Capítulo 1: Crush

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"Por que eu ainda me meto nessas coisas?" Me perguntava, enquanto passava pelo estreito corredor de Bugjjog Public School, mal me importando com a mochila aberta e o sapato desamarrado. "Aliás, por que os corredores não podiam estar vazios?" 

Apertei o passo ao ouvir risadinhas de um grupo que estava recostado a alguns armários. Abaixei a cabeça e senti uma lágrima fria descer por meu rosto, e não ousei levantar a face até ter certeza de que ninguém me cercava. Peguei o celular em um instante, o arrancando de meu bolso como se tudo dependesse dele. Escrevi uma mensagem, ignorando os erros de ortografia e as lágrimas que agora inundavam meu rosto.

Guardei o aparelho e logo estava correndo novamente, agora para longe dali, enquanto apenas um rosto aparecia em minha mente: o de Lalisa Manoban.

***

A chuva singela que batia calmamente nas grandes janelas da sala de ciências me trazia um sono excepcional, meus olhos quase se fechando ao som das gotas atingindo o vidro. Não é como se a professora se importasse, é claro, ela estava mais ocupada lendo provas de outras turmas, pois já disse que nossa sala é simplesmente um caso perdido.
O cômodo, porém, estava praticamente vazio; somente alunos que realmente se importavam com as aulas estavam lá. O começo do ano escolar é simplesmente inútil, mas sendo a boa garota que sou, não posso faltar na faculdade. Afinal, se realmente quero ser alguém na vida, tenho que começar agora.

Voltando ao início, quando estava praticamente dormindo, sinto um leve puxão no cabelo. Me viro, deparando-me com o rosto sorridente de Jennie Kim. Dou uma risadinha ao ver sua doce felicidade, fissurada apenas em me encher o saco.

- Que é? Estou tentando prestar atenção na aula, se você não consegue ver.- Digo, tentando puxar meus cabelos que estavam presos em seus dedos, falhando miseravelmente enquanto sentia a dor de ter os fios puxados.

- Você acha que eu tenho Byakugan? Não consigo ver você por trás, burra. Aliás, dá pra perceber que você está literalmente morta. Um zumbi, eu diria.- Jennie responde, soltando meus cabelos.

- Você acha que só porque viu duas temporadas de Naruto pode sair por aí fazendo referências? Só vou permitir isso quando você terminar o Clássico. Shippuden também, claro.

- Você é nerd demais. Tô pensando em matar aula, o que acha de irmos até o be...

A voz da morena pareceu desaparecer. As palavras foram caindo, morrendo no horizonte infinito que chamamos de tempo, enquanto tudo o que eu via era a porta da sala se abrindo e uma figura maravilhosamente perfeita adentrando a sala de aula, com cabelos pretos cacheados caindo sob seus ombros e uma franja bagunçada quase cobrindo seus olhos amendoados. A aura que a garota transmitia era incrível, ela parecia flutuar e  seu sorriso era simplesmente encantador.

Observei cada passo daquela deusa como se fosse a primeira vez, a vi caminhar até minha direção e se sentar em minha diagonal direita. Ofego levemente, dissipando as imagens nem um pouco puras que apareciam em minha mente agora. Pra que meus pais ainda me levam na igreja?

- Limpa a baba, tábua.- Jennie sussura em minha orelha, rindo da minha cara de mongolóide. É óbvio que minha melhor amiga sabe de minha paixão totalmente (não) secreta que nutro desde sempre, e é óbvio que ela ainda me zoa por conta disso. Suspiro, rindo um pouco da minha cara de pau, e me viro novamente para frente, focando na aula. Ouço Jennie reclamar atrás de mim, murmurando algo sobre eu a abandonar nos momentos mais difíceis- no caso, essa aula insuportável.

O tempo se arrasta. Mais dois tempos de ciências, recreio, horas de aulas em que não aprendi nada e, finalmente, a única parte interessante do meu dia: a ida ao beco.

- Vocês acreditam que ela ainda é apaixonada pela Manoban? Depois de milênios sendo rejeitada, a Chae não desiste!- Jennie ri, conversando com nossos amigos mais próximos: Jisoo, Jackson e Jeongyeon. Pois é, não me perguntem como tanta gente diferente se conheceu assim, eu ainda tento achar resposta para isso.

- Ela nunca foi rejeitada, afinal. A Lalisa só não sabe que ela existe.- Jackson diz, sorrindo por trás do cigarro.

- Obrigada pela parte que me toca. E, aliás, eu não gosto dela de verdade, é só um amor platônico.- Repondo, tossindo por conta da fumaça.

- Não começa com essa viadagem de tossir perto de fumante, nem eu faço isso.- Jeongyeon diz, sorrindo e bebendo algo de uma garrafa escura.

- Espero que todos vocês morram de câncer no pulmão. Vou pra casa, tenho que estudar, já que não aprendi nada nessa desgraça de faculdade. O que acham de sairmos mais tarde?- Pergunto, já saindo de nosso esconderijo extremamente bem arquitetado. Não espero por uma resposta, já sei que vão me encher no whatsapp durante um bom tempo. Sorrio, indo ao estacionamento escolar onde estacionei minha bicicleta, só para lembrar que hoje cheguei de carona. "É claro, sua acéfala." Penso, resmungando. "Hoje estava chovendo. Você não filosofou na aula inteira sobre isso?"
Penso em ligar para a mamãe, mas ela com certeza iria sentir o cheiro de cigarro em minhas roupas. Mesmo que eu não fume, o cheiro não sai de jeito nenhum. Sério, vocês já tentaram não ficar chapados ao lado de um maconheiro? É, o único jeito vai ser andar.

Olho para os lados, esperando que alguém surja dos confins do inferno para me ajudar, mas só vejo o carro de Lisa estacionado na última vaga. Tipo, não é como se eu fosse maluca, mas talvez tenha decorado a placa do carro dela e talvez saiba tudo sobre esse modelo antigo e morra de vontade de andar nele... Não, claro que não.

Balanço a cabeça, suspirando. Correr na chuva até seria emocionante, se eu não vivesse com a imunidade baixa desde sempre e ficasse doente com qualquer coisinha.

"É agora, Rosé. Agora você sai correndo, passa por aquele toldo, corre mais um pouco, passa por baixo do outro toldo, corre uns bilhões de quilômetros e fica doente para o resto da vida." Penso, arquitetando meu incrível plano. Rio da minha burrice, já pegando impulso para correr, quando ouço alguém me chamar.

- Ei, Roseanne.

Meu deus. Meu. Deus. É agora. A Lisa vai me dar uma carona. Jesus Cristo, me ajude.

Me viro, dando meu melhor sorriso. Lisa está lá, parada ao lado de seu carro, e devolve com um sorriso caloroso.

- A chuva tá forte, né?- E então, some dentro do carro, dando a partida e saindo do estacionamento logo em seguida.

Então, finalmente, com minha última fagulha de esperança apagada, ignoro totalmente meu incrível plano e corro pela calçada, mal me importando com meu nariz já escorrendo.

"Pelo menos ela falou comigo. Ela até sabe meu nome!" Penso, sorrindo boba. Que cliché...




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Cliché: A Chaelisa FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora