Novos contatos mudam vidas. Pessoas são apresentadas às outras e assim se conhecem as figuras e rostos e nomes que farão parte desse futuro que nós definimos com uma palavra bonita: destino. Não é algo incomum. O amigo do amigo. Fulano que apresentou ciclano. Joãozinho que apresentou José. Ivan que apresentou Paul McCartney à John Lennon.
Não me leve à mal, esse encontro obviamente nos trouxe grandes histórias, ótimas obras de arte e, principalmente, a banda mais famosa da história. Mas, querendo ou não, eram duas pessoas... Comuns. E em 1958 ainda não se teria ideia da grandiosidade dos Beatles – que nem ao menos se chamavam Beatles.
Havia sido meses atrás, em julho, mas alguma coisa dentro de Paul o fazia agir e tremer e se sentir tão nervoso perto de John, de forma idêntica à primeira vez que se viram, na salinha dos fundos da igreja Saint Pete. O frio na barriga era o mesmo. As palavras gaguejadas e risadas nervosas eram as mesmas. O deslumbramento e euforia interna eram os mesmos. Porque eles eram os mesmos – e, mesmo não acreditando nisso, sempre seriam.
Estavam em um salão vasto onde a idade média era em torno de 67 anos. John já havia esgotado o seu estoque de piadas sobre velhos – cheiro de talco, viagra e coisas relativas a fraldas foram as primeiras, depois ele foi aprimorando. Era uma confraternização de Natal organizada na igreja que dona Louise Harrison, mãe de George, frequentava. No canto do salão, estava Paul, John e Pete; trabalhados em vaselinas e peças de couro, destoando drasticamente do resto das pessoas ali, envoltas de fofura e naftalina.
Por que estavam ali? Obrigada por perguntar, caro leitor! George ainda era um jovenzinho recém integrante do Time Da Puberdade e, como todo rockstar menor de idade, tinha que ajudar a distribuir biscoitos de damasco, amendoins e copos de chá com leite para então, só depois disso, poder destruir o patrimônio público, quebrar guitarras em palcos sujos e contrair doenças venéreas.
- Eu não acredito que esse pirralho nos meteu nisso. – Pete bufou e cruzou os braços.
- Oh, Pete... Já desistiu de encontrar a próxima pretendente aqui? – John provocou e Paul riu.
- Você é nojento. – Pete riu um pouco, empurrando o braço do amigo.
- Ele já deve estar acabando, olha lá... – Paul apontou discretamente para George, que estava do outro lado da sala com uma bandeja e uma cara entediada. – Deve ser a décima rodada de biscoitos.
- Eu não sabia que velhos comiam tanto. – Provocou Lennon, mais uma vez.
- Você não gosta de velhinhos, Johnny? – Pete brincou com uma voz fina e aguda.
- Eles é que não gostam de mim. – Rebateu, ainda divertido. – Não tenho nada contra eles. Inclusive acho eles bem macios.
Paul riu mais alto do que nunca do comentário inesperado. Uma risada gostosa, boa de se ouvir. Seus olhos fechados não perceberam quando John o olhou, sorrindo também. Nunca perceberiam, mas o momento foi admirável.
Antes que Lennon pudesse abrir a boca e fazer mais um comentário, uma senhorinha se aproximou. Ela estava bem arrumada em um vestido azul bebê e casaquinho preto. Curtinha e com cabelos que mais pareciam uma nuvenzinha de algodão, usou um sorriso fofo de cumprimento.
- Será que algum dos rapazes poderia me acompanhar em uma dança?
Paul ainda ria, mas tentava se recuperar para se levantar e acompanhar a senhora. Entretanto, a língua afiada de John sempre era mais rápida.
- Que sorte que você chegou! Esse é meu amigo Pete – Apontou para o mesmo – e ele está à procura de alguma gatinha para ser a futura Senhora Shoton!
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não sei dançar [mclennon]
Fanfiction"Sim, sou um grande fingido/Rindo e alegre como um palhaço/Eu pareço ser o que não sou, veja você/Eu estou usando meu coração como uma coroa/Fingindo que você ainda está por perto." Um documento não-oficial de todas as danças que John Lennon e Paul...