Domingo. Fim de semana. Ele o detestava. Apreciava seu tempo sozinho, mas tinha medo de se arrepender. Como uma dessas pessoas desditosas, que se lamentavam por não terem aproveitado a companhia de pessoas queridas. Ultimamente isso o incomodava bastante, ele só esperava que, mais tarde, ele pudesse se assegurar e se confirmar de que eles não eram uma companhia muito boa e saudável.
No silêncio, (com isso quero dizer sem música) ele fazia um de seus exercícios nas primeiras páginas de seu sketchbook, com a mesma preguiçosa vontade de quando se começa a ler um livro não muito desejado ou de leitura obrigatória. Era para ser esboços gestuais, que simulavam movimento, mas na prática eram mais como pessoas derretendo em uma posição estranha. Uma das regras do desafio era não fazer o uso da borracha. Como ele não acreditava muito no seu potencial, e estava quase habituado totalmente a se gastar mentalmente por seus erros, isso não seria muito difícil. Ele tentava encarar isso como um molde ou uma lista, para, mais tarde, ter o resultado perfeito.
Depois da última série de quatro minutos, que no fim completariam trinta minutos, no último desenho, o silêncio, até reconfortante, porque na maioria das vezes ele preferia música, foi quebrado. Ele nunca imaginaria que tudo poderia mudar com um simples latido de cachorro, que, em um fim de semana maçante, o faria olhar para a janela.
Ele não achava seus desenhos grande coisa e a outra aba já marcava três minutos e alguns poucos segundos. Parar agora e olhar para a janela. Como um dia ele fez, antes de todos sumirem para dentro de suas casas para se preocuparem com contas e estudos. Como quando ele nem os conhecia ainda e ficava na janela, ou no pátio, com esperança que o chamassem para brincar.
Ele fechou o caderno e o colocou para o lado, colocando o lápis em cima. Empurrou a cadeira com rodinhas até a janela. Do outro lado da cerca, um garoto de pele bronzeada, sua pele combinava com o sol, combinava com a grama na qual sua mãe sempre invejou. Ele estava sentado quase no meio do pátio, um pouco distante da sombra da casa da qual o pátio pertencia. Seu cabelo era em algum tom de marrom que Jungkook não sabia o nome. Abençoado com daltonismo, ele só sabia que era marrom, mas parecia um laranja meio desbotado, quase vermelho.
Ele continuou olhando para o garoto, sentado na grama verde, com a expressão serena e olhos fechados e um cachorro ao seu lado. Mas o cachorro não importava. Ele parecia tão calmo, com o queixo meio levantado, como se olhasse para o céu, mas parecia mais que ele o imaginava.
Ele era habituado a observar as pessoas, não por muito tempo, Jungkook era deveras tímido e não é muito agradável ter um estranho te encarando. Mas era diferente, o garoto lá em baixo não sabia, e era tão lindo. Como se fosse digno de ser observado.
Ele se debruçou na janela, olhando para baixo, para o garoto sentado na grama verde. Sua atenção total voltada para o garoto, Jungkook se perguntava no que ele pensava. Ele podia o observar por horas.
Jungkook desejava agora que todos ainda brincassem na meio da rua, que ele pudesse saber seu nome e que suas mãos tivessem a chance de se tocar sem nenhum dos dois perceberem, ou talvez com a segunda intenção de uma das partes. Ele desejava tanto lembrar seu nome, falar com ele sem parecer estranho.
Jungkook estava preso nos seus pensamentos, e o garoto abriu os olhos, subitamente deitando de costas na grama. Ele não tinha muita expressão mas passava um ar de calma. Ele pensou em descer até lá, o observar de mais perto, poder ver melhor o tom do seu cabelo, que poderia ganhar mais cor além de vermelho desbotado.
Seus turbilhões de pensamentos, que eram tão calmos mas apareciam tão rápido, e cada vez mexiam mais consigo, foram interrompidos. Sem dar chance de resposta depois de bater na porta, sua mãe a abriu, colocando metade do corpo para dentro do quarto.
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| Nunca Fui Beijado | Taekook
FanfictionEnquanto ele observava da sua janela o excelso, percebeu que nutria sentimentos, só ainda não sabia sua intensidade. Se tornou uma espécie de obsessão mais do que uma das coleções de sua memória, uma da qual não saia da sua cabeça. Um deles sequer s...