do you think it's right?

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♪𝙘𝙝𝙖𝙥𝙩𝙚𝙧'𝙨 𝙨𝙤𝙣𝙜: 𝘤𝘪𝘵𝘪𝘦𝘴 𝘪𝘯 𝘥𝘶𝘴𝘵 -
𝘴𝘪𝘰𝘶𝘹𝘴𝘪𝘦 𝘢𝘯𝘥 𝘵𝘩𝘦 𝘣𝘢𝘯𝘴𝘩𝘦𝘦𝘴

𝐫𝐚𝐜𝐡𝐞𝐥 𝐜𝐨𝐥𝐥𝐢𝐧𝐬

--- Você acha isso certo? -- meu pai pergunta para a sua esposa, minha madrasta Brooke, enquanto ajeita sua gravata.

--- De maneira alguma, querido. -- ela diz, com certa indignação.

--- O que houve desta vez, papai? -- pergunto, adentrando nossa casa, enquanto ambos se ajeitavam para o jantar.

--- Os motoqueiros! -- ele diz, me fazendo revirar os olhos internamente. -- Os delinquentes botaram fogo em meus outdoors contra os filmes LGBTQ+ na cidade. -- reclamou.

Eu não diria que realmente foram eles quem colocaram fogo nos outdoors de meu pai, porém, isso não seria errado. Restrição de filmes que abordam causas sociais é um ato de pura intolerância.

--- Como sabe que foram eles, papai? -- pergunto, dando um beijo na testa do mais velho, e me sentando a mesa.

--- Como sabe que não foram eles? -- ironiza, dando um sorriso de canto. -- Eles são uns vagabundos, Rachel. Por esse motivo e outros, que não quero nenhum tipo de aproximação sua com os da sua escola, ou com o de qualquer outro lugar.

--- Os policias acharam rastros de que foi algum deles? -- pergunto, já me servindo.

--- Sim. O fogo. -- disse, sarcástico. -- Tudo de ruim nesta cidade é culpa deles.

Fico chateada, porém, sorrio fraco.

--- Como foi o seu dia hoje, querida? -- pergunta Brooke, e eu sorrio.

--- Bom. -- respondo. -- Fui oficialmente eleita a Presidente do Grêmio. -- me contento.

--- Muito bem. -- comenta meu pai. -- Está seguindo os meus passos. Qual a sua primeira ação como Presidente do Grêmio?

--- Iniciar debates. -- digo.

--- Ótimo! -- o patriarca diz. -- Sobre o quê? A importância da pena de morte?

--- Sobre causas sociais. -- respondo, sorrindo. Brooke olha para mim com os olhos arregalados, enquanto meu pai me olha sério. -- Quero começar entrosando todos os grupos do colégio. Hippies com membros das equipes esportivas, atores do teatro com motoqueiros. Quero que cada um conheça a realidade da vida do outro, independente da religião, orientação sexual, raça, classe social... Vamos discutir também sofre o machismo, racismo... Quero começar pela igualdade.

Meu sorriso continua firme, mas desaparece quando meu pai parece tremer, e deixa seu talher cair sobre a mesa.

--- Querida, por acaso se esqueceu do certo? -- ele diz, tentando mostrar uma calma inexistente dentro de si naquele momento. -- Cristãos não se misturam com judeus, budistas ou com qualquer outra religião. Criaturas homossexuais não pertencem aos Céus, portanto, não podem ao menos conversar conosco. Negros, em poucos casos são pessoas honestas, que não roubam ou matam nós, os brancos. Os pobres não querem trabalhar. Crê mesmo que devemos nos juntar a eles?

--- Eu acredito que sim, papai. O senhor tem que ver! Na minha escola, os hippies são tão legais! Eu admiro a alegria e tranquilidade deles. Os motoqueiros são perfeitos! As roupas deles são fantásticas, se divertem a bessa, e são uma galera massa...

--- Um minuto, o que disse? -- perguntou, com o tom de voz um pouco mais rígido. -- Disse massa?

Quando estou a ponto de assentir, olho para Brooke, que através de palavras silenciosas, me indica que eu pare.

--- Sim. -- respondo.

