last christmas • vmin

último natal

No último natal, eu acabei entregando meu coração para alguém que não merecia. Então, após ter me decepcionado com o amor, decidi que esse ano o darei para alguém especial, assim eu posso me salvar das lágrimas e arrependimentos. Dessa forma, poderei me livrar da imagem assombrosa de Jeon Jungkook, que vem me atormentando desde o ano passado.

Eu já havia escrito minha carta para o velhinho no trenó. Não que eu acreditasse, com meus dezoito anos, nele, mas meus pais gostavam de pensar que sim, então preferia manter essa fantasia absurda para alegrá-los na noite de natal. Há um tempo, descobri que eles me perguntavam o que eu pedi para o Papai Noel e apenas jogavam minhas cartas em uma caixa no sótão – a qual eu descobri vasculhando o local.

Encontrei minhas cartas e deduzi que, na verdade, eles nem as liam. Pensei que, talvez, no início, eles até deveriam se dar ao trabalho de abrir cada cartinha com glitter em cima e examinar os mínimos detalhes da minha letra, as palavras, a forma fofa como eu assinava meu nome. Mas, com o passar do tempo, eles acabaram cansando, então deixavam elas lacradas naquela caixa de papelão, esperando nunca ser descobertas com o lacre intacto que eu deixo.

Para brincar com as coisas, acabei pedindo algo que eu sei que nunca mais terei de volta. Disse aos meus pais que queria uma câmera fotográfica e um tripé, mas, na carta, escrevi outra coisa. Agora estou andando pelas ruas de Busan, na véspera de Natal, com uma garrafa de soju na mão e cambaleando de um lado para o outro, com as memórias de alguém distante na cabeça. Alguém que eu queria encontrar. Alguém que eu amo.

Me encostei na parede amarela do estabelecimento vinte e quatro horas, sentindo o tempo gelado bater contra meu rosto. Fechei os olhos, apreciando a brisa. Por mais que ela estivesse horrível para qualquer ser humano normal, eu apreciava. Uma vez me disseram que eu amava tudo que me fazia sofrer, e hoje em dia não tenho a menor dúvida disso, devido a todas as experiências que já passei.

Passos abafados pela neve foram, de alguma forma, captados pelos meus ouvidos. Eu abri os olhos lentamente, olhando para o lado e encarando o garoto baixinho dos fios marrons, bem na minha frente. Minha mente quer que eu acredite que aquela foi só uma infeliz coincidência, mas, internamente, eu sei que não foi. Eu queria encontrar Jimin ali. Conhecia o estabelecimento que ele trabalhava há anos, não teria simplesmente confundido com qualquer outro.

Eu estava lá, olhando nos olhos de Jimin, depois de todos aqueles quatro anos. Ele parecia assustado em me ver, pois seus olhos continuavam da mesma forma: arregalados. Ao contrário dele, eu sorria, porque fazia muito tempo que eu não o via. Busan não é muito grande, mas nos evitávamos ao máximo. Eu fazia de tudo para ir nos lugares em que ele frequentava e tenho absoluta certeza que ele pensava da mesma forma. Os dois não iam a lugar nenhum.

O Natal perdeu a graça depois que eu e Jimin nos afastamos e eu perdi o meu melhor amigo, além do meu único e primeiro amor. Todo dia de véspera, naquele mesmo horário, a família dele ia para minha casa e passávamos a noite acordados, esperando pelo Papai Noel – que ambos sabíamos que não viria – enquanto tomávamos picolé no telhado e ele reclamava de estarmos tomando algo frio naquele tempo. Depois que ele se foi, a celebração passou a ser apenas mais um dia comum na minha vida pacata.

– Oi, Jiminnie – falei com um sorriso de orelha a orelha.

– Você está bêbado, não está? – perguntou, dando um suspiro decepcionado.

– Quando tínhamos catorze anos, eu te disse que nunca iria beber.

– Quebrou sua promessa?

– Talvez...

Seus olhos continham preocupação, entretanto havia um pouco de brilho neles, e eu soube que ele estava prestes a chorar. Tantos anos sem me ver para depois reaparecer em sua vida dessa forma... realmente deve ser um choque para ele, mas eu precisava vê-lo, nem que apenas uma última vez. Eu tinha que dizer todas as palavras que guardei em meu coração durante quatro anos. Ele vestiu o casaco que estava no ombro, respirando fundo.