O Início do Combate

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Rosa Carter

6 anos depois

— Bem que poderíamos ir àquele pub de que você gosta, Rosa — pede Bob, meu grande amigo da faculdade.

Ele, Franz e eu somos inseparáveis, apesar de que o alemão Franz anda me paquerando. Confesso que ficar seis anos sem sexo e carinho masculino é algo que tem mexido comigo, mas, sendo uma mulher íntegra, jamais me envolveria com outro homem estando casada, mesmo que esse casamento já esteja fracassado.

— Não vai dar, meninos. Hoje o meu dia é todo dedicado à minha pequena. Depois nos falamos, beijos. — Desligo e ouço os passos da minha filha descendo as escadas da nossa casa.

— Ande, Mariah, traga o trenó — grito e a minha menina aparece em nossa sala.
Ela herdou minha inteligência, mas também parece muito com o pai. A cor da pele saiu um tom mais escuro que o dele por conta da miscigenação, o desenho da boca, o jeito de falar, o sorriso, idêntico a Mason, mas os olhos são negros iguais a duas jabuticabas como os meus, assim como seus cachinhos. Em seus seis anos de vida somos muito parceiras e guardamos um amor em comum: o Natal.

— Aqui, mamãe.

Ela traz o pequeno enfeite, estamos decorando nosso pinheiro de Natal, que comprei hoje. Como em todos os anos, organizarei a ceia aqui em casa para nossos amigos e vizinhos, mas este ano terá um diferencial: a família de Mason não virá. Mesmo amando-os como se fossem minha família, desde que liguei para meu marido avisando do pedido de divórcio, tento cortar laços com todos os Cartes. Melhor me afastar para amenizar o meu sofrimento.

Esse pensamento me fez lembrar da ligação para contar sobre o divórcio, que não foi nada fácil.

— Oi, minha flor. Já faz tempo que não me liga, nem mesmo me atende. Está em período de provas na faculdade?

— Não, Mason, eu precisava pensar.

— Pensar no quê?

— Em nós. — Respiro com pesar.

— Rosa, por favor, eu fiz novamente o pedido de licença para ir te visitar, mas ainda estou aguardando a liberação. Tenha mais um pouco de paciência.

— Eu cansei de ser compreensiva. Já conversei com um advogado, entrarei com o pedido de divórcio. — Aguardo 10, 15 segundos, mas sua resposta não vem.

Sei que está me ouvindo porque escuto sua respiração descompassada.

— Ele disse que você será notificado e daí mesmo poderá assinar os papéis e me enviar. — Novamente o silêncio, acho que ele nunca imaginou que eu teria forças para tomar uma atitude drástica. Mesmo com todos os sinais que eu dei de que estava desgastada.

— Assim, dessa forma bruta? Eu sequer vou poder olhar em seus olhos enquanto assino essa merda de papel? — grita ao telefone. Nunca o vi tão desequilibrado desde que foi para esse maldito lugar.

— Desculpe, mas já se passaram seis anos e eu tenho pressa para viver. Se você escolheu se enterrar aí, é problema seu, não meu, não mais,  portanto, não posso esperar o seu tempo, já esperei demais.

— Eu não vou assinar.

— Só vai piorar as coisas, Mason. Facilite a minha vida.

— Não, pode esquecer. Não vou abrir mão da minha família dessa forma fria. Não vou abrir mão de você e do nosso amor, não sem lutar.

— Você já abriu mão, Mason. Passar bem. — Desligo o telefone e sinto como se um peso saísse do meu corpo.

Essa foi a nossa última conversa desde então. Nunca mais o atendi. Quando ele liga, passo o telefone direto para Mariah, afinal nossa filha é o nosso único elo.

— Mamãe, cadê a foto em que está sorrindo com o papai no dia do casamento de vocês? Sempre a deixamos em cima da lareira, deveria estar aqui, ao lado da árvore.

— Filha, eu já lhe disse que eu e seu pai estamos em processo de divórcio. Se quiser, guardo a foto para você ter a recordação, mas ela não estará mais em nossa sala — digo e vejo-a armar um biquinho e franzir a testa.

— Mamãe, ele está vindo para casa, ele me prometeu que estará comigo neste Natal. — Fico desolada com suas palavras, pois Mason está em uma missão na Síria e, segundo o seu pai vangloria-se, os homens da família Carter nunca desistem. Sempre diz que tentará vir para casa no Natal, no aniversário, em todas as datas comemorativas, no entanto, nesses seis anos, nunca retornou de fato. Sempre aceita propostas para estender a estadia, diz que é para dar bens à nossa família. Não importa o quanto eu lhe diga que não quero nada disso, ele se deixou cegar pelo dinheiro, pela ambição.

— Contei para ele que meus amigos da escola dizem que não tenho pai, que é tudo invenção da minha cabecinha, afinal, ele nunca está em nenhuma comemoração — diz, cabisbaixa. — Também contei que estarei no recital de balé de fim de ano da escola, que encenaremos o Quebra-Nozes e que preciso dele. Eu disse tudo isso, mamãe. — Os olhos marejados me quebram o coração.

— Tudo bem, minha linda, então compraremos uma bela roupa para que você esteja linda para o seu pai, mas isso não mudará o fato de que vamos nos separar. Você já tem idade suficiente para entender e nada mudará em sua vida, filha, afinal sempre fomos só nós duas de qualquer forma.

— Eu avisei a eles que terei um pai no Natal, portanto, você precisa convidá-lo para a nossa ceia aqui em casa. Meus amigos da escola estarão aqui, mamãe.
A pequena é esperta e perspicaz. Eu a ouvi contando para a minha amiga que ajudará o pai a me reconquistar. Sorrio tristemente de sua tentativa, pois existem muitas mágoas em nossa relação de marido e mulher.

Meu celular toca em meu bolso e arrepio-me ao constatar que é ele.

[DEGUSTAÇÃO] Um Pai no Natal: O Recomeço da Família CarterOnde histórias criam vida. Descubra agora