--- Está jogando a educação que eu te dei no lixo? Como se já não bastasse, você quer ser um exemplo do Grêmio na sua escola misturando o bem com o mal? -- pergunta, bravo, se levantando de sua cadeira e caminhando em minha direção. -- Você quer a aproximação dos cristãos com os diversos religiosos, incluindo a feitiçaria? "Não deixarás viver nenhuma feiticeira." Êxodo 22:17, não se lembra o que disse o pastor no último culto?

--- Mas papai...

--- "O homem deixará seu pai e sua mãe, e tem de se apegar à sua esposa, e eles têm de tornar-se uma só carne." Gênesis 2:24, e "Se alguém se deitar com um homem como com uma mulher, ambos cometerão uma abominação, sejam eles mortos; seu sangue esteja sobre eles" - Levítico 20:13, disse o pastor no casamento de seu primo que fomos há algumas semanas, consegue se lembrar?

--- S-si... -- tento dizer, sentindo minha voz embargar com tanta pressão.

--- Ele disse que os homens largam os seus pais para viverem com outros homens? Ou fêmeas largam sua família para viverem com fêmeas?

--- N-Não. -- digo baixo.

--- Como?

--- Não. -- aumento o tom de voz, passando o dedo indicador pelos meus olhos ao sentir as lágrimas querendo cair.

--- Você quer discutir sobre o machismo, não quer? Perfeito. Mas antes, deixe-me te lembrar do que estudamos na Igreja, na semana passada; "Mas, se a acusação for verdadeira, tendo-se verificado não ser virgem a jovem, ela será levada até a entrada da casa do pai e os homens da cidade a apedrejarão até à morte, por haver cometido uma infâmia em Israel, prostituindo-se na casa paterna. Assim eliminarás o mal de teu meio" Foi o que disse Deuteronômio 22: 20-21, e por acaso, há alguma mentira? É fácil dizer que existe algum tipo de machismo, sendo que muitas mulheres não se dão o respeito, e querem que os homens o façam?

--- Eu apenas acho que...

--- Vamos lá, Rachel Marie Collins! Me diga se eu não estou certo! -- gritou, apontando o dedo indicador em minha face. -- Quando eu assumi a posse de Prefeito, eu governaria sim para todos! Mas o todos, são apenas as criaturas de boa família, índole, fé e educação! E eu exijo que faça o mesmo que eu em seu cargo de Presidente do Grêmio! Faça o certo!

--- Qual certo, pai? O seu certo? -- grito, sem perceber. Mas quando vejo, já é longe demais.

--- Você gritou comigo, Rachel? -- pergunta, mas antes que possa responder, retoma sua fala. -- "Bravo o que tomar os seus filhinhos e os esmagar contra uma pedra!" Salmos 137:9. -- e então, vi sua mão descer num contato rápido com meu rosto, logo deixando uma marca.

Quem me dera parasse por aí. Sua aliança de casamento, avaliada numa quantidade significante de ouro nobre, simplesmente cortou meu rosto. E o quanto ele puxou o meu cabelo, foi uma dor tão forte a ponto de parecer que eu estava sendo torturada.

--- John, pare! Você vai matar ela! -- escuto Brooke gritar, enquanto meu pai, impiedosamente ainda distribuía tapas em meu rosto.

--- Cale a boca, mulher! -- ele grita.

Creio que ele sentiu que aquilo bastava, quando eu já estava tonta e senti meu pai tocar em meu queixo, se abaixando em minha altura.

--- Não faça isso nunca mais, okay? Papai te ama, e tudo que faço, é por amor. -- declara, quando sinto minha cabeça latejar. -- Como castigo, não irá comer. Suba para o seu quarto, agora.

Ainda fraca, tento me recompor. Sinto alguém me guiar, prevejo que os seguranças de meu pai. Eles me trancam em meu quarto, após me ajudarem a subir as escadas. A única coisa que me lembro, foi de meu corpo se enfraquecer, caindo depois sobre minha cama.

Boa noite, Rachel. Durma com Deus.

𝓼𝓲𝓷𝓰𝓾𝓵𝓪𝓻𝓲𝓽𝔂 • 𝒌𝒊𝒎 𝒕𝒂𝒆𝒉𝒚𝒖𝒏𝒈 ᵏᵗʰOnde histórias criam vida. Descubra agora