul. Não queria ter me tornado o homem de negócios rabugento que sou hoje, mas foi inevitável.

Bem, talvez eu pudesse evitar, mas isso há muitos anos atrás. Hoje, a única coisa que posso fazer é chorar no colo do meu gato, ou reclamar horas semanais contadas com minha terapeuta.

Me perguntava onde tinha ido parar aquele garoto idiota e sorridente. Eu gostava mais dele.

_O que você queria? _Kim me perguntou, os olhos estreitados me olhando por cima do óculos quadrado de grau, enquanto anotava alguma coisa em sua prancheta.

_Como? _Perguntei para minha terapeuta, confuso.

Por mais desconfortável que eu me sentisse com a presença de um psicólogo, a sala de Kim Nammie era um ambiente agradável. O divã vermelho contrastava com as paredes brancas, sua poltrona azul, e as cortinas amarelas. Era colorido demais, mas ainda assim, alegre.

_Você já me disse quantas coisas queria que não tivessem acontecido. Então me diga, Jeon, o que exatamente você queria estar fazendo aos quarenta anos de idade?

Eu a olhei estático. Desviei o olhar para baixo, pensei por cerca de cinco minutos, e voltei à encarar a mulher pouco mais velha que eu.

Eu não sabia. Pelo menos, não me lembrava mais.

_Isso não importa. _Respondi, ríspido. _Não tem como fazê-lo de qualquer forma, tem?

_Me diga você. _A mulher de pele amorenada deu de ombros, e se levantou de sua poltrona, andando pela sala em que atendia seus pacientes. _Será que tem como?

Estreitei meus olhos confuso, sem saber onde ela queria chegar.

_A não ser que você tenha uma máquina do tempo, não, não tem. _Disse seco, cruzando meus braços acima do meu peito, me inclinando mais em seu divã.

A mulher riu, fazendo sua covinha única aparecer. Se sentou novamente em sua poltrona, de frente para mim.

_Você gostaria de voltar no tempo, então?

Aquela era uma pergunta curiosa.

Eu estaria mentindo se dissesse que nunca cheguei, de fato, a ter esse pensamento. Quer dizer, quem nunca? Mas se fosse encarar isso como algo realmente possível, eu o faria?

Voltaria a ser um adolescente chato e ignorante, que só pensa em animes e punheta? Voltaria para aquela cidade pequena de Busan, onde a coisa mais divertida para fazer seria beber na ponte de madrugada com meus amigos?

Back to 1999 • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora