Park Jimin Is missing.

You'll Run

Os olhos de Hoseok demoraram a se ajustar à pouca luz do ambiente, o chão sujo de poeira, terra e líquidos que nem mesmo gostaria de saber o que eram, parecia a única coisa que dava características ao local sem móveis, algo pingava da parede e o local fedia a podre, assustava o tanto que sua cabeça doía e aquele cheiro apenas piorava tudo, o barulho dos pingos se chocando com a poça enquanto caíam da parede já começava a o enlouquecer, deslizou os dedos pela parte de trás da cabeça e gemeu levemente de dor sentindo o ponto que se encontrava molhado por sangue, latejar.

— Ajuda.—  O sussurro parecia não ter um dono em meio a toda a escuridão e o ruivo cogitou estar tendo alucinações por conta do corte recente, não parecia uma conversa com o outro lado, sem dúvidas saberia, não sentia naquele momento as coisas que sentia quando falava com pessoas que já não estavam em seu plano. — Hoseok?— O sussurro persistiu e o menino arregalou os olhos sentindo as pernas tremendo.

— Quem está aí?

— Seokjin.—  Novamente o sussurro veio e o garoto se levantou em um salto que não sabia ter forças para dar, não fazia ideia de onde iria então por uma questão de segurança passou a engatinhar, não iria correr riscos e pisar no amigo. As lágrimas começavam a rolar pelo próprio rosto e o corpo parecia implorar para ceder, estava drogado, sem dúvidas estava drogado.

— Jinnie... Você tá' machucado?

— Um pouco.

— Por favor continua falando.

— Tem um arame no meu pescoço, está doendo.—  Os sussurros pareciam mais próximos e os toques que dava no chão finalmente acertaram algo que não era o concreto sujo, o corpo molhado da forma que estava causava preocupação, poderia ser sangue e se fosse Seokjin não duraria mais que algumas horas, se fosse água, o local frio o deixaria doente e dificultaria o processo de cura.

— Eu vou cuidar Jinnie, eu... Eu vou te tirar daqui, eu prometo.

— Não vai dar. Você sabe que não, só por favor me ajude com isso, se doesse menos eu já me sentiria aliviado.—  Os sussurros ficavam cada vez mais baixos e os soluços de Hoseok cobriam todos eles, nem mesmo se importava com os cortes feitos em suas mãos enquanto retirava o arame apertado do pescoço delicado do -apenas alguns meses- mais velho, ao finalmente conseguir se livrar completamente do fio, se permitiu abraçar o corpo mole de Seokjin contra o próprio, que se balançava de vez em quando por conta do choro intenso, não podia perder a ele também.

— Pare de dizer besteiras, nós vamos sair daqui, você não pode deixar a gente, Jinnie, nós já perdemos demais.

— Ele está voltando, Seok, estava aqui a pouco tempo, disse que iria finalizar o trabalho. — O mais velho permaneceu a sussurrar e deixou que um suspiro aliviado seguisse a frase, não ter mais os arames furando seu pescoço já o aliviava de forma abrupta.— Ele me esfaqueou umas 3 vezes, eu bati nele... foi a uns 15 minutos, eu acho que não vou passar disso Hobi. Escuta o que eu vou dizer, eu vou tentar brigar com ele outra vez quando ele chegar aqui e então você vai correr o mais rápido que conseguir, okay?

— Para de falar merda. Você tem que me ouvir, acha que consegue levantar?

— Talvez.

— Ele disse que voltaria em breve, você está ferido, Seokjin, quando ele chegar aqui eu quero que você não respire, não se mova, nada, você precisa sair assim que não conseguir mais me ouvir, eu vou tentar gritar por todo o caminho, okay? Tente achar alguém, alguma casa, um carro, um telefone...

— E você? Eu não posso deixar você.

— Diga ao Yoongi que eu estou usando o relógio.— Não demorou para que pudessem ouvir o barulho da porta rangendo, não era muito difícil encenar a dor que estava demonstrando sentir, tinha Seokjin quase morto em seus braços e provavelmente em breve estaria da mesma forma, não havia cuidado de Yoongi, dito à mãe que a amava uma última vez, lágrimas não eram difíceis, lembrava-se de Park Jimin, seu melhor amigo, como havia sido tirado desse mundo de forma tão brutal por alguém que confiava tanto.

