DANIEL15 de dezembro
Depois de alguns dias amuada e desanimada, Fernanda finalmente começa a se adaptar. Ela ainda não quer saber de decorar nada comigo, no entanto. Pelo menos consigo ver seu sorriso sempre que a deixo desenhar na minha mesa. Infelizmente não é o suficiente, pois sinto todos os dias que estou me esforçando para dar um passo de dois centímetros. Desvio das perguntas sobre o porquê de ela estar aqui, sobre não estar com a mãe ou os avós e milhares de outras que a fazem triste e me deixam mais cansado. Por isso, tentando fazê-la um pouco mais feliz, decido levá-la ao shopping para ver o Papai Noel. Não é a melhor das ideias, tenho que admitir. Mas é o melhor que consigo, então tem que servir.
— Uau! — digo ao chegarmos em frente à imensa árvore de Natal, que vai até cinco andares acima, e à poltrona vermelha, que está envolta por pessoas fantasiadas de elfos e uma fila com umas trinta crianças. — Veja quantos elfos e bonecos de neve!
Ela dá um sorriso tímido e passa os dedinhos nas decorações. Eu esperava, quando tive a ideia de trazê-la, que ela se animasse mais com o feriado. Todas as crianças parecem ter bebido garrafas e garrafas de cafeína pura nessa época do ano, esperando os presentes, as músicas e todo o clima natalino. Eu queria que ela começasse a ficar um pouco assim, só que com menos intensidade, é claro. E parece que está funcionando.
— O que acha de montarmos uma dessa lá no apartamento? — levanto as sobrancelhas, parecendo bem sério.
Fernanda franze a testa e analisa a planta sintética até o topo.
— Não dá! Ela é grandooona — ela abre os braços. — e sua casa é pequeniniiinha — seus dedinhos se aproximam até estarem a apenas meio centímetro.
— Ai — levo a mão ao peito. — Me magoou. E à minha casa.
Ela solta um riso tão gostoso que me faz sorrir da forma mais tola que consigo. É uma vitória pequena, mas ainda assim uma vitória.
— Posso... falar com ele? — pergunta insegura.
— Com quem?
— Você sabe — Fernanda olha para o velhinho e volta para mim.
— Ah, você quer conversar com o elfo!
— Não! — ela me puxa para perto. — Com o Papai Noel!
— Ah, o Papai Noel! Espera, ele está aqui? Eu não o vi!
— Ali, ali! — ela tenta ser discreta, mas não consegue.
Rio de sua empolgação e seguro sua mão, acompanhando-a ao final da fila1.
— E o que você irá pedir a ele?
— Não posso falar senão a magia acaba, Dan.
Isso é uma novidade. Ela nunca havia me chamado por um apelido antes. Sinto um nó na garganta, mas finjo que é apenas uma poeira e pigarreio.
— Eu tinha me esquecido disso, me desculpa.
— Tudo bem — ela dá tapinhas em meu braço tatuado.
Essa menina é uma figura.
Quando chega a vez dela se sentar junto ao Papai Noel, fazer um pedido e tirar uma foto, sua boca desmancha o sorriso que antes estava ali. Mas, apesar de levemente triste, ela parece determinada. Sinto que o pedido é bem importante para Fernanda. Talvez algum brinquedo novo tenha lançado e meus pais prometeram dá-lo a ela. Deus, espero que não seja nada da Peppa Pig.
Observo-a dar passinhos decididos, mas com um balançar engraçado infantil. Ela anda que nem Felipe quando era pequeno. E após se sentar na poltrona e cochichar no ouvido do velhinho com uma seriedade que eu nunca havia visto, Fernanda corre em minha direção e me puxa pela mão.
— Está na sua vez de fazer o pedido!
— Minha? Mas eu não sou mais criança, Nanda, e adultos não recebem presentes do Papai Noel.
— Claro que pode, ele é muito bonzinho... nunca ouviu a música? — ela me empurra até onde ele está, atrapalhando o próximo garotinho, que ficou extremamente irritado.
— Faz que nem eu, é só pedir! Mas tem que querer de verdade pra ter magia.
— Tudo bem, tudo bem! — eu me rendo e vou até o senhor pedir desculpas.
No entanto, quando chego perto dele, vejo seu rosto parecendo preocupado.
— Que bom que veio — o homem coloca a mão em meu ombro. — Sua filha me fez um pedido um tanto... inusitado. Achei melhor chamá-lo aqui.
Então ele havia me chamado até lá por Fernanda? Meu cérebro começa a pensar em tudo o que ela poderia ter falado, mas nada de estranho ou incomum vem à mente. Ao menos que... será que ela tinha pedido para voltar para casa? Ela não está gostando tanto de ficar comigo, afinal. E com razão, devo dizer.
— Ela disse que neste Natal queria ver a "mamãe". Eu não sei qual é a situação de vocês dois, mas esse não parece ser um pedido difícil de realizar. Ela pediu com muita vontade. Talvez fosse melhor você falar com a mãe.
Olho de relance para a menina, que segura a mão de uma mulher vestida de elfo. Seu olhar é distante e triste, nada próprio de uma criança da sua idade. Ela deveria estar sorrindo, pulando para cá e para lá, fazendo desenhos impossíveis de se decifrar, brincando com os amiguinhos... não assim. Ela deveria estar passando o Natal com a mãe, montando a árvore junto a ela, comendo rabanadas e panetones e recebendo toneladas de presentes. Ela merece tudo isso, mas não tem nada. Só a mim, um homem inútil que não sabe fazer nenhuma dessas coisas.
— Obrigado por avisar, tentarei resolver isso — agradeço ao senhor com a voz vacilante.
Não adianta negar, eu estou uma bagunça de emoções por dentro. Respiro fundo.
Volto para o lado de Fernanda e estendo-lhe a mão, que ela aceita sem pensar duas vezes, o que faz meu coração se aquecer. Assim, passeamos pelo shopping um pouco e logo decido ir embora, já que fica cansativo para nós dois. Além disso, parece que o mundo lá fora está acabando e todas as pessoas resolveram arranjar abrigo ali. O lugar está lotado de maníacos consumidores e crianças descontroladas. Olhando o caos em nossa volta, até parece que as pessoas que dizem que o Natal é apenas uma data comercial feita para alimentar as entranhas do capitalismo não são tão alucinadas assim.
Quando saímos, somos atingidos por um bafo quente e raios solares no rosto. Esse calor deveria ser proibido, sinceramente. Eu nunca me acostumo ao clima carioca e acredito que jamais irei. Vejo que Fernanda leva uma mãozinha à testa para limpar o suor.
— Ei, tenho uma ideia. O que acha de tomarmos um sorvete?
O sorriso que recebo de volta é mais radiante que o sol sobre nós.
Oiii, gente! Eu sei que o capítulo está curtinho, mas o próximo vai ser mais longo e mais importante. Daniel e Fernanda vão se encontrar com Gabriela e algumas coisinhas vão acontecer. Algum palpite?Nos vemos no próximo capítulo! Sintam-se à vontade para comentar o que acharam e, se gostaram, uma estrelinha me deixaria bem feliz! 🌟❤️
Até dia 16/12! Beijinhos natalinos ❤️🎄
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O sabor do Natal - Concluído
Short StoryGabriela Oliveira sempre achou as tradições natalinas de sua família um tanto bregas e vergonhosas, mas quando sua mãe anuncia mudanças no feriado, ela percebe o quanto estava acostumada a elas. De uma hora para outra, Gabi tem que mudar todo o seu...