Uma Carta Esquecida Pelo Tempo

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Fazia algum tempo desde a última vez que passei em frente a Praça Liberdade. Se havia um lugar impregnado de lembranças com relação ao meu passado, definitivamente aquele era um deles. As árvores pareciam as mesmas, assim como os bancos, postes...

Tanta coisa estava diferente na minha vida, quase me nego a acreditar no quanto algumas partes ainda se mantém iguais.

Uma mensagem chega em meu celular. Olho e... Priscila. Ela escreveu:

AAAAAAAAAAAAAA. Não acredito que chegou. MEU DEUS, FAZEM QUATRO ANOS, VI. Q-U-A-T-R-O A-N-O-S. VOCÊ JÁ PAROU PARA PENSAR NISSO?

Na verdade, pensei sim, principalmente quando Priscila me contou sobre o pedido de casamento que seu namorado Eduardo havia feito, e quando ela reforçou o seu berro ao dizer "SIMMMMMMM", um pouco antes dela também berrar na vídeo-chamada: VOCÊ PODE SER MEU PADRINHO DE CASAMENTO, VI? POR FAVOOOOOR, VOCÊ PRECISA VIR PARA O MEU CASAMENTO!

O problema ao confirmar presença era simples, eu não estava no Brasil, faziam quase quatro anos desde minha partida ao Canadá pelo desejo de estudar fora e fazer intercâmbio. O ano letivo canadense não estava no fim, simplesmente não tinha a menor possibilidade de comparecer no casamento de Priscila em abril. Mas um feriado universitário caiu justo na semana da cerimônia.

Coincidência demais.

Eu tenho seis dias livres. Na verdade, quatro, pois os outros dois estão destinados ao cruzar céus e oceanos para me deslocar entre os dois pontos; origem e destino.

Respondo Priscila com um simples:

NÃO CONSIGO ACREDITAR.

Q

U

A

T

R

O

...

A

N

O

S

!

Ela responde perguntando se já cheguei no hotel e a resposta é um NÃO. O taxista embora houvesse dito conhecer Belo Horizonte como a palma da mão, parece meio perdido com relação ao endereço mostrado. Estamos rodando há trinta minutos no centro e ainda nada. Talvez o trânsito movimentado ajude na concepção de parecer perdido. Embora ainda fosse quinta-feira.

O celular vibra loucamente. Priscila deve ter cansado das mensagens, pois está me ligando.

- VICENTEEEEEE. CADÊ VOCÊ?

- Não sei exatamente, talvez eu demore um pouco para chegar...

- Estamos quase chegando - intervém o taxista.

Graças a Deus!

- Estou chegando.

- Seu hotel é o Glória do Rubi, certo?

- Aham.

- Okay, tchau!

Estranho suas falas aceleradas. Priscila havia dito veemente que estaria completamente atolada com as responsabilidades do casamento e de forma alguma poderia me ver hoje, mas talvez fosse apenas curiosidade. O casamento era depois de amanhã. Ela não teria tempo para uma aparição surpresa.

ELA TEVE TEMPO PARA UMA APARIÇÃO SURPRESA, foi o primeiro pensamento que tive quando avistei ela e um grupo próximo.

- Não acredito. Não acredito. NÃO ACREDITO! - sua energia era contagiante e seu abraço foi tão gostoso quanto o de um jovem canadense do qual eu sentia uma tremenda falta naquele momento.

Uma Carta Esquecida Pelo TempoWhere stories live. Discover now