— VOCÊ MATOU ELE, SEU FILHO DA PUTA.—  O ruivo gritou com todas as forças restantes em seu corpo e soluçou ainda mais pesadamente, o rosto do homem que o havia visto crescer não demonstrando emoção alguma, parecia tranquilo como um perfeito inocente.—  POR QUE MERDA VOCÊ TÁ' FAZENDO ISSO? 

— Cala a porra da sua boca e vem comigo, aberração.—  A voz grave finalmente foi ouvida e então percebeu consigo mesmo, sempre havia o temido. — Depois eu cuido do outro monstro, anda logo, SAI.—  Escutou-o bradar e em seguida os passos para trás de si, o chute forte nas costas já doídas, ao menos não era com Seokjin, faria o que precisasse. Levantou-se como mandado e então caminhou em direção à saída, sentindo as vistas arderem, assim como o corpo doer inteiro, naquele momento preferia estar morto, então percebeu o homem tirar chaves do bolso, não podia deixar que trancasse o amigo, não iria, como se seu corpo entrasse em piloto automático tudo que conseguiu fazer foi correr, correr não por sua vida, como diriam popularmente, mas pela de Seokjin, não deixando de cumprir sua promessa e gritando, como se sua vida dependesse disso.

Conseguia ouvir o homem correndo atrás de si por entre as plantas e nem mesmo sabia onde estava indo, se sentia uma presa, a ausência de luz não ajudava, a noite parecia naquele momento, sua maior inimiga, então aconteceu, um, dois, e o terceiro tiro acertou em cheio no braço, se sentia humilhado, sujo, sentia dor, sentia tristeza, por que aquilo estava acontecendo quando não havia feito nada errado?

O cabelo vermelho tão bonito era agarrado naquele momento pelos dedos ásperos do trabalho feito pelas mãos agora sujas de sangue, muito sangue, Hoseok estava sendo arrastado, mas naquele momento tinha a certeza de que: mesmo que não amanhecesse vivo, havia cumprido sua promessa e salvo Seokjin.

                                                                                    —X— 

Jungkook já conseguia ver a fumaça enquanto dobrava a esquina, as pernas funcionavam mais rápido que o normal e apesar de ver o caminhão do corpo de bombeiros na rua, não via ninguém se movendo para entrar.

— POR QUE NÃO TEM NINGUÉM ENTRANDO LÁ?

— Meu jovem, se acalme, estamos controlando o fogo e...

— FODA-SE, EU NÃO VOU PERDER MAIS UM.— De nada adiantou a tentativa dos bombeiros de conterem o garoto de entrar na casa em chamas, sem proteção, sem treinamento, era suicídio. Não demorou muito para que pudesse ver os empecilhos, vestiu o capuz do casaco e o fechou em torno do rosto usando para que não respirasse muito da fumaça, um pano de prato foi tudo que conseguiu agarrar enquanto corria para as escadas, onde teve de desviar de um pedaço do teto que cedia. O trajeto até o quarto de Yoongi era curto mas naquele momento parecia como uma longa viagem, tudo estalava em câmera lenta e era doloroso. 

Quando finalmente conseguiu estar em frente à porta do amigo, levou a mão à maçaneta e a puxou rapidamente  de volta para o próprio corpo, estava quente demais, chutou com força a madeira duas vezes antes que a fechadura cedesse finalmente, o fogo cobria ao menos 60% do quarto e o pânico, 100.

Yoongi permanecia desacordado, arrastou-o para fora da cama e enrolou o pano de prato em volta da mão algumas vezes, os socos fortes na janela foram suficientes para fazerem com que ela se transformasse em pequenos cacos, passou o amigo primeiro e em seguida a si mesmo, com muita dificuldade, os acenos desesperados não demoraram a ser notados pelos bombeiros, retiraram a Yoongi primeiro e em uma questão de segundos, a si, mas estava longe de descansar.

Enquanto o amigo recebia os cuidados de emergência o discador de seu celular funcionava com a foto de Namjoon estampada nele, e quando finalmente ouviu uma resposta do outro lado da linha, nem mesmo esperou.

— Levaram o Seokjin, Namjoon, o Hoseok também, Yoongi está na ambulância e é minha culpa.

— J-Jin? S-sua culpa?

— Eu estava lá, ele achou que eu tinha deixado um gravador lá, Namjoon, eu pude ouvir, claro como o dia...

"Vou ser preso, mas vou lhe deixar por último, eu quero que você sofra vendo essas aberrações morrerem como eu sofri vendo você transformar meu filho em uma delas. E como eu fiz uma vez continuarei fazendo, retirando as partes ruins para não estragarem as boas. Você é o último, "Amor"  ."