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  Todo o meu corpo dói, está pesado. Minha boca está com gosto de sangue, sinto que estou encharcada por um líquido estranho. Não abri os olhos ainda, não tenho forças. O alarme do meu celular toca, está muito alto, sinto o som ir e voltar no meu cérebro.

  Abro os olhos. Estou coberta por sangue. Muito sangue. Toda a minha cama,  vermelho escuro. Puta merda, o que aconteceu aqui? O que eu fiz?

  Me levanto, meu corpo nem dói mais, eu não tenho nenhum sinal de estar machucada. Só tem sangue demais onde não deveria estar. Como eu cheguei em casa? eu não consigo me lembrar de nada.

  Escuto o barulho de chave. Meu pai. Escuto a porta abrindo como se fosse do meu lado, mas não é. Eu sei que é a de entrada, escuto cada respiração, cada batimento do coração, cada movimento do meu pai.

  O que está acontecendo comigo?

-- filha? ainda está aqui?... está tudo bem?

  Continuo estática ao lado da minha cama, não consigo pronunciar uma palavra sequer. Minha porta está fechada, mas não está trancada, meu pai se aproxima e abre a porta, continuo sem conseguir mexer um músculo, ele aparece e olha a cena, não consigo decifrar a expressão de seu rosto, só sei que não é boa.

-- pensei que você fosse puxar o meu lado da família, mas tudo bem filha. -- ele se aproxima de mim, está calmo, isso é estranho, não consigo reconhecer meu pai.

-- o-o que... eu fiz? Pai me ajuda.

-- vamos limpar essa bagunça e sair daqui, preciso ligar para seu tio. Tome um banho enquanto isso. Vai ficar tudo bem filha. -- ele coloca uma de suas mãos em meu ombro como conforto, assim que tira uma mancha vermelha escura cobre a sua mão.

De quem é esse sangue se ele não é meu? O que meu pai quis dizer com "pensei que você fosse puxar o meu lado da família" ?

  Vou para meu banheiro, prefiro não olhar para a cena sangrenta que ficou para trás. Tomo um banho quente para tentar relaxar, mas a minha pele continua fria, como se eu tivesse tomado um banho gelado. Me sinto diferente, não sei explicar. É uma sensação muito boa, mas eu estou assustada demais para aproveitar ela.

  Tentei não sujar o meu banheiro de sangue, mas é praticamente inevitável que não tenha ficado algumas manchas. 

"como ela esta?"            "eu não tenho muita certeza, ela estava coberta de sangue, pedi para que fosse tomar banho, mas sinceramente ela não parece muito bem"            "ok, melhor ela ficar em casa hoje, chego em dois dias para busca-la"

  Sinceramente? Eu estou amando poder ouvir tão perfeitamente. Meu pai estava na sacada do quarto dele e eu ainda estava me trocando, eu basicamente ouvi a conversa como se eu estivesse no telefone junto deles. Meu quarto continua coberto por sangue, seria mais fácil botar fogo nele do que limpar isso tudo. Desço as escadas, passo pela sala de jantar enorme e super chique que a minha mãe demorou semanas para decorar tudo do jeito que ela queria, basicamente toda a casa - menos o meu quarto - é decorada em tons claros e de aparência clássica é bem bonito, não posso negar. Vou até o jardim e me sento na grama. É muito ruim não conseguir me lembrar de nada após ter sido nocauteada, eu sinto que fiz algo muito ruim, eu provavelmente arruinei a minha vida e nem sei como. 

  -- Não vou nem tentar te assustar como eu fazia antigamente, porque eu sei que você consegue sentir e me ouvir à quilômetros de distancia agora. -- Meu pai diz e se senta ao meu lado na grama.

  -- o que está acontecendo pai? por que você está tão calmo? meu quarto está coberto de sangue e você está agindo como se essa fosse a coisa mais normal do mundo! 

Herança de SangueWhere stories live. Discover now